Era aula de geografia. Ensino fundamental II. Daquele professor que dizia que eu era comunista pela bandeira vermelha que eram meus cabelos. Ulisses - tinha que ser esse o nome daquele cara sensacional - conversava com a turma sobre o conceito de "qualidade de vida". Levantei o dedo. Questionei o fato de a medição de qualidade de vida se relacionar com poder aquisitivo e status de um indivíduo. O professor - comunista, por supuesto - olhou pra baixo entre desolado e "você tá certa". Anos depois o encontrei na Cinelândia, numa daquelas manifestações que não eram só por 20 centavos. Ele não me viu, mas vê-lo causou o mesmo turbilhão de sempre dentro de mim.
Continua não sendo só 20 centavos. Qualidade de vida não é poder. Felicidade mora dentro de mim e a correria da cidade não permite que eu mesma me ouça, me toque, me sinta, me cresça.
Vou me desligar do PIBID. Vou distribuir pedaços do céu por aí. Vou me jogar trabalho voluntário. Não faz sentido ser professora e não dar aula da maneira que eu acredito que valha a pena.
Não faz sentido ter dinheiro pras aulas de dança se não tenho tempo de dançar sequer sábado a noite.
Não dá pra ser atriz nas entranhas e ficar sem fazer teatro. Não dá pra estudar Letras e não ter tempo de ler minhas poesias favoritas quando eu quiser ou precisar.
O tempo está a nosso serviço, e corre lentamente a nosso favor. Quero o tempo dos beijos. Dos olhares. Dos abraços e sorrisos. Quero o tempo do vento, das praias, do mantra agradecido ao universo. Quero o tempo das conciliações.
dhanyavad ♡ gratitud ♡ gratidão