sexta-feira, 25 de julho de 2014

fazdeconta

Amor é coisa feita à mão
costurada com linha de pipa
numa madrugada-cenário de ansiedade existencial.

Caderno é coisa feita pra guardar poesia
que é o que há de acalentar o dia
que o céu ainda nem bem costurou

Caderno feito à mão é coisa feita de-com-por amor

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Desesperadamente eu grito em português

Depois de meses resistindo, finalmente fui fazer as unhas num salão. Acho que foi a segunda vez que fiz isso na vida. Não que eu seja desprendida de vaidades (aliás, não mesmo), mas existem ambientes que definitivamente não combinam comigo, e salão é um deles. Mas fui lá. Era do lado da minha casa, estava com tempo livre, a unha estava uó, etc. Cheguei na hora marcada e a recepcionista disse "vou chamar a profissional, ta bem?". E ANUNCIOU num microfone:
- Profissional Silvana, cliente espera - com aquela voz de telemarketing, sabe?

Fiquei embasbacada com tanta pompa. Só queria dar um trato na unha, po. Me incomoda sinceramente esse papo de "profissional". É difícil pra mim entender a resistência das pessoas em chamar uma manicure de manicure. É a mesma resistência que as faz chamar empregadas/diaristas de "secretária", a mesma resistência que as faz chamar negros/negras de "afrodescendente" ou (essas são de doer) "moreninho", "escurinho". "De cor" (ai).

Caros nativos de língua portuguesa, entendam: se vocês acham que pega mal se referir à alguém como manicure quando ela trabalha pintando unhas, como empregada/diarista se ela vive desse trabalho, como negro ou negra se é a essa etnia que à qual essa pessoa pertence, saibam que vocês estão sendo duplamente preconceituosos. Isso não é ser politicamente correto - é ser hipócrita. Está implícito no discurso de quem chama sua empregada (que é o que ela é já que você a empregou, certo?) de secretária o pavor de que alguém descubra esse tom depreciativo que a palavra empregada adquiriu na mente de quem a evita. A empregada não é menos que você por trabalhar na sua casa. O negro não é menos que o branco (amarelo, vermelho, azul...) que o chama de negro. A manicure não é menos que eu por pintar as minhas unhas - eu vou pagar pelo trabalho no qual ela é especializada e eu sou um terror. Eu sou professora, ela é manicure. Simples assim.

Outra coisa que me incomodou recentemente no uso equivocado que as pessoas fazem da própria língua foi a total descontextualização de um discurso. Olhe, vou pedir um favor: não descontextualize Paulo Freire. Isso é coisa de gente que compartilha Caio F Abreu no facebook dando os créditos à Clarice ou ao Pessoa (nada contra o Caio, pelo contrário, mas respeitemos os cânones e principalmente as autorias, por favor). Retomando: leia Paulo Freire antes de compartilhar uma imagem criticando o PT  (e quero deixar claro que não sou partidária) pra mostrar pros seus amigos da faculdade que você é politizado. Leia porque aí: 1) você vai recobrar sua esperança na humanidade. Freire é o que há. E 2) você vai entender que a intenção dele com aquela frase linda ("Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser opressor") não foi criticar a Dilma nem nenhum político que estivesse sendo alvo de críticas massificadas na época do Pedagogia do Oprimido, senão criticar essa cultura de abuso de poder que temos por aqui.

Pra me redimir, termino com Caio (creditando à Caio, porque é de Caio): que a revolução venha, "e que seja doce".

segunda-feira, 14 de julho de 2014

assim

Tenho vocação
para bocastronomia.
Quero desvendar
as estrelas do teu céu.