segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Superpopulação


toda vez que uma espécie se reproduz em massa
parte daquela espécie deve migrar, 
ou haverá disputa de território

e é exatamente o que se passa aqui, 
dentro de mim: 
uma selva de animais se matando. 
todos eles sou eu. 
alguns vão matar e outros vão sangrar até morrer. 

meu medo está exatamente na dúvida: 
quais morro e quais mato? 
tem uma guerra dentro de mim, 
e muitas eu saem pelas ruas da capital com cartaz 

war is over if you want it

militantes que se metamorfosearão em cadáver: 
tantas outras eu trazem rifles na mão,
e eles não atiram flores
nem poesia

não por esses dias.

nada de headband ou saia indiana
nesses dias
sem concentração no terceiro olho
só pesadelos

noite 
após 
noite

presságios 
medo da realização deles
e sensação de impotência por não poder ajudar as futuras vítimas 

sendo eu uma delas, 
parece que não posso fazer nada pra me ajudar, também.

não sei lidar com saudade. 
não entendo porque amores se deixam acabar antes do fim. 
não entendo porque o amor começa. 
não entendo porque gente que eu sei que sente minha falta não faz questão de me dizer isso. 

quando o acaso nos juntar, vou ouvir de novo "que saudade!"
e vou ter vontade de dizer 

mentira! 
quem sente saudade procura. 
você não sente saudade de ninguém. 
você não ama ninguém. 
só você mesmo
o problema é que eu te confiei muita coisa
e me decepciona ver que você não se importa
achei que você fosse diferente, mas não é
todos vocês são iguais.

mas não vou dizer nada disso, é claro
porque isso seria botar a culpa das mazelas do mundo sobre os ombros de quem, 
no fundo,
nunca me prometeu nada

foi só mais um "eu não quero te perder" da boca pra fora
triste é que eu tenha acreditado naqueles olhos semi-cerrados
e em alguns outros tão abertos

É tão fácil falar...
vai saber quantas vezes eu mesma respondi 
socialmente
a falsos "eu te amo"?

não acho que possa confiar em ninguém. 
será que, ao menos em mim?

não sei lidar com indiferença
não sei lidar com essa preocupação tão grande que as pessoas trazem sempre consigo mesmas e tão pouca por sobre 
os outros:
aqueles seres todos que vivem fora da gente 
(embora todo este relato não passe de preocupação exacerbada comigo mesma, enquanto pessoas choram no Rio Grande do Sul a morte trágica de entes queridos. A morte humana não me emociona. Tampouco a vida, ao que parece)

é claro que não só a indiferença permeia minha vida
tenho fingido bem demais o sorriso para as pessoas suspeitarem da minha 
tão imensa insegurança 
e falta de carisma

quando se aprende a disfarçar a opacidade dos olhos, torna-se um mentiroso de marca maior.
eis-me aqui

é claro que tanta máscara só podia fazer algumas pessoas mais sensíveis se encantarem
e não, não importa o tamanho do elogio que seja criado e entregue a mim, 
não importa a qualidade da rima do poema que eu inspirei, 
não importam as tentativas tímidas de me tirar do meu mundinho masoquista 
nem mesmo as mais incisivas importam: são vãs do mesmo jeito

não, nada importa
porque quando olho pra dentro, meu espelho particular mostra cada cicatriz que trago n'alma, 
e só eu sei do peso que carrego no peito
só eu sei o quanto a música já soube ser, 
e da falta que me faz cantar e ficar em paz

desaprendi a extravasar, foi isso que aconteceu

é claro que eu sei que isso tudo é só poesia
qualquer dia passa 

o problema é enquanto qualquer dia não chega

ontem: lua cheia não celebrada
hoje: colapso
amanhã: sombras da dúvida

eu: amanhã

e só depois de meio dia, por favor
preciso dormir antes que me esqueça o que é isso

não é infelicidade, não
não mesmo, embora pareça tanto
é tristeza amarga, 
feito café sem açúcar que se toma pra ficar desperto 
é que eu me recuso a me acomodar na felicidade triste, 
sobretudo depois que aprendi que existe a felicidade alegre em algum lugar dentro de mim
o problema é justamente que não sei qual caminho traçar para encontrá-la, 
mas não quero ficar parada esperando que ela venha até mim 

isso só é útil quando se espera a morte
mas eu procuro a vida
onde está?

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