quinta-feira, 18 de julho de 2013

sei lá, é tanta coisa...

Constatei que as pessoas são melhores através da palavra escrita. Na escrita, nos tornamos personagens. Temos tempo pra pensar em qual palavra escolher, no metro, na rima, na estrofação... Parei pra pensar quantas coisas já li de pessoas que não conheço e achei incríveis, admiráveis. Bem... Cada uma dessas pessoas pode trazer em si um imenso mau-caratismo ou cinismo ou soberba ou qualquer uma dessas coisas que eu abomino. E essa dúvida eu jamais vou poder por à prova. Mas aprendi que nossa escrita não é um reflexo fiel de nós. Acho que não existe reflexo fiel. Nem a fotografia, nem a opinião alheia, nem a visão que fazemos de nós mesmos: não são senão resenha de um grande livro que é cada ser humano e seus mil universos particulares de possibilidades de personalidade.

Qual será a ideia que os que me leem fazem de mim? Será que é sequer parecida com quem eu sou, na verdade? É um tanto decepcionante constatar isso tudo, confesso. Passei tanto tempo me apoiando na escrita como se ela fosse um deus benevolente, e eu, pecadora arrependida! Ai, quantas hipérboles cabem nas palavras que não durariam nem dois milésimos de segundo na vida real...

Imagine! Pessoa, Manoel de Barros, Vinícius de Moraes: como seriam? É muito fácil admirar alguém que se apresenta mascarado em poesia. Poesia é maquiagem. Poesia mascara tudo. Ao mesmo tempo que nos salva, que resgata o melhor de nós, nos destrói. Nos inspira a ser bom ou talentoso ou bem humorado como pensamos ser alguém que se deixa derramar em letra impressa mas, na verdade, a razão da nossa inspiração não passa de mero personagem. Admiramos alguém que não existe. Talvez a única "coisa" realmente autêntica seja o ser humano, vivo. Talvez não existam auto-biografias. O autor de uma "auto-biografia" escreve, na verdade, sobre a imagem que ele tem de si. Ou além: sobre a imagem que imagina que os outros imaginem que ele  tenha sobre si. São camadas intermináveis de persona(gem).

É, destino... Quem diria? No finalzinho do período, depois de já ter entregue os trabalhos sobre o assunto, acho que finalmente me apropriei e compreendi Platão. Deixo aqui minha ode a não mais catarses.

ps. daqui a pouco volto a mim, com certeza, devidamente epifanizada por um ou dois versos de Fernando Pessoa.

Um comentário:

  1. Se é impossível criar e vivenciar uma história de um personagem só, creio que todos somos assim: feitos de pequenas partes doadas de muitos, de outros, de desconhecidos. Não é a toa que seu pensamento me intrigou quando falou sobre autobiografias... É só uma versão das muitas histórias que o indivíduo presenciou. Quiçá outra pessoa conte de outra forma a partir do olhar dela. E, convenhamos, somos seres intrigantes.

    Ótima reflexão, moça.

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Obrigada pelo comentário! Vou ler, e depois publico e respondo, ta?