quarta-feira, 4 de julho de 2012

Tudo espalhado

   Eu: tenho facilidade de conversar com pessoas desconhecidas. Gosto do novo (às vezes). Sou muito ética e sempre me orgulhei profundamente disso, mas ando observando que já vacilei muito na vida. Já machuquei muita gente. Já machuquei muita gente querida, e isso é grave. É certo que já fui bastante machucada, mas um erro não justifica o outro. Já machuquei, também, gente a quem sou indiferente. Inclusive, acho que foi por ser indiferente a algumas pessoas que as machuquei. E conheço bem essa dor. Não sei se astrologia funciona como eu acredito que funcione, mas, como leonina que sou, poucas coisas na vida me doem tanto quanto alguém ser indiferente à mim. Tenho uma necessidade infantil de ter atenção. Não em tempo integral - o teatro me ensinou que todo mundo tem sua hora de brilhar -, mas com uma certa frequência. O reconhecimento é um dos meus principais motivos (senão o principal) para viver. "Não suporto a ideia de passar em branco", vou dizer domingo. Gosto de ser bem aceita, mas gosto de provocar. Não gosto de me sentir uniformizada.
    Gosto de plateia, acho que deixei bem claro. Mas gosto (mais: preciso!) de gente ao meu lado, também. Acho que o mundo devia se unir muito mais. Não gosto que me aclamem o tempo inteiro. Soa falso. Já corri de situações onde meu ego viveria feliz e inflado porque elas não me desafiavam. Eram situações onde as pessoas me adoravam de tal forma que agiam como se eu não precisasse mudar nada, e eu preciso do que me desafie. Creio que todos precisamos de desafios que nos façam ter vontade de sair da nossa zona de conforto. Até porque, o reconhecimento depois que saímos da nossa zona de conforto tem gosto de fondue de chocolate no inverno de São José dos Campos. Ser reconhecido sempre pela mesma coisa é chato. Me sinto meio "ta bom, gente, já sei que eu sei fazer isso. Que bom que vocês gostam. Agora eu vou tentar saber fazer outra coisa, ok?". Acho que foi por isso que eu titubeei tanto antes de entrar pra aula de canto. E foi por isso que cismei tanto com ballet, naquela época, e hoje em dia, cismo com o teatro e com a escrita. Não queria que me admirassem pelo que soasse óbvio. Queria e quero que reconheçam que eu sei fazer mais. Acho que eu mesma botei na minha cabeça que a única coisa que eu sei fazer é cantar, e talvez por isso eu fique tão mal quando alguma apresentação relacionada à música dá errado. Freud explica...? Deve ser, mais uma vez, essa minha necessidade de ser reconhecida. Não só pelo que "todo mundo sabe que eu sei fazer", por mais idiota, soberba e fútil que essa preocupação soe. Quer dizer, ter como certeza que eu sei cantar... Esse é um ponto que me cheira à falsa modéstia (coisa que eu tenho verdadeiro asco) e a um outro ponto: eu não tenho certeza que eu sei cantar, haha. Nunca tive. Nunca vou ter. Às vezes enjoo muito seriamente da minha voz. Acho insuportavelmente bonitinha. Com tanta voz insuportavelmente bonitinha por aí, acho que eu queria mesmo era ser Bidu Sayão. Ou Cássia Eller. Um desses extremos, um desses ícones. Talvez eu queira ser um ícone. Mas aí, quando eu me sentir - como já me senti - um personagem, não vou mais querer. Porque personagem cabe no papel, gente não. Gente é mais livre porque é mutável. Só que as pessoas prestam mais atenção nos personagens do que nas pessoas. Acho que, talvez por isso, nós nos preocupemos mais em parecermos personagens do que pessoas. Vestimos a máscara da felicidade, a máscara da despreocupação, da normalidade... Eu, particularmente, me sinto pressionada a agir com base no estereótipo da normalidade para que seja reconhecido por quem está ao meu redor que eu sou feliz. Pra ser normal, você deve gostar do que todo mundo gosta, e não gostar do que ninguém gosta. Só que nem tudo que a maioria das pessoas gosta me apetece. E nem tudo que a maioria rechaça eu considero desprezível. Por outro lado, achei, no rótulo "do contra" uma forma de chamar atenção por ser diferente. Às vezes gosto de me sentir diferente, quando acho que "igual" é sinônimo de medíocre. Às vezes gosto de me sentir igual, quando acho que "diferente" é sinônimo de marginalizado. No fundo, é tudo uma grande preocupação em ser bem aceita. Uma preocupação boba, que me assola desde que eu me entendo por gente. Necessidade de me sentir adequada. Mas aí vem o problema: adequada sob o olhar de quem?
