domingo, 26 de agosto de 2012

Abra o Bico

  Embora eu tenha ficado cada vez menos tempo de bobeira na internet #todoscomemora ainda me perco um bocado nesse mundinho, e, confesso: dessa forma, jogo muito tempo fora. Mas, por outro lado, acabo descobrindo links muito interessantes. Um deles é o Abra o Bico, um blog que eu descobri há algum tempo, mas só agora resolvi deixar de ser ciumenta e compartilhar. Vou deixar aqui os três posts que eu mais gosto pra ver se estimulo alguém a dar uma passada lá. Pra ampliar a imagem, é só clicar em cima.

 
                       (post original aqui)





Quebra-cabeça
Ser meio errado
Faz parte da trama
Talvez se engana 
Quem pensa que amor é só flor.
Por mais que por fora
Essa bela viola encante,
Não existe amor que se sustente
Sendo todo lindo e inocente


 Foi bem difícil escolher os três favoritos. O menino da lua e Boceje também são IN-CRÍ-VEIS, vale muito a pena dar uma olhada. Só não postei aqui porque são mais longos. Mas são maravilhosos, pode acreditar. Vale a pena ler cada linha. Espero que se deleite tanto quanto eu. Boa semana! 


Un bacio, 
Luísa Zanni


domingo, 19 de agosto de 2012

sem título #7

- Vida, quem é o seu consorte?
- A morte.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

sem título #6

Dezessete de agosto
Dezessete de agosto
Dezessete de agosto

(Nunca se escreveu
 poesia mais bonita)

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Irresistível

Olha só o que eu achei pelos meus rascunhos... :)
 Sempre achei morango uma fruta bonita. Mas toda vez que me ofereciam, eu torcia o nariz e dizia "não gosto". "Você já provou?", era o que sempre escutava. E "Não. E nem quero provar" era a minha réplica clássica, sempre na ponta da língua. Um dia, resolvi provar. Devo confessar: de cara, me decepcionei um pouco. Era mais azedo do que parecia ser. Achei que o morango deveria ser doce, insuportavelmente doce, pra combinar com a sua aparência. Mas, na segunda mordida, cheguei à conclusão de que o morango tem o gosto exato que aparenta ter - eu é que não tinha olhado direito. O morango é uma fruta encantadora. Tem algo de misterioso, algo de pueril, algo de feérico... Pode parecer ridículo, mas o morango tem algo sem o qual eu não posso mais viver sem. Talvez porque ele simbolize minha descoberta de que dar uma chance ao desconhecido só por ser atraente pode culminar numa experiência fantástica.

