sábado, 28 de setembro de 2013

destinatário certo

Vocês que disseram que estariam lá,
Vocês que até choraram de saudade antecipada,
Vocês que, euforicamente,
disseram que estariam comigo:

onde foi que compraram esse chá da invisibilidade?
Quero apenas saber onde foi
- não me interessa o preço
ou possíveis efeitos colaterais.

Só preciso esconder-me de mim.
Não aguento mais notar que sou igual ao que rechaço.
Não aguento mais sentir na pele o que por tantas vezes critiquei.
Não aguento mais concluir que nossa acomodação é a culpada maior de tudo aquilo que julgamos ser vil.

Arre, estou farta de promessas descumpridas.
Onde é que há gente no mundo?

Ah...
Onde é que há mundo na gente?
Onde é que há concreção na nossa gana pueril de fazer diferente?

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Conforme for

To com fome.

Com tanta fome
Que esqueci o r
E a perninha do m
Que deixavam tudo
Nos conformes

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Melodia açucarada

Vou resumir a história.

O dia em que Maryna veio aqui foi um dia mágico. Um dia de música, risadas e cupcakes. É bem verdade que os cupcakes se assemelhavam à miniaturas torradinhas do Quasímodo, mas o som da música e das risadas trouxe doce o bastante para compensar nossa frustração culinária.

A primeira vez que ouvi essa música, só consegui dizer:
- Mary, que lindo! É exatamente isso! Posso gravar sua música?
E a afirmativa iluminou ainda mais aquela noite linda de festa surpresa.

E um mês depois, lá estávamos nós, cantando. Juntas, como se o ensino médio nunca tivesse terminado.
Sorte ainda nos vermos na UERJ.
Destino, quiçá.

"junto a ti creo que aumenté más de tres kilos con tus tantos dulces besos versos repartidos"

Deliciem-se com todo o mel que essa música tem!



Beijos com uma alta taxa de glicose,
Lu

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Simples

Sei que vai parecer clichê
E é clichê
Hoje o sol se esmerou
Em amanhecer
Brilhou sobre mim
O corre-e-corre cotidiano
E eu me lembrei
De quando eu tinha doze anos
E me sentia muito incapaz
Mas não mais
Deixei pra trás
Feridas que eu fazia questão de conceber
Teorias pré-fabricadas pra me enlouquecer
A fome, a quem eu fingia nem perceber
E o tédio de quem ando até hoje a correr

Sei que vai parecer clichê
E é clichê
A primavera se esmerou
Em florescer
Diferenciar cores:
Não sabia, hoje sei
E eu me lembrei
De quando eu tinha 16
E lia Baudelaire e Allan Poe
Mas não mais
Já acabou
O tempo de me aprisionar em livros bons
O medo de não satisfazer-me com quem sou
A ideia de que só o amor triste é amor
A idade de ignorar que o mundo me chamou

Sei que vai parecer sonhar
E é sonhar
Hoje a chuva me convidou
Pra trovejar
Foi quando aprendi
Que amor é só o que me move
E eu me lembrei que ontem tinha 19
Cheguei a duvidar que existe deus
Cheguei a duvidar que existo eu
Mas não mais
Já disse adeus
À morte que não consegue mais me amedrontar
À rima que não quiser ser pobre pra rimar
Ao mundo que não quiser ser grande pr'eu viajar
À tudo que já insinuou que é ruim sonhar

-  
(a quem interessar possa)

