segunda-feira, 22 de agosto de 2011

"É preciso exclamar pra que a realidade não canse"

Para ler ouvindo: Scracho - A seu tempo

   Sei bem que não tenho me dedicado ao blog conforme tinha planejado, e o motivo não é uma louca aplicação ao colégio - o rubro boletim que está por vir que o diga. E faço questão de deixar claro que não me orgulho do suposto esquecimento sobre o blog, tampouco do rubor do boletim que virá, mas me orgulho da vontade de citar Clarice: "ser feliz me consome muito".
   Não houve nenhuma mudança de nível cósmico na minha vida desde os tais 18. Mas tem algo de diferente em mim, eu sinto. Como se a Vontade-de-ser-forte tivesse se tornado em Certeza-de-ter-força. Não estava feliz, sei que não. Tanto quanto sei que agora estou. Minha angústia não fez as malas e fugiu, como por anos desejei. Suas roupas estão guardadas no armário e ela está quietinha na cadeira de balanço, fazendo carinho na minha gata, que descansa. Meu Sonho tá é muito acordado, brincando de roda com a minha Alegria, que parece feliz por ser bem vinda em casa novamente. Minha Tristeza foi dormir, tadinha. A Preguiça andou estudando bruxaria e lançou um feitiço na coitada! Minha Compulsão Criativa cutucou meu coração, que, não sei porque, resolveu andar acompanhado de propostas que mesclam wicca, budismo, metamorfoses ambulantes, non-regrette-riens, e uma vontade insana de ser feliz, bem feliz. Parafrasear Piaf, Raul, Mário de Andrade e Pixinguinha ouvindo Scracho não tem explicação. Está tão certo como dois e dois são cinco, e quem irá dizer que não existe razão?
   Quero passar por vários mundos, adentrar nos que me apetecerem, ficar por lá o tempo que quiser, e voltar pra casa quando sentir saudade das pantufas e dos ursinhos de pelúcia. Como já fiz a faxina que tinha me proposto a fazer, e ainda trouxe um botão de rosa bem bonito pra pôr em cima do piano, me despeço de casa novamente, exclamativa. Mas, é claro, deixando portas e janelas bem abertas, que é pra arejar a rotina.

Lilás

Punha-se a pensar nela, na esperança vã de que ela se materializasse na sua frente.
Beijo ansioso pra acontecer... Era amor.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Marani

(Poema escrito dia 28.07.2010, quando meus pais disseram, finalmente, que eu poderia ter uma gata.)
Falo algumas bobagens,
me esqueço de sorrir
De vez em quando um passo em falso
deixo a lágrima cair.

Escrevo, canto, entro em cena,
tenho vontade de sumir
Idealizo cada coisa
e saio andando por aí

Me desespero e tranquilizo,
piro no show da Anahí
Agradeço sempre à Deusa
por ter chegado até aqui

Leio livros até a metade,
passo noites sem dormir,
entre outras coisas que faço
enquanto espero Marani

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Acorda pra vida!

   Andei pensando sobre definições, e empaquei na definição de amor. Caraminholando, lembrei de uma frase de Millôr Fernandes que diz: "o recém nascido é a prova de que Deus não desistiu do ser humano". Por achar este um pensamento lindo, caminhei até o mais profundo dele e, daqui, completo: cada dia é um renascimento. Cada despertar é uma prova de amor.
   Quantas vezes a gente vai dormir cansado, triste, brigado com alguém, decepcionado consigo, ou, pela razão que for, com vontade de não acordar nunca mais? Menos dramático que desejo de morte, que nos acomete por vezes, preguiça de ter coragem pra mais um dia, depois de tantos outros, num mundo onde o pão é caro, e a liberdade, mais ainda. E mesmo assim, entre o xingar o despertador e o levantar da cama, acordamos. Às vezes nossos olhos ainda oscilam, o bom humor hiberna, mas, de qualquer forma, jogamos uma água fria no rosto e vamos, ainda que no piloto automático, enfrentar mais um dia, na cara e na coragem.
   Quer prova de amor maior que essa? A fé parece brincar de pique-esconde conosco e, ora bolas, todos sabem que "suicídio" é um termo técnico para "ponto final". No entanto, aderimos às vírgulas e, ah, tá bom, vamos brincar de pique-esconde, então. Tá comigo!
   Com o desenrolar do dia, da semana, dos meses, termina a fase de hibernação do bom humor, fazemos as pazes com quem havíamos brigado - família, amigos, amores e espelhos -, descobrimos que a fé se escondia a um palmo do nosso nariz o tempo todo. Então saímos à luta contra essa inflação abusiva sobre o pão e a liberdade.
   Ir dormir sem vontade de acordar, e acordar mesmo sem vontade é coisa que precisa de coragem. É prova grande de amor-próprio. E, para os que creem, é prova de que Deus nos deu outra chance, outro dia, mais vinte e quatro horas pra gente usar como bem entender. E em seguida, outra noite pra dormir, pois é necessário descansar depois de um dia inteiro, mesmo que ele tenha sido lindo a ponto de não querermos que chegue ao fim.
   Cada dia em que acordamos, é prova óbvia de que somos capazes de enfrentar mais um dia. A natureza não é burra de deixar alguém incapaz de ser bom solto por aí. Acordar é prova de que Deus não desistiu da gente, e prova de que a gente concorda com ele. Concordar com Deus só pode ser amor.