domingo, 2 de junho de 2013

Amor feito com poesia

Para Palas Atena

A moça tinha vinte e poucos sonhos. Cachos muito dourados caíam-lhe poeticamente dos cabelos. Tudo lhe era poético, aliás. Caminhava que parecia câmera lenta. Era como se o vento oferecesse maior resistência ao seu corpo do que aos demais corpos (talvez até o vento gostasse dela, e quisesse esticar ao máximo o tempo em sua presença).

Como devagar andava, devagar olhava as coisas, o mundo, as pessoas. Devagar ouvia até mesmo palavras como "pressa". Demorava a entender as coisas, o mundo, as pessoas. E se demorava a entender pela cabeça, que funcionava devagar, sentia depressa pelo coração, que pulsava rápido e com força, dando-lhe a sensação de trazer no peito uma escola de samba.

Queria ser musa de algum jovem aspirante a poeta, e o era de muitos, sem saber. Não sabia se acreditava em deus, mas sabia que ao menos uma deusa havia de acreditar nela. Certo dia - especificamente numa terça-feira de céu ensolarado e azul -, o destino achou sua menina.

Assim que o viu, foi tomada pelo encantamento. E, justiça seja feita: tratava-se de um belíssimo representante da espécie. Alinhado. Tradicional. Quase quadrado, na verdade, e recheado da mais fina forma de expressão de nobres sentimentos. A imagem dele invadiu-lhe os olhos, e seu fôlego esvaiu-se num só suspiro involuntário. Se aproximou vagarosamente, sedutora. Tomou-o em suas mãos e, assim que sentiu seu cheiro, desejou pertencer a ele, e que ele pertencesse a ela. Para a própria sorte, não teve de enfrentar qualquer tipo de resistência. Segurou-o com firmeza, decidida a explorá-lo por inteiro. Devorá-lo. Ansiava por captar sua essência. 

Aproximou-o de seu rosto, lentamente, e ficou, por alguns segundos, apenas contemplando seu amor recém descoberto. Observando. Absorvendo. Admirando. Prevendo, sabendo de antemão todo o prazer que podiam propiciar um ao outro. Finalmente, pensava a menina, finalmente me sinto livre! E foi da liberdade que sentiu que a invadia que tirou coragem para mergulhar nele sem qualquer pudor: olhou-o por dentro. Amou-o em plena luz do dia. Marcou suas orelhas como que para explicitar aquela relação de amor e posse há poucos minutos subentendida. Fitou-o novamente. Sorriu, entre maliciosa e ingênua. E então, deu-se o ápice daquele inusitado encontro: apesar de toda aquela gente ao redor, a menina desvirginou aquele livro apaixonante, página por página.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pelo comentário! Vou ler, e depois publico e respondo, ta?