segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Desintoxicação sentimental

   Não consegui dormir naquela noite. Pintei meu cabelo – coisa que achei que jamais faria – e disse a mim mesma que ali nascia uma nova eu. Uma vez incorporada essa nova eu, apaguei teu número do meu celular, desejando imensamente que isso apagasse você da minha cabeça.
   Chorei copiosamente, até chegar à conclusão de que tenho um reservatório infinito de lágrimas. Depois me lembrei do cabelo pintado, o que me fez perceber como era errado chorar por você. E então comecei a chorar por dentro. Em pouco tempo, dentro de mim, era tudo água. Era tudo maremoto. Minhas idéias? Perderam-se num furacão. Meu sangue se transformara em lava e minha literatura era só exagero, apelando para metáforas e palavras como “visceral”, “doloroso”, “implodir”... Ah, nada me bastava.
Queria alguém correndo atrás de mim novamente. Senti uma vontade súbita de ter um filho. Lembrei-me daquele filme “Romance”, onde a protagonista dizia que quando se sentia completamente feliz, tinha vontade de ter um filho. Tive vontade de ter um filho, mas me sentia completamente triste. Via esse filme e me lembrava de você. Sorria ao me lembrar de você. Porque agora meu sorriso some quando penso no amor? Porque agora meu coração pesa dentro do peito? Porque agora minha garganta se aperta em nós?
   “O amor é uma doença”, li certa vez. Concordei, mas só agora tomei consciência da proporção dessa verdade. Uma doença degenerativa, pensei. Nos dá náuseas, nos põe cambaleantes e com um sorriso bobo por causa de alguém que não sabe nos fazer feliz. Por causa de alguém que não sabemos deixar feliz.
   “Preciso parar de te amar com urgência”, decidi. “Pra poder ainda te amar depois de depois”. Saí de casa para lembrar que o sol ainda me toca cantarolando um velho tango que me traduzia.

2 comentários:

  1. Mas o amor também é a cura, bem dizem. Imagino essa sensação de não sorrir sobre o amor com pesar... É quando nos lamentamos por não ter alguém para assimilar tal palavra, mesmo que por um desvario ainda o sintamos por outrem. Fico me perguntando se o amor é justo... Lindo conto, Luyu!

    ResponderExcluir

Obrigada pelo comentário! Vou ler, e depois publico e respondo, ta?