quinta-feira, 27 de junho de 2013

Carta à livre escrita

Oi, querida

Há quanto tempo não nos vemos, hein? A Revisão, a Pontuação e os Parágrafos, aqueles danados... Não me deixam em paz. Perturbam o coitado do Perfeccionismo o tempo inteiro. Mas olha, vou confessar, sabe o que acaba acontecendo? Acabo não dando conta de nada.

Pois é... Estranho, né? Muitas coisas estranhas tem passado pela minha cabeça e pela minha vida. Deve ser a tpm. Há de ser! Embora eu tenha posto a culpa de todos os meus desgostos na tpm por todo o decorrer do último mês, mesmo quando a coitadinha não tinha nada a ver com isso.

Mas chega de ser digressiva. Como estava dizendo, coisas estranhas. Paradoxos. Vontades infinitas não cabem em pacotinhos de tempo cruelmente divididos de 24 em 24 horas. Anseios, desejos de abraçar o mundo me inundam e eu transbordo deles, porque não consigo me conter. Não consigo contê-los. Não consigo conter meus próprios sonhos no tempo em que me foi dado. Cronos é mesmo um deus muito exigente.

Me sinto bem e mal dentro de uma casa que não sinto como minha. Me sinto bem e mal dentro de um corpo que não sinto como meu. Vejo fotos de alguns meses atrás e chego a olhar admirada e invejosa para a minha própria imagem. Será que esse fantasma ainda volta a me perturbar? Choro do lado de quem só merece meu riso, rio na frente de quem provoca meu choro. Minha auto crítica é severa e me condena, e me lembra que não existe honestidade parcial.

Me lembra que ou se dá a cara a tapa ao que se acredita, ou não se tem ética. E que tem que ser assim mesmo, 0,8 ou 800, pra ninguém ficar na duvida de quem é quem. Me perdoem, deuses: sou contraditória. Sou medrosa. Sou pequena. Decerto cabe em mim ao menos a vontade de ser grande, ou de ser maior, o que já seria uma boa coisa. Mas ainda não basta. Não, respeitável público, não basta.

É... Acho que não dou mais pra essa história de escrever sem pensar. Até minha escrita livre é mecanizada. Como penseiescrevi certa vez, estou precisando por a alma pra quarar. E ninguém pode me acompanhar nessa trajetória. Nem sequer o Amor. Nem sequer o meu amor. Existe uma viagem para dentro de mim que só eu posso realizar. Pois bem, estou pronta.

Me despeço aqui, querida. A vida adulta chegou e, conforme eu suspeitava, quando ela chega, é pra ficar. Portanto, lamento não ter tempo de sobra para dedicar às minhas lamúrias. Lamento, mas tenho que ir. A vida lá fora chama. Quem sabe mais tarde eu olho pra mim?

Apressada,
Lu

segunda-feira, 10 de junho de 2013

hai caí

eu sou
(f)ilha
do mundo

-

Sou mesmo, triste conclusão. Dentro ou fora de parênteses que me impõem - nas quais por vezes aproveito pra me esconder, pra respirar, pra retomar o fôlego e seguir em frente -, sou filha e ilha, ao mesmo tempo, de e em todos aqueles e tudo aquilo que está ao meu redor. O próprio mundo é ilha, pedaço de continente separado de si mesmo. Por que eu, pobre mortal (?), não haveria de ser? Sou (f)ilha de tudo, como todos. Sou (f)ilha até de mim mesma.

Sou, mesmo, triste conclusão. Mas não sou conclusão conformada. Enquanto o inconformismo ainda me pegar de jeito, continuo nesse relacionamento conturbado que é a vida dentro desse planetinha bitolado. Que fique claro que não desisti de morar num planeta que mereça ter dicionários nos quais os verbetes "liberdade" e "utopia" não sejam sinônimos. Não desisti.

Evoé!

domingo, 2 de junho de 2013

Amor feito com poesia

Para Palas Atena

A moça tinha vinte e poucos sonhos. Cachos muito dourados caíam-lhe poeticamente dos cabelos. Tudo lhe era poético, aliás. Caminhava que parecia câmera lenta. Era como se o vento oferecesse maior resistência ao seu corpo do que aos demais corpos (talvez até o vento gostasse dela, e quisesse esticar ao máximo o tempo em sua presença).

Como devagar andava, devagar olhava as coisas, o mundo, as pessoas. Devagar ouvia até mesmo palavras como "pressa". Demorava a entender as coisas, o mundo, as pessoas. E se demorava a entender pela cabeça, que funcionava devagar, sentia depressa pelo coração, que pulsava rápido e com força, dando-lhe a sensação de trazer no peito uma escola de samba.

Queria ser musa de algum jovem aspirante a poeta, e o era de muitos, sem saber. Não sabia se acreditava em deus, mas sabia que ao menos uma deusa havia de acreditar nela. Certo dia - especificamente numa terça-feira de céu ensolarado e azul -, o destino achou sua menina.

Assim que o viu, foi tomada pelo encantamento. E, justiça seja feita: tratava-se de um belíssimo representante da espécie. Alinhado. Tradicional. Quase quadrado, na verdade, e recheado da mais fina forma de expressão de nobres sentimentos. A imagem dele invadiu-lhe os olhos, e seu fôlego esvaiu-se num só suspiro involuntário. Se aproximou vagarosamente, sedutora. Tomou-o em suas mãos e, assim que sentiu seu cheiro, desejou pertencer a ele, e que ele pertencesse a ela. Para a própria sorte, não teve de enfrentar qualquer tipo de resistência. Segurou-o com firmeza, decidida a explorá-lo por inteiro. Devorá-lo. Ansiava por captar sua essência. 

Aproximou-o de seu rosto, lentamente, e ficou, por alguns segundos, apenas contemplando seu amor recém descoberto. Observando. Absorvendo. Admirando. Prevendo, sabendo de antemão todo o prazer que podiam propiciar um ao outro. Finalmente, pensava a menina, finalmente me sinto livre! E foi da liberdade que sentiu que a invadia que tirou coragem para mergulhar nele sem qualquer pudor: olhou-o por dentro. Amou-o em plena luz do dia. Marcou suas orelhas como que para explicitar aquela relação de amor e posse há poucos minutos subentendida. Fitou-o novamente. Sorriu, entre maliciosa e ingênua. E então, deu-se o ápice daquele inusitado encontro: apesar de toda aquela gente ao redor, a menina desvirginou aquele livro apaixonante, página por página.