sábado, 11 de agosto de 2012

No mundo do espelho

Para ouvir antes de ler: Dublê de corpo - tinha que ser Leoni 

 Há uma lenda bem conhecida, da mitologia grega, sobre a origem da flor narciso: um homem extremamente vaidoso (homônimo da bela flor), certo dia, debruçou-se sobre um rio, e, tanto tempo ficou contemplando sua beleza refletida na água, que criou raiz na margem do rio, transformando-se em flor. O que nem todo mundo sabe, é que, escondida atrás de uma árvore, estava a ninfa Eco, observando Narciso, apaixonada. Eco havia sido amante de Zeus, e Hera, para vingar-se, lançou sobre a ninfa uma maldição: Eco estava condenada a poder dizer, apenas, as últimas palavras que alguém tivesse dito perto dela. Sua voz seria, a partir de então, um mero eco da voz de terceiros. Pois bem: estava Eco admirando Narciso, escondida, e, quando uma imagem chamou a atenção de Narciso, na calmaria do rio, o semideus, sem saber que se tratava do próprio reflexo, começou a declarar-se para a bela imagem que via nas águas. "Quanta beleza!", exclamava Narciso. E Eco, querendo declarar-se, pode apenas repetir: "Quanta beleza!". Narciso, feliz com a reciprocidade, disse, então: "eu te amo!". E Eco, querendo dizê-lo, repetiu as palavras do amado: "eu te amo!". E ambos ficaram lá, até Narciso virar flor. 
 Hoje me percebi meio Narciso e meio Eco. Passei tanto tempo enraizada em mim, que me esqueci de ampliar meu campo de visão para tanto amor ao meu redor. Passei tanto tempo querendo dizer o que penso, mas minha voz só pode dizer o que era de bom tom... Achei que todos fossemos personagens, e achei que conhecia bem o meu roteiro. Mas me percebi gente. E, como gente, sou muito mais complexa do que um personagem. "Você não é mais a mesma". "Não estou te reconhecendo". "O que aconteceu com você?". Tudo isso e mais tenho dito ao espelho, como Narciso, mas meu reflexo se limita a repetir o que eu disser, como Eco. Minhas afrontas perdem-se no vácuo. Minhas perguntas ficam sem resposta.
 Quando eu achava que era personagem, me sentia parte. Quando percebi que sou gente, busquei me despir dos rótulos que me compunham, e achei que assim alcançaria a plenitude. Mas não alcancei. Estou perdida, estou sozinha, e não me conheço. Costumava me conhecer, e quase sempre gostava de quem eu era. Costumava ser leal, passional, confiar. Precisei ser cuidada e deixei que me cuidassem. Mas, e agora, sem rótulos, quem eu sou? Do que eu preciso? Meu coração bate acelerado sem nenhuma paixão que o estimule a tal. Queria dizer, a quem sinto falta, de quem sinto falta. Quer dizer: saudade disfarçada de falta, por orgulho. Mas não digo, porque o receio me detém. 
 Tudo estaria bem se eu estivesse comigo. Mas não me conheço, e, me desconhecendo, é arriscado confiar em mim. Não saber quem eu sou deveria ser uma aventura instigante, mas não é. Não há intensidade, e eu não estou desesperada. Estou monótona. Entediada. O sol brilha lá fora num céu límpido, e eu não tenho motivos para não estar alegre. Tanto não tenho motivos, que não estou triste. Não estou de forma alguma. Não estou, simplesmente.
 Fui Narciso apaixonado por alguém que não existe. Receio tornar-me Eco de vozes com as quais sequer concordo. Receio, mas não me apavoro. Não sou frágil como já fui um dia, nem forte como espero vir a ser. Não sou frio, nem calor. Nem grito, nem silêncio. Não estou. Não sou. Não sei.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A feira


Um homem entra pela porta de trás num ônibus que só tem três passageiros, mas fica de pé, em frente à roleta:

- Bom dia. Desculpa estar atrapalhando a sua viagem. Mas eu to desempregado. Minha mulher ta doente. E eu vim aqui pra pedir ajuda de vocês. Qualquer trocadinho serve. Eu podia estar matando, eu podia estar roubando, mas eu vim aqui só...
- Ta maluco, meu filho? – o passageiro na fila da roleta fala, exaltado – Que “podia estar matando”, o quê? Que mané “podia estar roubando”? Podia não! Isso é crime! Previsto no código penal! Eu acordo todo dia cinco horas da manhã, ralo feito um desgraçado, passo meu dia inteiro sentado numa sala gelada, almoço correndo, tenho que chacoalhar num ônibus que cobra um absurdo pela passagem, tenho que usar essa roupa apertada no calor do inferno que ta o Rio de Janeiro, e ainda tenho que ouvir malandro me dizer que podia estar matando? Vai se catar, meu filho! Toma tenência!
- Desculpa, senhor. Eu não quis ofedender.

O pedinte, atônito, desce do ônibus.

- Já vai tarde! – esbraveja o engravatado. Na sua vez de pagar a passagem, percebe que falta dinheiro – Ih, gente. Ta faltando vinte centavos. Alguém inteira pra mim?

