sexta-feira, 27 de abril de 2012

Carta ao Amor

(o velho "para ler ouvindo": Preciso do teu sorriso - Mariana Aydar)


Oi, Amor.

   Como vai a viagem? Esse mundo ainda te dá muito trabalho? Tenho andado tão presa aos teus filhos que quase me esqueci de te escrever. Me desculpa? Teu primogênito, o amor-com-letra-minúscula, por exemplo, não me sai da cabeça. Você sabe como eu comecei a gostar dele a partir do momento que a tua irmã gêmea – a Amizade – nos apresentou. É exatamente sobre ele que eu quero lhe falar.
   Passei muito tempo da minha vida olhando-o de longe o julgando erroneamente. Questionei sua sinceridade. Mas percebi a tempo o quão verdadeiro e vital ele é pra mim. E fomos muito felizes juntos!
   Um dia, ele foi embora com o Medo, e eu achei que nunca mais o veria. Mas ele reapareceu, alguns meses depois, mais lindo que nunca. Parecia outra pessoa! Disse que conheceu um tal de Tempo, e que o Tempo lhe fez bem. Deu-lhe cheiro e gosto de perfeição. E deu-me vontade infinita de viver ao seu lado para sempre – coisa que eu nunca havia sentido antes.
   Ele me acordava todos os dias com um raio de luz que roubava do sol só pra me dar. E me dava colo todas as noites, e seu colo me fazia dormir em paz. Estava tudo indo tão bem... Até que parou de estar. O Medo teve a petulância de bater à nossa porta. Disse que fora abandonado, e que isso não era justo. Trouxe consigo mais dois amigos que largaram suas malas no meio da sala e se jogaram no meu sofá, bagunçando tudo. Fui pedir pro amor dar um jeito naquela situação, mas ele não quis mais saber de mim! Fugiu com o Medo, o Ciúme e a Raiva.
   Foi aí que a sua menorzinha, a Saudade, se compadeceu de me ver triste e veio morar comigo. Amor, você precisa ver como ela está crescendo! Vai ser uma mulher linda e saudável, cheia de poesia e felicidade – embora fique triste com freqüência. Ela sempre me pede mil perdões por não conseguir me deixar feliz, embora tenha vindo morar comigo com este objetivo. Mas eu entendo a situação dela. Meu sentimento pelo amor parece contagioso! E eu prefiro que ela continue aqui comigo. Essa casa sem a Saudade dá vontade de chorar. E eu não quero chorar. Nós temos conseguido nos divertir bastante, afinal. Não é o que eu chamaria de felicidade, mas a alegria, de vez em quando, invade nosso quintal. Ela tem um quê de pessimismo otimista (ou otimismo pessimista) e sempre que me percebe triste, me lança um clichê do tipo “não fique triste porque acabou, fique feliz porque aconteceu”. E nós rimos juntas, fazemos brigadeiro, e vamos ouvir música alta pra espantar o que há de ruim. Ela me apresentou um amigo que atende pelo estranho nome de Libido, e de vez em quando a gente sai. Ele é legal, e tal, mas você entende. Não é o amor. Não é o que eu quero.
   Eu sei o que você vai dizer. Se ele foi embora uma vez e voltou, é claro que vai voltar mais uma vez. Parecendo até, quem sabe, uma outra pessoa ainda mais linda e com ainda mais cheiro e gosto de perfeição. Mas aí é que está, Amor. Eu não quero mais lindeza nem mais perfeição. Eu quero o amor do jeito que ele é, do jeito que ele se mostrou pra mim naquele dia em que largou o Medo por minha causa. E se for pra mudar, quero que ele mude do meu lado, e que eu mude junto, e a gente cresça junto. E se ele precisar do Tempo, que seja! Mas que me dê alguma garantia de que ainda vai voltar a ser só meu.
   Fala com ele, Amor? Por mim. E por ele, também! Mesmo que ele não queira nunca mais vir morar comigo – coisa que eu não gosto nem de pensar – fala pra ele não andar mais com o Medo. Aquele lá não faz bem pra ninguém.
   A Saudade disse que conheceu o Tempo, disse que ele costumava freqüentar a sua casa à época que acompanhava o amor. Se você tiver contato com o Tempo, peça para ele procurar o amor. Talvez o amor, o Tempo e a Amizade juntos consigam alcançar o seu nível de nobreza. O mesmo nível de nobreza que eu espero alcançar um dia. Preciso deles comigo. Preciso de você comigo. Pensa nisso, por favor?
   Saudade te mandou um beijo no nariz, eu te mando um na bochecha.

