sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Uma quimera: gritar o amor

Hoje, ao final da aula, um aluno (que já cansou de dar em cima de mim) me perguntou:
-P'fessora, a senhora tem namorado?
E eu disse, num tom extrovertido, sem pestanejar:
- Sim, senhor! - o que gerou certa balbúrdia entre os colegas.
Mas não tenho um namorado, substantivo masculino, apesar da aliança no meu dedo - tenho namoradA, substantivo feminino. Mas não banco dizer isso numa turma de 9º ano que nem é minha: sou uma reles bolsista de iniciação à docência. Além disso, respondi ao menino o que ele queria saber: eu namoro.

Dentro da nossa cultura, isso significa "estou numa relação monogâmica com alguém". Não é obrigatoriedade do verbo "namoro" indicar uma relação homo ou heterossexual. Mas me entristece não me sentir confortável para dizer em alta voz que "não: eu tenho namoradA". E me entristece porque essa falta de conforto vem de uma incompreensão sem fim sobre esse tipo de relação (homo) sedimentada na nossa cultura.

Por outro lado, me conforta estudar Letras e concluir, verborragicamente, que não menti ao menino. Afinal, eu tenho namorado, sim. No pretérito perfeito (e bota perfeito nisso!) composto do indicativo, eu tenho namorado - e muito! - a minha namorada, a quem eu tanto amo.


Meu amor é uma menina.
Minha menina é um moleque.
Meu moleque é uma mulher.
Minha mulher é um amor
- MEU amor.

Beijitos,
Lu

Um comentário:

  1. Luísa, você é um encanto de ser humano! Gosto um tantão de você, do seu palavrear, da sua poesia, das suas ideias tão lindas.
    Um abraço da @ericona!

    Sacudindo Palavras

    ResponderExcluir

Obrigada pelo comentário! Vou ler, e depois publico e respondo, ta?