As crianças erram, aos olhos dos grandes normais, o mundo em suas coisas mais óbvias. Distorcem o idioma, gritam intimidades, choram quando contrariadas, correm da mão da mãe, ignoram o perigo. Encantam-se com flores, com cachorrinhos, com o próprio cocô. Mas ninguém as recrimina por errarem: sabe-se que seu pecado é conhecer o mundo há pouco tempo e, por tanto, ainda não terem aprendido a entendê-lo e a viver nele com maestria.
O tempo passa, o que é pequeno cresce, e o grande pode ser normal ou louco. O grande louco erra o mundo, como a criança, apesar de já ter vivido muito. Por algum motivo que mora dentro da própria cabeça, o grande louco peca por não agir como a esmagadora maioria de grandes normais, mas é perdoado quando recebe dos médicos um negócio chamado Diagnóstico. É um passe livre pra ser grande sem ser normal.
Há, entretanto, um grupo de grandes crescidos que não são normais nem loucos. Gente grande que se relaciona poeticamente com a vida, como se jamais houvesse crescido. Gente que procurou médico e não ganhou Diagnóstico, mas que reinventa a realidade como se fosse louco. Costuma-se chamar essa gente pelo nome de artista.
O artista é um maluco com licença poética. Um adulto que finge que não cresceu. É a pessoa que conhece o mundo todo dia pela primeira vez, e faz isso consciente do que faz. É uma pessoa que não desistiu de si, que não gostou de ser normal, que enjoou de ser pequeno, que não ganhou passe livre pra ser louco perante o mundo. É gente que mandou os números e nomes às favas, e, dizem, é bem mais feliz assim.
Lu
Um artista, aos seus olhos, adoraria ler.
ResponderExcluirTudo o que foi escrito define com perfeição milimétrica, todos aqueles que abandonam as regras e as conformidades cotidianas.
Todos desejam ser artistas mas poucos conseguem ser de fato. Pois é natural. Não se cria do nada, não se produz, não se inventa.
Simplesmente é.
Assim como você.