Há um mês fez vinte anos que o mundo me existe. À véspera, numa coxia, uma amiga de vinte e poucos me disse ter surtado na sua passagem de 19 pra 20, ao que respondi: pois eu tô achando o máximo essa história de duas décadas. E estava mesmo, até que deu meia noite. Em um segundo, vinte anos pesaram nas minhas costas, ainda que eu não me lembrasse de cada um deles. Pus-me a pensar: oras, vinte anos de quê? Então fiz-me o favor de ilustrar-me em coisas que me são desde que me entendo por gente. Ei-las: música, laços de fita para o cabelo, tintas com as quais escrevi por toda uma parede do meu quarto, o coração de pelúcia de alguém especial, cartas de outro alguém especial, o empoeirado livro das sombras, fotografias - a vó, a prima, a mãe e a melhor amiga; o teclado, a máscara do Zanni (que significa um universo), a Naninha que já secou muitas lágrimas minhas; Bob, o ursinho, idem; o curso de ling do Saussure, fones gigantes de ouvido, agendas e diário, esmaltes, chapinha, aquele batom laranja, a fita métrica com seus números cruéis e a barrinha de cereal, o bibelô de bailarina, o headband, a Hay Lin e um livro dado e recebido com muito amor. Por fim, penso que essa foto me fotografa melhor do que qualquer retrato do meu rosto. Fico feliz ao perceber que nunca deixei de ser eu. Mais feliz ao perceber que mudei tanto. E ainda mais feliz ao perceber que ainda hei de mudar um bom bocado. Hoje não mando beijos:

Um sonho,
Lu


segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Discordo (de mim)! - Parte II

A vida toda só me faz pensar no quanto a Vida era mais simples na infância. Lá, sim, eu não podia querer ser nada e tinha em mim todos os sonhos do mundo. Eu era Pessoa e nem sabia disso.

É como aquele poema que escrevi em meu diário numa dessas madrugadas insones: não é que eu esteja infeliz. Muitíssimo pelo contrário! Mas a convicção das pessoas sobre pensarem saber o que é melhor pra mim é algo que me incomoda. Me paralisa. Fico sem jeito, sem retórica, sem argumento. Digo, os contra-argumentos existem - em massa! -, mas ficam todos congelados, perplexos, perante a intolerância de quem só deveria ser abraço.

chove.
é madrugada e estou insone.
sinos esbarram no vento e chega aos meus ouvidos o som de um coro de fadas.
nenhum motivo justifica essa extraordinária ansiedade.

estou feliz e calma. serena.
certa do meu desejo com é certo que as gotas de chuva tocam o chão.
calma ante meu destino como é calmo o som que elas produzem na trajetória.
sou cria, porém, de um tempo em que a prece aflita é, na romaria, a maior canção que se faz ouvir.

um desespero inato me faz elevar em oração minha vontade de que deus se mostre pra mim.
minhas palavras todas saem porcamente da minha caneta,
e sigo feliz e calma. serena.

exatamente como estava antes de desistir de dormir.
só que mais ansiosa. só que menos ansiosa.

                                    




Ah, não... Esse post não é pra ser lido e entendido. Esse post é só um apelo infantil por um mundo onde a maior preocupação das pessoas seja qual cupcake comer primeiro.

sábado, 7 de setembro de 2013

Discordo (de mim)!

Dia desses enviei umas fotos e minhas medidas para uma agência. Nunca quis ser modelo, mas essas agências podem ser úteis para encaminhar atores à mídias onde tais atores tenham mais voz. O fato é que fui chamada para uma avaliação. No lugar, o cara que me avaliou disse que meu rosto é bonito, mas que eu teria que "secar". Segundo ele, barriga e quadril. Chamei mamãe pra me acompanhar e, ao ouvir isso, ela disse: 
- Quadril é genético, não dá pra diminuir - em tom de brincadeira. E o cara:
- Ah, dá sim. É só querer. 

Por fim, me aconselhou a investir em um videobook. Me deu seu cartão e ficou subentendido que, quando secasse, lhe enviasse o videobook e todas as fotos que tivesse. E que providenciasse meu DRT.

