quinta-feira, 24 de abril de 2014

Deixar no ar

Apolo,

Te disse que ia escrever quando chegasse em casa e é só por isso – e não por falta de preguiça ou cansaço – que eu to fazendo isso agora.
Foi assim. Comecei a escrever e não parei enquanto o sono me deixasse continuar.
Assim, sem pensar. Sem revisar. Sem voltar atrás pra me corrigir – como eu deveria agir o tempo todo.
Eu não sei por que eu não consegui olhar pra você quando disse que você é especial ou importante, ou seja lá o que eu tenha dito, mas acho que é pelo mesmo motivo que te fez dizer “minha mãe diz isso todo dia!” naquele tom de brincadeira de quem não sabe ou tem vergonha de lidar com seriedade. Ou não quer deixar o clima sério demais, embora tivéssemos ali a leveza da pena de uma pomba branca voando sem destino com a brisa na beira da praia de Copa num dia de sol ameno. Mas a verdade é que você é, de fato, muito especial. Muito. Não é coisa pouca, não. Você é daqueles que fazem a vida valer a pena.
Porque você me faz perceber coisas em mim que eu sei que me fazem valer a pena. Porque você de vez em nunca se abre comigo e me fala da sua vida, e cada segundo de confiança que você deposita em mim e é extremamente valioso e eu queria que você soubesse disso.
Eu nem acho, por assim dizer, “necessário” estar escrevendo isso tudo pra garantir que você saiba o tamanho da sua importância na minha vida. De certa forma, estar aqui escrevendo pra você até vai contra algumas coisas que eu tenho pensado ultimamente. Porque algumas coisas – as mais importantes, desconfio – não precisam ser ensinadas, racionalizadas, explicadas, entendidas. E eu sei e você sabe (e eu sei que você sabe que eu sei) disso. As coisas mais importantes na vida só precisam ser sentidas.
Mas eu to te devendo três palavras há uns três anos e sei que você merece isso, por menor que seja minha atitude, embora eu esteja escrevendo e não falando... Mas imagine minha voz dizer assim, bem forte: eu te amo.

E ainda vou conseguir dizer isso te olhando fundo nos olhos, talvez com algumas lágrimas escorrendo pela minha pele, e certamente com o coração recarregado de esperanças, pronto pra me fazer seguir em frente, em busca de um rumo qualquer que me faça genuinamente feliz.

Com todo o sentimento do mundo,
Zanni

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Tô de licença!

 Eu já não sou mais a tua pequena, que pena... ♫ Que pena, amor. Que pena que outra pessoa te chame assim. Que pena que você chame outra pessoa assim. Não que seja pena você estar feliz. É pena que minha felicidade não siga o compasso da tua. Ando sincopada. 3 por 3. 1. E você? Calmaria acompanhada de calmaria, imagino. Paixão faz isso. Mãos dadas. Amor. Seu amor, minha saudade. 
  Que pena que eu não pude ser o amor que você julga merecer. Que pena que você não foi o amor só meu pra sempre. Que pena, que pena... Eu só sei me sentir pequena? Diacho! Será que vai vir outro amor? Deve vir. O amor sempre vem, dizem. É só estarmos alinhados com o universo, creio. Mas será que vai ser tão amor do jeito que o nosso era? Prevejo comparações. É a minha cara comparar flores e declarações. Acho que é a sua cara, também. E nessas comparações, é claro, quem ganha é quem ta do teu lado agora. Tanto ganha que continua do teu lado. Já reparou nessa competição surda que existe entre o amor presente e o amor passado? Fico desejando que, mesmo que só de vez em quando, você sinta falta de mim.
  Será que o seu amor de agora é tão Amor quanto o nosso foi? Sinto sua falta. Já passaram tantas águas que nem sei mais distinguir se sinto falta do seu amor ou de um amor qualquer. Já mudei tanto e voltei a ser quem era tantas vezes que não sei bem ao certo no que acredito quando o assunto é esse tal de amor. O amor... Essa complicação toda sem a qual eu não pareço conseguir ser feliz. Me identifico comigo como se eu não fosse eu. Me identifico com o meu próprio sentimento como se me deparasse com uma poesia de um desses grandes poetas. Vinícius, por exemplo. Sinto como sinto quando leio um poema de Vinícius e me identifico profundamente com o que ele diz. Sinto como se encontrasse o meu sentimento fora de mim. Uma espécie de compreensão recíproca, vinda de um mesmo lugar: meu peito.   Tanta coisa boa na minha vida, e eu inerte. Essa peça, e a delícia que é estar no palco e no camarim. A delícia que são os caquinhos de texto, os aplausos, os agudos que brilham, os elogios, a maquiagem e o figurino. O estágio, e a maravilha que é gostar tanto de querer ser professora. O laço que nunca se dissipa, os amigos tão bons, e o fim de tarde olhando Marani. Toda a grandeza da qual tenho percebido ser capaz... É tudo maravilhoso! E eu inerte. Maldita internet.    Não é que eu seja triste todo dia. Tenho fases como a lua, já diria Cecília. E hoje estou cansada, como Clarice. Cansada de fingir que te esqueci. Não é possível lidar bem com a tua ausência todo dia, afinal.  Às vezes escrevo por isso. Escrevi n'alma um poema cujo eu-lírico, após muito penar, superou seu ex amor. Mas hoje, o tal eu-lírico cansou. Hoje, a força está de licença. Como na época em que se brincava de pique-pega. Você deve ter brincado disso também. A gente pedia "licença", e ninguém podia pegar a gente. Licença poética deixa o eu-lírico imunizado da doença que é a obrigação de ser forte todo dia. Hoje, vou ser fraca. Hoje, vou assumir pro espelho que te amo e que sinto tua ausência em cada centímetro da minha pele. Hoje, vou admitir pro meu orgulho que tenho preguiça de seguir em frente. Tenho sido tão forte pra quem sofre de lonjuras, como Caio! Hoje vou me permitir sentir tua ausência e por ela sentir tristeza e não sentir culpa por isso. Hoje eu vou sentir. Ah, vou. Hoje eu vou sentir muito.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

estive pensando...

diz-se por aí que os olhos são as janelas da alma. creio que o avesso também vale: as janelas são os olhos da casa. nos observam viver. observam a vida correr nas ruas - ai, o lado de fora de nós! - e, a fim de não morrer de solidão melancólica, contam tudo o que veem às paredes que, como bem sabemos, tem ouvidos.

deve ser por isso que eu gosto tanto de janelas: elas me mostram o mundo e me mostram a mim bem mais do que qualquer espelho. e bem mais do que alcança a minha vã miopia.