Sem amor,
Luísa.

sábado, 21 de abril de 2012

Amor com marca d'água

- Deixe estar - ela dizia, tentando convencer a si mesma - O nosso tempo há de chegar.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Esbat de abril e símbolos da páscoa

   Comecei esse ano minha Dedicação (período onde um estudante da Wicca pesquisa mais e mais sobre o assunto, pra ver se a Wicca é mesmo o seu caminho nessa encarnação). Dia 6 teve lua cheia, e fazer um ritual para celebrá-la é parte dessa Dedicação. Mas como eu tava de maus bofes com a vida, não comemorei a coitadinha no dia 6. Embora seja aconselhável que os esbats (celebrações da lua) sejam feitos na primeira noite de lua cheia (porque quando a lua começa a minguar, sua energia sobre nós já não é mais tão forte), só senti vontade de celebrar ontem. Coincidentemente ou não, no dia da páscoa cristã.
   Fui pesquisar as origens da páscoa porque sabia que devia haver alguma relação entre elas e o paganismo. Acabei conhecendo uma lenda belíssima sobre Eostre (qualquer semelhança com Easter não é mera coincidência, ok), uma deusa ango-saxã da fertilidade e do renascimento. Eostre tem uma relação de muito afeto com crianças, e reza a lenda que um dia estavam algumas crianças junto à deusa em um belo jardim, quando um pássaro pousou na mão dela. Eostre, para divertir as crianças, transformou o pássaro no seu animal predileto: uma lebre. As crianças ficaram maravilhadas com o poder de Eostre, mas notaram com o tempo de que a lebre não se sentia bem em sua nova condição, pois não podia mais voar ou cantar. As crianças pediram à Eostre que o encantamento fosse desfeito, mas já era inverno, e seus poderes estavam enfraquecidos. A deusa disse às crianças que talvez, na primavera seguinte, ela conseguisse fazer algo para reverter aquela situação. Então, na primavera, com seus poderes no auge, Eostre conseguiu que a lebre reassumisse a forma de pássaro por um período de tempo. Como sinal de gratidão, o pássaro botou ovos em homenagem à Eostre. Quando o efeito do novo encantamento passou, o pássaro voltou a ser lebre. E a lebre, em agradecimento às crianças, coloriu os ovos que havia posto, e os distribuiu pelo mundo, como um símbolo de fertilidade e abundância. É uma lenda que nos ensina a não brincar com o livre arbítrio dos outros através da magia. Diz-se que Eostre desenhou uma lebre na lua, para que ninguém esqueça essa lição, que ela própria aprendeu à duras penas. Tem aí uma foto bem ruim pra mostrar isso. Foi o melhor que o Google cedeu, sinto muito.



Uma puta lição de humildade, né? Quer dizer... Uma deusa admitir que errou e marcar a lua para que ninguém cometa o mesmo erro. Confesso que eu jamais perceberia essa lebre sozinha. De qualquer forma, é uma bela história :)
   Eostre também é conhecida por Ostera, nome que originou Ostara, celebração pagã da primavera, que ocorre, no hemisfério norte, próxima à páscoa. Tem nisso tudo um simbolismo muito forte entre o renascimento de Jesus e o renascimento da natureza. Particularmente, uma lição como essa não poderia ter chegado em hora mais certa. Um minuto de silêncio pela morte dos posts nostálgicos nesse blog.

(Tirei essa ilustração desse Flickr, tem outros desenhos lindos).
Ciao.

domingo, 8 de abril de 2012



Eu sou só aquilo que digo,
E não aquilo que dizem de mim

Eu sou só aquilo que faço,
E não o que a vida fez com que eu fosse

Eu sou só aquilo que quero,
E não o que querem que eu seja

Eu sou só aquilo que canto,
E não a dublagem que faço de mim

Eu sou só o que sinto,
E jamais o que esperam que eu sinta

Eu sou só aquilo que erro,
E não o que pedem que eu acerte

Eu sou só a nota que desafino,
E não a canção cantada com maestria

Eu sou só aquilo que amo,
E não o que a sociedade me convida a detestar

Eu sou só,
Irremediavelmente só

E não há nada de errado
Ou incomum
Em ser, a penas,
Apenas só


sábado, 7 de abril de 2012

DNA

- Para, moço! Eu não vou te chamar de pai porque eu não te sinto como pai.
- Mas, meu filho, olha aqui o exame! 
- Desculpa, moço. Não entendo nada disso, não.
- Eu já te disse o quanto eu me arrependo do tempo que passei longe de você, e, afinal, o que importa é que agora eu estou aqui, não?
- Agora? Agora que eu já aprendi a andar de bicicleta sem rodinha? Agora que eu já descobri por onde saem os bebês? Agora que eu já sei ver as horas em relógio de ponteiro? Agora que eu já sofri porque a menina que eu gosto jogou fora o desenho que eu dei pra ela? Não, moço. Agora eu não preciso mais de pai.