Deixa-me lançar fora a máscara,
Que aí então serei eu pura.
Agora sim me invade a leveza necessária
E eu já posso levantar vôo.
Por sobre o mundo vejo um outro
Enquanto escrevo sem pretensão,
Sem raciocínio.
Me ocorre pedir aos deuses que quando chegue a hora de deixar papel e caneta para submeter-me à máscara,
Que eu possa caminhar sem pretensão,
Sem raciocínio
Deixando meus pés me levarem para o lugar que mais me apeteça,
Fazendo com que me apeteça qualquer lugar.
Que eu seja do mundo todo – e sendo assim, de mundo algum.
Que meu cérebro funcione sempre, sem jamais dar sinal de vida.
Que todo tempo seja de uso consciente,
Mas que a consciência não ouse me robotizar!
Que venham as vontades de abraços e beijos
E que eu possa supri-las – ou então
É melhor que nem exista vontade de nenhum tipo
Para que não haja dor de nenhum tipo
Que os tempos de festa tenham a mesma freqüência do eterno
Festa por dentro,
Dentro de tudo
De tudo e de todos
Que saibam querer
Que queiram brilhar
Que a música boa seja beltada,
Que o aprendizado seja adquirido,
Que a dificuldade venha na exata medida da nossa força,
Que o pesar seja veloz,
Que todo carnaval tenha fantasia,
Que nenhum beijo seja leviano,
Que todo dia seja réveillon,
Que todo réveillon seja saudadexpectativa
Que todo querer se realize
Em nome de tudo aquilo que é bom
E que toda idéia se torne real
Mesmo que não tenha futuro
Mesmo que gere repulsa
Mesmo que não tenha nenhuma função
Além de simplesmente existir
(Como essa poesia, por exemplo),
Já que "basta existir pra ser completo".