sábado, 3 de maio de 2014

Geração-manifesto-frivolidade

Não, não, não, não, eu não consigo. Não acho que sexo obrigatoriamente tenha a ver com amor nem sou ninguém pra julgar quem lida com sexo de maneira leviana - cada um sabe de si. Mas eu não consigo achar que é só uma questão de pele. Sem olhar, sem arrepio, sem um encaixe absoluto e um certo afeto não dá, não dá, eu não consigo. Não me entenda mal: adoraria conseguir. Imagino que seja uma questão de entrega. Talvez eu só não esteja bêbada o suficiente, mas você está. E minha saia - é bem provável - é suficientemente curta pra você achar que eu tenho uma relação bem mais simples com o meu corpo sob o corpo de outras gentes. Mas ao contrário do que disse Elis naquela música que tocou agora há pouco, meu caro, as aparências enganam sim.

Sinceramente, nem o beijo assim, invasivo, faz sentido. Sem conversa, sem um flerte, sem - talvez, sei lá - suas mãos passeando lentamente pelo meu pescoço. Gosto dos seus olhos, da sua barba, da sua maldita blusa xadrez que me fez te perder no meio de mil caras de blusa xadrez. Gosto do seu beijo, até. Não me entenda mal. Mas não o suficiente para querer te beijar de novo, por exemplo - apesar dos seus olhos. As pessoas quase nunca lembram disso, mas um beijo é algo peculiarmente íntimo, e eu gosto muito dessa palavra - "íntimo" - porque ela diz exatamente o que eu quero dizer. É como se a palavra entrasse em mim quando eu a profiro: íntimo. Depois, ela escorre pelos cantos da boca, como escorre doce pelos cantos da boca de quem se delicia.

Quando eu pergunto quem é você, tudo bem se resumir em "João". Mas isso é muito vago, entende? Minha pele não quer saber teu nome. Meu corpo não ta interessado na faculdade que você faz. Eu queria mesmo era saber sua cor favorita, saber se você chora quando vê um filme triste, se acredita em deus e qual música você mais canta enquanto toma banho. Bacana você morar perto de uma saída do metrô em Copacabana, mas, sinceramente, acho melhor você procurar outra menina de saia curta pra te acompanhar na volta pra casa. Boa noite.


Um comentário:

  1. Quão pessoal é esse texto?
    Não sei, não vou me aprofundar nessa descoberta. Apenas aceitar sua opinião do começo ao fim.

    Gosto de como vê as relações e como dirige seu corpo através do próprio entendimento. Gosto da pequena história se formando dentro de um desabafo e criando vida além do ponto final, além do boa noite.

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Obrigada pelo comentário! Vou ler, e depois publico e respondo, ta?