terça-feira, 30 de julho de 2013

Ser Cëna

"Ser melhor que ontem". Essa ideia ficou na minha cabeça: talvez seja esse o superobjetivo de qualquer ator nessa peça a que chamamos Vida. Vai que Stanislavski estava fazendo filosofia o tempo todo e a gente sempre achou que era teatro?

Sério, gente. O mundo é diferente do lado de cá da quarta parede. Há mais esperança. Mais lágrimas, também, é bem verdade, mas é o preço de viver com alma. É o preço de viver sendo intensidade. O ator deve se entregar de tal forma ao seu teatro que não há outra saída senão ser teatro. Mas esse "dever" não é uma obrigação: ocorre naturalmente. A relação entre o teatro e o ator é um mutualismo. Um casamento feliz. 

É isso: fazer teatro de verdade é ser teatro. Estar em cena é tornar-se a própria cena. É visceral! Tornamo-nos cenário, figurino, texto. Cada um se torna o elenco inteiro. Eu me tornei cada um de vocês e vocês se tornaram eu. E é só por causa disso que eu tenho conseguido, a cada dia, ser melhor que ontem. Porque, sendo mais vocês, me torno mais eu mesma. 

Somos unidade porque compreendemos que cenário, figurino, texto e elenco tem o mesmo valor. É uma espécie de panteísmo sustentado por um deus chamado Palco. E é com esse amor quase religioso que eu amo vocês e tudo aquilo o que vocês somos.

Partimos do ponto zero - o nada - e voltamos à ele, mas voltamos cheios de nós. Cheios de nós desatados e, cheios, abarrotados, plenos de nós mesmos. 

Pago o preço - as praias não idas aos domingos, o medo de nunca conseguir entrar no personagem, os não-posso-tenho-ensaio, o perfeccionismo desesperado, essa ansiedade furiosa e a espera que parece nunca acabar por finalmente ser a atriz que eu espero ser um dia - à vista e fico ainda mais rica: sou Cëna.


domingo, 21 de julho de 2013

Pr'um anjo chamado Ana Clara

Ana,

   Acabou que não pudemos viajar com você. Sua viagem coincidiu com a nossa, e nós passamos o dia do amigo juntos, sentindo sua falta juntos. Volta e meia alguém dizia "se a Ana estivesse aqui, ela ia dizer não sei o quê". "Ai, que falta que a Ana vai fazer...". "CADÊ A ANA PRA IR ATÉ O CHÃO?". 
   Viajamos. Amigos na estrada rumo a um lugar lindo e distante da barulheira urbana só podia culminar num fim de semana épico. De fato, nos divertimos bastante - do jeito que Dionísio gosta. Apesar da saudade, porque a vida segue. A sua segue, a de cada um de nós também. Até porque, nossa saudade não é cria da morte. Pelo contrário: sentimos saudade de alguém que está bem vivo, e que vai usar toda essa vivacidade pra conquistar mais um sonho. E nos encher de mais orgulho. Mas que você é incrível, conquista todo mundo por onde quer que passe e que vai realizar tudo o que quiser, você já sabe. Ou pelo menos, já ta cansada de me ouvir falar. 
   O que me chamou atenção foi hoje, na volta pro Rio, quando, em meio à indecisão de qual música ouviríamos no carro, fomos unânimes quando o aleatório tocou Charlie Brown Jr. Cecília lembrou bem: foi a música que tocou no vídeo dos seus 15 anos. Aquela festa pra qual você me chamou quando a gente nem se falava direito, mas já dava pra sentir que havia empatia de cara. Aquela festa na qual eu me diverti muito mais do que nas festas de 15 anos da época que eu tinha 15 anos - porque além de talentosa, carismática, dedicada e tudo o que eu sempre disse, você ainda é novinha. 
   "Pra quem tem pensamento forte, o impossível é só questão de opinião", dizia o convite da festa. E desde ali eu entendi que você estava resumida nesse verso. Quando ouvimos "Você deixou saudade", a pele arrepiou, e cresceu um nó na garganta. Mônica leu minha mente: ouvir essa música e lembrar da Ana dá uma vontade de chorar... Era isso mesmo. Antes que ela terminasse de falar, eu já tinha concordado: caiu uma lágrima, depois outra, depois outra... Chorei quietinha. Não solucei, não. Nem chorei de tristeza, ow! Não fica triste aí, não. Chorei de alegria por ter te conhecido. 
    Depois, começamos a supor que, como nem sua família tinha viajado contigo, você deveria voltar nas férias, etc. Foi aí que o danado do Destino botou o rádio pra dizer "mas ela vai voltar...". Nem preciso dizer que meu corpo terminou de arrepiar, né? "Ela tem força, ela tem sensibilidade, ela é guerreira" só deixou mais claro pra mim o quanto aquele momento ali teve a mão de Deus, garantindo pra todos aqueles apaixonados por você que estavam naquele carro - ou seja: todos nós - que a última vez que nós te abraçamos não foi a última vez coisíssima nenhuma: haverá um milhão de outros abraços. Mas enquanto eles não chegam, mostra aí o teu valor pra quem ainda não te conhece. Até um dia!
Com muito, muito, muito, mas MUITO amor MESMO,
Lu




