Minha razão grita para que eu não grite. E eu acolho a ideia: não vou me descabelar. Não por isso. Desejo que as flores que você plantou cresçam lindas, mesmo sabendo que você plantou sementes que roubou de mim na maior cara de pau. Mesmo sabendo que fui eu quem te mostrou onde tem terra boa pra plantar. Podíamos ter construído um jardim imenso com todas as sementes! Mas você preferiu fugir com parte delas pra fazer um jardim estritamente à sua maneira. Mas deixe estar, que eu trago no peito a luz do sol, e essa energia há de fazer vingarem as sementes que seguem comigo. Deixe estar, que meu jardim será lindo! Deixe estar, que sua baixeza não me abala.
Desejo que muitas pessoas passem pelo seu jardim, e que o apreciem! Flores estão aí, sem dono, prontas para serem admiradas. Mas flores são filhas do amor da terra com as sementes. E a terra foi descoberta por mim, e as sementes foram geradas por mim, e isso me faz mãe de cada flor que você for chamar de sua. Desejo que seu jardim bastardo ganhe, com o tempo, uma cara mais sua do que minha. Mas minha cara, não pense você que as sementes algum dia deixarão de ser minhas. E não pense você que alguma flor que gerar qualquer sentimento digno vai ser mais sua do que minha só porque brotou no seu jardim. A natureza tem uma lealdade eterna, uma justiça de deus.
É certo que o joio cresce sob o mesmo sol que o trigo. Pode-se demorar para que se possa distinguir um do outro. Mas aqueles que enxergam com a alma notam à distância as diferenças mais sutis. Deixe que a própria terra mostre ao mundo quem é quem.
Serenamente,
Primavera.
Primavera.
E beleza que nos resta é aprender com a primavera a deixar-nos cortar e voltar sempre inteiros.
ResponderExcluirUma delícia isso aqui, Luiza.