   Eu uso a desculpa da não aceitação do outro sobre mim em n características minhas pra, depois de muito pensar, descobrir que tô culpando é a mim mesma pela minha não aceitação sobre a minha personalidade. Se eu concordasse totalmente com o meu jeito de levar a vida, não tava aqui escrevendo nada disso. Sou contra muitas coisas que faço. Sou a favor de tantas outras que não sei fazer.
   Isso tudo devia estar no outro blog. Aquele que ninguém conhece. Não sei porque quis postar aqui. Eu não leria um post desse tamanho se caísse de para quedas no blog de alguém. Acho que não leria mesmo que alguém que eu conheço me mandasse o link. Mas dane-se. Aqui eu posso escrever o que eu quiser quando eu quiser, e é disso que eu tô precisando: reafirmar o espaço que eu posso ocupar dentro de mim. E acho que, talvez, se trate de uma vontade imensa de gritar no deserto, esperando que alguém escute, desejando que não tenha ninguém por perto.
   Eu, que já pensei tanta coisa diferente sobre o amor, hoje não sei mais o que penso. Sei que to querendo achar um jeito de me bastar, mas não sei se acredito que isso seja possível. Sei que acredito que devia ser. Se fosse pra gente depender da presença de qualquer pessoa ao nosso lado pra sermos felizes, talvez poucos de nós fossemos felizes (ah, talvez poucos de nós sejamos felizes...!). Também acho que tem tanta coisa mais urgente no mundo pra eu me preocupar, mas, o que que pode ser mais urgente do que aquilo que faz meu coração acelerar?
   Tem um abismo gigante entre o que eu sou e o que eu pretendo me tornar. Quero ser quem não tem vergonha de perguntar o que não sabe e não tem nada a esconder quando perguntada. Quero não corar. Quero dreads no cabelo! Quero uma casa no campo onde eu possa ficar do tamanho da paz. Quero que se refiram à mim como alguém que não tem tempo ruim. Quero mil audições! Preciso de um estágio. Remunerado! Quero concentração pra conseguir meditar na próxima lua cheia porque a última foi superficial demais. Quero chegar à uma conclusão sobre o que eu acho do amor. Acho tanta coisa... Outra coisa que tenho pensado ultimamente é que, na vida, existem duas árvores genealógicas que nos influenciam: a linhagem do medo e a linhagem do amor. Todas as nossas virtudes (a compaixão, o altruísmo, o carinho, a disposição, a lealdade, a disciplina, etc) são filhas do amor. Nossas imperfeições (a arrogância, a prepotência, a agressividade, o preconceito, etc), são filhas do medo. O ciúme - que tem um pé no amor e um pé no medo de perder - nasceu do casamento proibido dos dois (acho que isso daria um bom conto!).
   Talvez uma boa metáfora pra definir meu estado de espírito nos últimos tempos seja: quebra cabeça de 2000 peças, todas espalhadas pelo chão. Será que alguém se habilita a montar? Acho que é uma tarefa pessoal e intransferível.
    O mais estranho de tudo que eu não tô feliz, nem triste, nem poeta. Acho que tô quase chegando lá, no vaso vazio do lindo do Stanislavski. Quando chegar, mando notícias.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pelo comentário! Vou ler, e depois publico e respondo, ta?