quinta-feira, 18 de julho de 2013

sei lá, é tanta coisa...

Constatei que as pessoas são melhores através da palavra escrita. Na escrita, nos tornamos personagens. Temos tempo pra pensar em qual palavra escolher, no metro, na rima, na estrofação... Parei pra pensar quantas coisas já li de pessoas que não conheço e achei incríveis, admiráveis. Bem... Cada uma dessas pessoas pode trazer em si um imenso mau-caratismo ou cinismo ou soberba ou qualquer uma dessas coisas que eu abomino. E essa dúvida eu jamais vou poder por à prova. Mas aprendi que nossa escrita não é um reflexo fiel de nós. Acho que não existe reflexo fiel. Nem a fotografia, nem a opinião alheia, nem a visão que fazemos de nós mesmos: não são senão resenha de um grande livro que é cada ser humano e seus mil universos particulares de possibilidades de personalidade.

Qual será a ideia que os que me leem fazem de mim? Será que é sequer parecida com quem eu sou, na verdade? É um tanto decepcionante constatar isso tudo, confesso. Passei tanto tempo me apoiando na escrita como se ela fosse um deus benevolente, e eu, pecadora arrependida! Ai, quantas hipérboles cabem nas palavras que não durariam nem dois milésimos de segundo na vida real...

Imagine! Pessoa, Manoel de Barros, Vinícius de Moraes: como seriam? É muito fácil admirar alguém que se apresenta mascarado em poesia. Poesia é maquiagem. Poesia mascara tudo. Ao mesmo tempo que nos salva, que resgata o melhor de nós, nos destrói. Nos inspira a ser bom ou talentoso ou bem humorado como pensamos ser alguém que se deixa derramar em letra impressa mas, na verdade, a razão da nossa inspiração não passa de mero personagem. Admiramos alguém que não existe. Talvez a única "coisa" realmente autêntica seja o ser humano, vivo. Talvez não existam auto-biografias. O autor de uma "auto-biografia" escreve, na verdade, sobre a imagem que ele tem de si. Ou além: sobre a imagem que imagina que os outros imaginem que ele  tenha sobre si. São camadas intermináveis de persona(gem).

É, destino... Quem diria? No finalzinho do período, depois de já ter entregue os trabalhos sobre o assunto, acho que finalmente me apropriei e compreendi Platão. Deixo aqui minha ode a não mais catarses.

ps. daqui a pouco volto a mim, com certeza, devidamente epifanizada por um ou dois versos de Fernando Pessoa.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Carta aberta a quem souber o que é amor

Nunca fui muito namoradeira. Tive as minhas histórias, mas nada que eu não possa contar nos dedos. Umas mais conturbadas do que outras; outras tão leves quanto curtas; poucas duradouras, intensas, ultrarromânticas. Ah: sou leonina. Isso potencializa qualquer sentimento, vale dizer. Mas o foco desse texto não sou eu, senão quem hoje é alvo do meu mais puro amor.