Caro leitor anônimo, sou magra. Não magérrima, mas magra. É certo que ganhei cerca de oito quilos nos últimos cinco meses (segundo minha melhor amiga, "namorar engorda, mesmo"), mas nada que comprometa minha saúde ou nem mesmo que me torne gorda, no sentido mais babaca da palavra. Quando mais nova, passei por um distúrbio alimentar e, ao início desse ano, quando tinha cerca de oito quilos a menos, meu corpo parecia o corpo que tinha quando estive anoréxica. Eu parecia doente, e talvez estivesse, mesmo - aquela ressaca amorosa não foi fácil! 

Já sã, engordei para poder doar sangue e "esqueci" de desengordar. Não me preocupei, na verdade. Engordei mais uns quilos além do que precisava pra doar sangue, e não liguei. A anorexia saiu de mim, definitivamente - e afirmo isso com certeza e com orgulho. Doei sangue e não quero voltar a ter menos de 50 quilos. Quero doar sangue mais e mais vezes. Quero me afastar mais e mais da doença.

A questão são as ideologias que divergem dentro da minha própria cabeça. De um lado, entoo mantras e busco praticar o desapego material, me cuidar em corpo, mente e espírito, trabalho para destruir meu ego e as ilusões que vem com ele no pacote. Desse lado, tenho consciência de toda a Maya - de toda a mentira que maquiagem, photoshop, roupas, plumas e paetês criam. E nossos olhos creem, numa ingênua soberba, num mundo aparente feito todo de mentiras.

Do outro lado de mim, entretanto, há uma seção do teatro e de toda arte, de todo palco, que mexe com o meu ego. O mesmo ego que busco destruir dia após dia, rumo à evolução que acredito existir. Imagine como a televisão e tudo o mais não iria mexer!

Disse o moço que eu deveria secar porque tv engorda. E isso é verdade, mesmo. Já me vi em filmagens e sei que sou mais magra do que a tela exibe. Sobre isso, pensei: mas e daí? Quer dizer, e daí se engorda? Qual o problema de não ser esquelético? Qual o problema em ter carne no corpo? Não é esse o normal? Entrar nesse mundo é compactuar com tudo o que eu discordo do sistema. É compactuar com tudo o que um dia me deixou doente. Abaixo de um peso saudável de tão doente.

Suponha-se o seguinte: eu seco os quilos que o homem me aconselhou a secar, sumo com a minha barriga, deixo minha perna dura e meu rosto mais fino. Providencio um videobook, e, com alguma sorte, meu drt e envio-lhe todo meu material ao cara. Sou chamada para uma audição para uma novela na tv. Passo. Ganho o papel, contatos, experiência e uma grana boa. 

Aí, um dia, uma menina de 12 anos, certa de que seus pais não a entendem, cansada dos colegas de escola, insegura de seu potencial liga a tv. Me vê em cena super maquiada, numa roupa caríssima que a emissora enfiou em mim e me admira, sem saber que admira minha personagem, e se entristece, por não ser tão magra, não ter roupas tão legais, não estar tão feliz. Mal sabe ela que, justo naquele dia, eu estava super mal humorada e perdi minha aula favorita na faculdade pra gravar. Mal sabe ela que eu tive que emagrecer pra estar ali e o processo foi sofrido e não me deixou feliz. Mal sabe ela que, por baixo da maquiagem, minha cara é de doente. Acaba a novela e ficam só as inseguranças da menina. E as minhas.

Não é essa a função da arte, sabe? Nem é isso que quero levar pras pessoas. Quero levar o contrário! Quero levar "dá pra ser diferente". Quero levar paz. Quero levar "vamos subverter os conceitos de beleza!". 

Mas não sou ninguém de mais. Quer dizer... Não falo para um contingente considerável de pessoas. Não é como se alguém estivesse me ouvindo. Eu to sozinha. E quero um megafone.

Mas até esse texto aqui, por ser relativamente longo, não vai chegar a muitos olhos.
Eu to sozinha. Tem vários sozinhos iguais a mim. Nossos ideais se perdem em nós mesmos.