domingo, 5 de agosto de 2012

Por um fio


- Boa tarde. Meu nome é Juliana. Eu gostaria de estar oferecendo...
- Oi, Ju! Que bom que cê ligou! Eu to tão sozinha nessa casa! Achei que esse telefone não ia tocar nunca.
- Senhora, eu...
- Mas me conta, que que cê tem feito de bom?
- Senhora, eu estou no meu horário de trabalho, e eu gostaria de...
- Nossa, mas isso é um inferno, né? A gente nunca tem tempo pra gente! É só trabalho, trabalho, trabalho... E quando não é trabalho, e aporrinhação em casa. É por isso que você não sai desse lugar, menina? Porque vai ter aporrinhação em casa?
- Senhora, eu preciso trabalhar, por favor, me escuta: eu gostaria de...
- Mas que ideia fixa com trabalho! Escuta o que eu to te dizendo: separa mais tempo pra você. Você merece! Eu tava tendo aporrinhação em casa e no trabalho, né. Aí pedi demissão do trabalho e mandei todo mundo pra fora de casa. E tô ótima, em casa, sem ninguém pra me atazanar as ideias. Só que eu já limpei a casa toda três vezes, né.
- Senhora, por favor!
- Daí me bateu uma solidão, menina! Por isso que foi bom cê ter ligado. Tava precisando mesmo conversar com alguém. Cê não é de falar muito, né? Mas tudo bem, a gente tem que aceitar os amigos como eles são. E se você não tiver nada pra falar, eu tenho é assunto de sobra!
- CALA A BOCA, CACETE! ME DEIXA TERMINAR!
- Nossa, gente. Quanta deselegância. Eu aqui tentando ajudar, cheia de boa vontade, e sou tratada assim? Sou cachorro não, minha filha, pra ser tratada assim! Eu, hein. Escuta aqui: você não ta merecendo que eu use meu tempo contigo, não. Se não tem o que fazer, tem tempo livre pra aporrinhar os outros, vai procurar um emprego decente que te ocupe, viu? Que meu ouvido não é pinico, não. Passar bem.

A dona de casa, enfurecida, desliga o telefone.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Valente

 Agosto chegou. E com a sua chegada, a contagem regressiva pro meu aniversário se torna inevitável. Estava precisando de um renascimento e, hoje, o ganhei. A catarse de hoje foi um presente adiantado do universo pra mim. Vale dizer: hoje é dia de Imbolc. Na Wicca, comemora-se o crescimento do Deus e prepara-se para receber a primavera. Aproveitei pra comprar dois livros lindos numa linda feira perto da minha casa que anda vendendo livros a preço de banana.

Bu. Vou te assustar de noite.


 Fui assistir (ao lado de duas das pessoas a quem mais amo na vida) Valente: o filme da Disney cuja protagonista tem o cabelo incendiado (e bagunçado) e - surpresa das surpresas - não fica com o príncipe-encantado-no-cavalo-branco ao final da história. A protagonista de um filme da Disney (essa maravilhosa máquina de estimular submissão cor-de-rosa), caros leitores escassos e invisíveis, fica sol-tei-ra no final da história. Por escolha própria! Pela tradição, ela deveria se casar, mas acaba fazendo a mãe entender que prefere esperar para se casar quando ela quiser se ela quiser, ao invés de obedecer, cegamente, uma tradição. Merida é uma princesa que não se porta como princesa: se porta como crê que deve se portar e não se torna menos princesa por causa disso. Por isso ela é "Valente". Isso mexeu comigo a ponto de emoção transbordar de mim em forma de lágrima. E isso não acontecia há tempos.

  É fato que eu me identifiquei em mil coisas com ela - da cor do cabelo ao relacionamento conturbado com a mãe, passando pela crença em magia e pela vontade de transgredir tabus - mas, sério: acho que qualquer um que tenha sangue correndo nas veias vai se encantar com a trama. O desenrolar do filme é tão encantador ao tocar em temas como família, respeito, união,  que a parte "casal" da história é totalmente dispensável. Na minha opinião, foi um grande passo para a Disney. Depois da Tiana, uma princesa negra super independente, veio essa linda da Merida, que fica solteira, no final das contas, e ta tudo muito certo sendo assim. Mas como epifania quando vem, vem à tona, não bastava ter trailer do próximo filme da Tinkerbell, o La Luna (que é um curta lindo da Pixar que eu, infelizmente, não to conseguindo achar inteiro no youtube), nem ser absolutamente maravilhoso e catártico: tinha que ter essa musiquinha pra ficar na minha cabeça até o fim dos tempos, né?


vou correr, vou voar e o céu eu vou tocar


Bem, que venha agosto. 
E, já diria Caio, que seja doce.
Ciao!