quarta-feira, 18 de junho de 2014

Eu ainda lembro

Era aula de geografia. Ensino fundamental II. Daquele professor que dizia que eu era comunista pela bandeira vermelha que eram meus cabelos. Ulisses - tinha que ser esse o nome daquele cara sensacional - conversava com a turma sobre o conceito de "qualidade de vida". Levantei o dedo. Questionei o fato de a medição de qualidade de vida se relacionar com poder aquisitivo e status de um indivíduo. O professor - comunista, por supuesto - olhou pra baixo entre desolado e "você tá certa". Anos depois o encontrei na Cinelândia, numa daquelas manifestações que não eram só por 20 centavos. Ele não me viu, mas vê-lo causou o mesmo turbilhão de sempre dentro de mim.

Continua não sendo só 20 centavos. Qualidade de vida não é poder. Felicidade mora dentro de mim e a correria da cidade não permite que eu mesma me ouça, me toque, me sinta, me cresça.

Vou me desligar do PIBID. Vou distribuir pedaços do céu por aí.  Vou me jogar trabalho voluntário. Não faz sentido ser professora e não dar aula da maneira que eu acredito que valha a pena.

Não faz sentido ter dinheiro pras aulas de dança se não tenho tempo de dançar sequer sábado a noite.

Não dá pra ser atriz nas entranhas e ficar sem fazer teatro. Não dá pra estudar Letras e não ter tempo de ler minhas poesias favoritas quando eu quiser ou precisar.

O tempo está a nosso serviço, e corre lentamente a nosso favor. Quero o tempo dos beijos. Dos olhares. Dos abraços e sorrisos. Quero o tempo do vento, das praias, do mantra agradecido ao universo. Quero o tempo das conciliações.

dhanyavad ♡ gratitud ♡ gratidão

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Flor

Me sinto bem
feliz porque o modernismo atenta pras gotas de chuva
e o celular descarregado me faz atentar pros raios de lua
feliz por pingar em meu prosaico cotidiano doses da cal mais poética de que já se ouviu falar

M

nada é tão imã
quanto um professor
de literatura apaixonado
pelo que ensina

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Sinto muito

Mas quer saber? Não sinto culpa. Sim, você é incrível e meu ego adora que você veja qualquer coisa de poesia em mim. Qualquer coisa que valha a pena. Sim, você é incrível, mas isso não te dá o direito de dizer ao que eu vim e ao que eu não vim pro mundo. Mesmo que eu concorde contigo - e não estou dizendo que concordo. Ainda não me decidi sobre o que penso de mim mesma.

Você tem o direito de ter se sentido ofendido. Até porque, numa coisa está mesmo certo: deixei meu recado claro (ainda que sem querer): não quero compromisso. Com nada. Com ninguém. Com arte nem ciência. Com realidade de nenhum tipo. Comigo. Ninguém.

Sinto muito: tristeza, alegria, raiva, ansiedade, medo, amor. Mas não deixo senão rastros de sonhos em meu travesseiro ao despertar. Culpa alguma mora em mim.

Sinta você.