quarta-feira, 8 de abril de 2015

Ah, é tanta coisa...

Pensei que não voltaria mais aqui. A última vez que escrevi qualquer coisa pro blog foi em janeiro, e, ainda assim, já havia bloqueado a privacidade do blog. Estava decidido: ia mudar de endereço.
 
Fui amadurecendo a ideia e hoje já estão quase nítidos pra mim o nome, a estrutura, o conceito e alguns esboços do layout (os freebies da follow your dreams tem sido de grande estímulo, devo dizer). Mas não imaginei que voltaria ao lua e brisa pra falar sobre isso. Tô sensível e estésica. Deve ser a tpm. E a aula de hispánicas ontem sobre vanguardias europeas.
 
Mas - se é que este é o post derradeiro -, pensando bem, acho justo oficializar a despedida do blog num post que o encerre, definitivamente, mesmo que eu volte a torna-lo privado, depois. Dos meus 3 blogs na mesma linha que este (desconsidero o anônimo e o anoréxico), o lua e brisa foi o que durou mais tempo. 2011-2015 é um verdadeiro recorde.
 
Comecei e terminei dois namoros aqui. Comecei outro. Me joguei aqui. Passei do Ensino Médio pra faculdade, vivi meu trote, compus, criei, sonhei, vivi. Fui do teatro musical pro social, e comecei a escrever uma peça que junta os dois. Dei minha primeira aula, consegui um estágio dos sonhos, conversei com tanta gente boa de fora do Rio! Fui tão triste e tão feliz! Aqui, aqui, aqui. Sob um luar que ilumina tudo e uma brisa leve, mas que faz dançar até a mais sisuda das árvores. Ao som de Chico. É, meu queridinho, meu refúgio, meu alento de tanto tempo, acho que terminamos por aqui. Mas tenho cer-te-za de que vamos nos falando e de que você não vai virar a cara pra mim que nem a minha ex ta fazendo sem motivo nenhum e que seremos grandes amigues por siempre. Como se dizia nos tempos de Orkut, amo/sou lua e brisa. Literalmente.
 
Mudei, es cierto. Sou a mesma, mas mudei, entende? Então, eu (meu eu-sonho) não posso mais morar aqui.
 
Pensava em alterar o nome da página (no facebook) desse blog pro nome do blog que virá, e vincular blog e page à minha produção de cadernos, pra ampliar e facilitar o processo de divulgação etc que, confesso, me dá uma preguiça danada de fazer. Mas lendo alguns blogs aleatórios por aqui, acabei pensando que talvez o blog precise ter mais cara de diário do que eu pensei. (Lê-se: talvez eu precise disso. Até porque meu diário acabou, e eu tô esperando a Yaiá trazer meu novo do Caribe ao invés de tomar vergonha na cara e fazer um caderno pra mim).
 
Dos que andei visitando, o mundo da Ana foi o que mais mexeu comigo. Essa história dela de fazer posts com os desejos da semana me lembrou aquela oficina de teatro acessível em que o cara falava da menininha do livro da mãe da Tatá Werneck, que se perguntava diariamente qual era seu sonho do dia. Não as metas do ano (que foram as responsáveis por me fazer chegar, do meu velho conhecido blog da Fran, até o blog da Ana), não os sonhos da noite: os sonhos do dia. As metas do hoje. A razão de sair da cama quentinha hoje.
 
Hoje tenho que entregar os cadernos das meninas pra Marininha, lá no Rio Sul, mas isso eu faço com gosto. Hoje meu amorzinho ta numa angústia sem fim pela incerteza do vestibular - disse que não quer ver ninguém. Mas ta ok, porque eu não ia ter tempo. Teoricamente, depois do Rio Sul, hoje eu deveria ir ao grupo de estudos do Motta. Eles vão trabalhar até o capítulo XVI do Dom Quixote, mas eu ainda tô no meio do XII, sem pressa nenhuma de terminar.

