sábado, 24 de novembro de 2012

Ode à UERJ


Lugar de gente repleta de sonhos
Que aprende pr’um dia realizar.
Felizes mesmo em dias enfadonhos,
Já que, ao atravessar a rua, há o bar.

É certo que ouvimos notícias tristes
Que tratam de dizer em alto e bom som
Que desse mundo cão há quem desiste
E opta por não ver mais luz do sol.

Mas ‘inda assim, tornamo-nos daltônicos
Desde que começamos a adentrar
No universo de curiosos crônicos,

No recanto de aprendizes infinito.
E o que afirmam ser cinza, corrigimos sem pensar:
- A UERJ porta cores. Tenho dito!

sábado, 10 de novembro de 2012

Fênix




   Enquanto punha o vestido, lembrava-se da última vez que o havia usado. Não havia sido numa noite ilustrada por dança, nem por bebida. Havia sido numa noite ilustrada por um beijo. Um beijo que, por sua vez, foi ilustração de um relacionamento conturbado, que lhe havia regalado muita dor e muita luz.  Abriu o zíper do vestido. Lembrou da primeira vez que haviam se beijado. Fora um beijo lento, macio e terno. Um dos melhores que conheceria. Cerca de dois anos haviam se passado desde aquele então. Quanta coisa havia mudado! Colocou as pernas para dentro do vestido e lembrou-se do pedido de namoro. Que loucura havia sido pedir alguém em namoro! Logo ela, que sempre havia defendido a liberdade do amor, acreditando que seu amor só poderia ser livre caso ela atasse sua vida à de outrem – mas não qualquer um: alguém em especial. Suspendeu o vestido. Lembrou de quanta coisa aquele “alguém em especial” a havia ensinado. Lembrou de quanta coisa aquele alguém dizia ter aprendido com ela. Lembrou de quanta dor aquele alguém havia provocado nela. Lembrou de quanta dor havia provocado naquele alguém. Passou o braço direito pela alça do vestido. Lembrou de quanto tempo sofreu calada em função das confusões de seu coração. Passou o braço esquerdo pela alça do vestido. Lembrou do término. Lembrou de idas e vindas, lembrou que tentaram de tudo para fazer durar para sempre... Em vão.  Fechou o zíper do vestido e olhou-se no espelho. Deu-se conta de que não haviam passado dois anos desde que vestira aquela roupa: na verdade, nunca a havia vestido. Ela nunca havia existido antes. Nascera há poucos minutos. Naquela noite, usando um vestido que parecia portar cerca de dois anos de lembranças de um romance já findado, ela se deu conta de que havia morrido sem perceber. Conseguia até enxergar o atestado de óbito – causa mortis: saudade. Fazia poucos meses. O corpo nem havia começado a se decompor, apesar de já não dar mais sinais vitais. É óbvio que, estando morta, não percebeu que estava morta. Só se deu conta de que havia morrido quando se percebeu viva novamente.  
  O espelho mostrava um personagem mórbido e soturno, mas quem o portava era o contrário gritante da morbidez. As unhas com glitter, o salto alto, o cabelo vermelho e os olhos brilhantes não deixavam dúvidas: ela estava viva. Ela estava viva e era nova. Recém-nascida! Pronta para construir sua personalidade do zero. Pronta para ser quem bem entendesse. Pronta para dançar a noite inteira, absolutamente livre de qualquer pesar que lhe pudesse ter ocorrido em outras encarnações.