quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A feira


Um homem entra pela porta de trás num ônibus que só tem três passageiros, mas fica de pé, em frente à roleta:

- Bom dia. Desculpa estar atrapalhando a sua viagem. Mas eu to desempregado. Minha mulher ta doente. E eu vim aqui pra pedir ajuda de vocês. Qualquer trocadinho serve. Eu podia estar matando, eu podia estar roubando, mas eu vim aqui só...
- Ta maluco, meu filho? – o passageiro na fila da roleta fala, exaltado – Que “podia estar matando”, o quê? Que mané “podia estar roubando”? Podia não! Isso é crime! Previsto no código penal! Eu acordo todo dia cinco horas da manhã, ralo feito um desgraçado, passo meu dia inteiro sentado numa sala gelada, almoço correndo, tenho que chacoalhar num ônibus que cobra um absurdo pela passagem, tenho que usar essa roupa apertada no calor do inferno que ta o Rio de Janeiro, e ainda tenho que ouvir malandro me dizer que podia estar matando? Vai se catar, meu filho! Toma tenência!
- Desculpa, senhor. Eu não quis ofedender.

O pedinte, atônito, desce do ônibus.

- Já vai tarde! – esbraveja o engravatado. Na sua vez de pagar a passagem, percebe que falta dinheiro – Ih, gente. Ta faltando vinte centavos. Alguém inteira pra mim?

Um comentário:

  1. huahusa pior que eu estava concordando com o passageiro até o final boa lição em mim também rsrs

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Obrigada pelo comentário! Vou ler, e depois publico e respondo, ta?