Lembro da época em que estive em depressão e minha então terapeuta dizia "seja gentil com você". Nesse momento o que me dá gana é escrever este post, então é o que farei. E ponto. Na hora decido se vale a pena ir ao Motta ou se vou pra casa planejar a aula de sábado ou se dane-se tudo e vou ver aqueles filmes da Audrey que a Zuzu me emprestou, ou conferir se o Popcorn Time ta funcionando direitinho.
 
Hoje vou mimar meu ego, e é isso aí. Minha única prioridade vai ser a hora de dormir. Chega dessa correria louca me outorgando o que é prioridade, quando quem sente as consequências sou eu.
 
Até a próxima lua!
(ou não)
 
Besos livianos,

Zanni
 
 
 
 
 
 
 
 

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Vinte centavos e um café

   O preço da passagem subiu para R$3,40. Extrapolou o absurdo. Moro perto da faculdade e, quando dá, vou à pé. Hoje não dava: combinei de encontrar às 19h30 com uma amiga, para devolver uma saia emprestada há meses. Ela tinha pressa e eu já não tinha mais ânimo para estudar, então calcei o chinelo e, com algum sono, saí rumo ao ponto de ônibus. Trazia no bolso do short duas notas de R$5. Pensei: ótimo! O dinheiro dá certinho para ir e voltar de ônibus e ainda comprar um café. Mas hoje não dava.
   Cheguei no ponto e o 239 estava quase saindo. Servia para mim. Teria dado tempo de correr e alcançar, mas eu estava com sono. Não tardaria para passar outro que me servisse. Encostei no poste, entediada, e uma mulher me perguntou e eu ia pegar o 711. Pensei em questionar o porquê da pergunta, mas lhe disse que me servia, sim. Ela então perguntou se eu poderia inteirar sua passagem, exibindo-me umas parcas moedinhas pousadas sobre a mão suja. Respondi que sim.
   As unhas eram curtas. Era mulher. Uma barba rala no rosto, e era mulher. O cabelo comprido e crespo preso num rabo-de-cavalo igual ao meu. Era igual ao meu, era igual a mim, era mulher! Outrora ouvira: "mas e Deus? mas e o inferno? mas e teu papel no mundo? mas você acha isso bonito? mas que sem vergonhice!". Era elA. Era eu. 
   Perguntou quanto custava mesmo a passagem. Disse-lhe o preço. Ela se espantou. Perguntou-me se eu me lembrava das manifestações contra o aumento das passagens em 2013. Conversamos, indignadas. Passou 638, passou 433, e mais um tanto de ônibus que servia para mim, que tinha marcado hora com a amiga e queria café. Mas não titubeei quando ela me pediu o dinheiro que faltava, e sem me arrepender, sabia que abrira mão do café. Sorvi sua pele. Tomei sua dor. Era quente e sem açúcar. O sono passou.
   Subimos no ônibus, paguei duas passagens. Passamos pela horrenda roleta. Ela me agradeceu. Assenti num sorriso. Sentei-me num lugar e ela noutro, mais atrás. Afastamo-nos para sempre, e para sempre estaríamos unidas pelo fardo de sermos mulheres com a ousadia de se exercer num mundo hipócrita e bitolado.
   Sentou-se à minha frente uma mãe com criança de colo. Não saberia dizer se era menina ou menino, a criança. Fiz festinha e aquele comecinho de gente me sorriu um sorriso careca. O sol se punha, lindo, na janela do ônibus. Senti felicidade. Mas  já quase chegando meu ponto senti culpa por comprar por R$3,40 o direito de não andar por vinte minutos de casa até a faculdade. Saltei desejando que aquela mulher não estivesse me olhando, e que não pensasse mal de mim por gastar quase quatro contos por preguiça.
   Cheguei ao local do encontro antes do horário combinado. Sentei-me num banco e passei mecanicamente o troco do bolso à carteira. Faltavam agora vinte centavos para que eu pudesse voltar de ônibus para casa (o que é aconselhável, porque o horário, porque o short, porque as pernas de fora, etc). Me ocorreu pedir vinte centavos emprestados de alguém, mas de pronto mudei de ideia. Estava decidido: voltaria a pé. E, definitivamente, não seria só por conta de vinte centavos.