Trata-se de alguém que me dá de presente o livro que eu queria sem se tratar de nenhuma data especial. "Feliz você!", ouvi, antes de ganhar um lindo Leminski. Alguém que engole a vergonha e se declara, pra mim, em canção, na frente de todos os nossos amigos e desconhecidos da faculdade. O meu amor é alguém que veste meus amigos com blusas que carregam frases que derreteriam qualquer mortal (e os faz ficar perambulando pela faculdade vestidos assim!). Alguém que compra esmaltes MA RA VI LHO SOS pra mim, e ainda traz cupcake, tudo no mesmo dia. Ah, sem falar no Ferrero Rocher. E nas maçãs justo quando eu esqueço de levar lanche pra aula. E nas flores. E nos bilhetinhos. Nos beijos, nos abraços, nos olhares, nos sonhos compartilhados... Enfim, tudo aquilo que faz dessa história um verdadeiro filme com direito a trilha sonora autoral!

Dia desses, quando meu pai disse, textualmente, "preferia que que você namorasse um garoto", eu percebi como minha cabeça mudou. Como meu amor me deu asas. Em outros tempos, eu pensaria que também preferiria namorar um garoto. Sabe, a vida é bem mais fácil pra quem nada a favor da corrente. Até cheguei a gostar bastante de um ou outro cara, mas nada culminou em nenhum envolvimento muito sério. Até já cheguei a raciocinar assim: "não fico mais com nenhuma menina. Acabou essa história. Não quero mais problema". Mas aí apareceu quem solucionou minha tristeza. Quem mostrou que os problemas tem mais é que ser mudados, e não servir de poltrona pra gente se acomodar. E que por isso mesmo, merece de mim toda a gratidão e todo o carinho que eu sou capaz de oferecer. E que, por isso mesmo, não merece ficar vivendo escondida. Aliás, quem é que merece isso? Quem é que merece fingir ser o que não é? 

Sorte é que o tempo passa, e a gente vai crescendo. O mais lindo de crescer é aprender com os próprios erros. E com o tempo, aprender a nem sequer se culpar por ter errado. Acontece! Não se trata de ser melhor que os outros, senão melhor do que você já foi. Hoje, eu amo estudar o que estudo, amo sonhar o que sonho, e amo gritar meu amor. Sem medo algum de represália. Se vierem represálias, serão combatidas. Eu é que não me reprimo mais em nome de uma felicidade de brinquedo. O amor tem que ser livre. O amor É livre! Se não tiver liberdade, não é amor. Se não tiver amor, não é liberdade. Eu te amo, Laisa. Você me alvedria.



sábado, 13 de julho de 2013

é, papel.
não adianta, não.
cê vai ter que ficar em branco, mesmo, porque não há no mundo todinho palavra que me expresse nesse momento.



































-

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Empetalada

Bela canção com poesia e violinos,
Bela menina, belo vestido florido,
Bela lua cresce, nova, cheia de sorrisos
Detalhes me lembram do que me faz indivíduo

Sou só uma gota do oceano que é a Terra
Sou taquicardia que meu próprio peito encerra
Somos os caminhos que nos livram das mazelas
Somos o pincel, papel e tinta da aquarela

E ao mesmo tempo, sou o próprio oceano
Sou dias e meses, réveillon ano após ano
Somos tanta coisa abandonada pelos cantos...
Somos tudo aquilo que nos torna mais humanos

A lua é uma bola feita de risos rasgados
A vida é uma teia de novelos desatados
O mundo é o templo dos que são apaixonados
Sorrisos me renascem quando rimos lado a lado

-


Sempre soube que essa música tinha cheiro de jasmin!