segunda-feira, 29 de abril de 2013

a voz da vó

canta, canta mais pra mim
tava tão bonito te ouvir cantar
me responde em italiano
senão eu finjo que nem te ouvi falar

muda o tom pra falar com o teu pai
e vê se ajuda mais tua mãe em casa
aquela moça é despudorada
e a sua gata tem cara de gente

porque o seu avô foi embora tão cedo?
vento nas costas dá dor de barriga
minha irmã virou uma carola chata
e se eu não fosse católica, era judia


-

E agora, nonnina, quem é que vai me desejar buona notte? Quem vai dizer que meu esmate azul é "hororoso", com aquele r só seu? Chamar minha gata de pulguenta, reclamar de frio em pleno verão no Rio de Janeiro,  citar Confúcio e dizer ah-ah quando alguém diz alguma coisa que você não gosta? Tudo bem, eu sei: você não escolheu viajar pra tão longe. Espero que tenha feito boa viagem, e que tenha conseguido descansar. Porque agora já ta na hora de você botar suas cascas de ovo nas plantas pra elas crescerem mais rápido, viciar todo mundo naquele seu molho de macarrão de-li-ci-o-so, deixar todos os anjos com cheirinho de alecrim e dançar muito Glenn Miller com o vovô, que com certeza ta te olhando com a cara mais apaixonada do mundo. Não esquece de me mandar aquela prometida dor de barriga quando eu fizer besteira, ta? Vou ficar atenta. E você vai me ver casar e ter filhos, sim, senhora. De camarote! Te amo demais, vó. Vou sentir saudade até meu dia de viajar, também. Buona notte. ♥


sábado, 27 de abril de 2013

Lembranças do que ainda vai acontecer

   Cheguei. Você chegou antes, já estava preparando meu café. Você me chamava mentalmente de maluca. Eu sorri. Sentei na minha poltrona favorita, aquela preta perto da sua estante de livro. Observei. Observei seu andar. Seus dedos sorrindo ao pisar no tapete. A cintura se apressando para chegar perto do meu corpo cansado. Você finalmente chega. Com o aroma do café. Não sei o que é mais quente, sua boca ou o café. Bebi os dois. Perguntei como foi o seu dia. Não consegui prestar atenção no que falava. É porque sua boca dançava com o som da sua voz. Precisava de um par, pensei. Parei no meio da música. Eu sei você, você detesta quando faço isso. Desculpa, não resisti. E você, de raiva, mordeu meu lábio inferior, parecia dizer "odeio quando me interrompem". Leoninos são assim. Gostam de ser sol. E você parecia um sol, mesmo. Tão quente. Suas mãos subiram pela minha nuca acordando um arrepio no meu braço esquerdo. Você abriu os olhos e sorriu. Tomei um gole de café. Você me observa com olhos de mar, indo e voltando para cada detalhe do meu rosto. Sua mão passa e fica em cima do meu ombro. Você sabe do meu cansaço. Conversamos com os olhos. E esse tempo inteiro, meu braço passava pela sua cintura. Fiquei me sentindo o Niemayer desenhando as curvas da sua coxa, quadril e novamente a cintura.


ps. Sempre fui de sonhar. Mas desde que você chegou, com teus sonhos parecendo os meus, alterei um pouquinho a rota das minhas próprias metas. Sempre sonhei, por exemplo, com o dia de ter minha própria casa. Chegaria cansada e encontraria minha gata miando para mim por comida. Hoje, sonho em encontrar também você, olhando para mim por carinho.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Batatalha

   Da tampa da caixinha de chá fez-se ringue, e de tal ringue fez-se cenário para briga. Qual não foi minha surpresa ao entrar na cozinha e me deparar com uma batalha de batatas.  Perguntei pelo que brigavam, mas nenhuma das duas me respondeu. "Batatas não falam", pensei comigo mesma.Foi tudo muito rápido, não sei como nem porque começou. Mas ao menos consegui registrar o acontecido. As cenas da batalha foram sanguinolentas, e optei por expor apenas os momentos iniciais, nos quais as batatas em questão lançavam olhares fulminantes uma à outra.






     
THIS IS SPARTAAAA!

Depois disso, foi batata pra tudo que é lado.

Beijos embatatados,
Luísa Zanni

quarta-feira, 17 de abril de 2013

(in)(a)fluências

rio de mim
desaguando
em você

sábado, 13 de abril de 2013

Sobre fazer resenhas e poesia concreta

  Outro dia finalmente terminei de ler um livro que havia comprado ano passado: Teatro brasileiro - um panorama do século XX. Entre outras várias peças, o autor, Clovis Levi cita Revolução na América do Sul, do Boal, que eu me lembro de ter lido e adorado. Mas quando tentei lembrar da história... Frustração. Não conseguia! Nem por milagre, nem com feitiço, nem batendo com a cabeça na parede consegui lembrar a história. Sei que era um texto bem crítico e bem humorado. Sei que, quando li, achei genial. Mas não consegui me lembrar os porquês. E me veio em mente, como um insight, a lembrança de que eu memorizo melhor as coisas que escrevo. E caso esqueça, posso ler o que escrevi e relembrar. Pensei assim, então: se eu resenhar os livros que ler, vou me lembrar das histórias para sempre! E foi assim que decidi fazer uma resenha de todo livro e filme que eu ler e assistir - já me esqueci do enredo de vários filmes que assisti e adorei, também. Devo mesmo ter uma memória de peixinho dourado, como me disseram uma vez. 
   Estava decidido que resenharia todo livro a partir do próximo que começasse a ler. Eis que Toda poesia (aquele livro laranja do Leminski que todo mundo ta lendo, agora) caiu do céu pras minhas mãos (como caiu do céu pra minha vida quem me deu esse livro lindo). Como ainda não terminei o livro, ainda não fiz nem rascunho de resenha. Tampouco sei se, resenha feita, vou querer postá-la aqui no blog. Mas sempre gostei muito de Leminski, desde que era pequenininha do tamanho de um botão e a então TVE exibia poemas dele em texto, som e cor. Sabia poeminhas dele de cor sem nem saber o que era poema, nem quem era Leminski. E é por gostar tanto da simplicidade dos textos dele, e da capacidade dele de ser simples sem ser raso, é que deixo por aqui uma estrofe tímida que já foi escrita há alguns meses. Tentei encaixá-la numa música, mas não prestou. Só que, sem música, ela ficou solta demais. Mas aí, lendo Leminski, lembrei da poesia concreta. E lembrei que nunca havia feito nada assim. Aí me deu vontade de fazer, como normalmente tenho vontade de fazer tanta coisa que nunca fiz. E não é que a poesia concreta virou concreto e prendeu minha esfrofezinha no chão, bem do jeito que eu queria que ela ficasse? Espero que les guste.


p/ leminski
pra onde será que vai
o pedido da gente
quando a estrela cadente

                                           c
                                             a 
                                                i

                                                    ?


Beijos com gosto de sonho,
Luísa Zanni

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Fotopoesia

   Lá estava eu, protelando leituras e demais afazeres, mergulhada no facebook, quando me deparei com uma página incrível: Literatura Nalomba. A ideia é a seguinte: construir poesia, transmitir mensagens com títulos de livros diversos. E pensar num cenário legal pra foto. E pensar num título pra sua criação. Aqui a "receita" dada própria equipe do projeto:



   Achei tão, mas tão divertido, tão interessante, que fui imediatamente fuçar meus livros para ver o que eu podia fazer. Meu quarto ficou um caos de livros, objetos aleatórios e câmera. Até minha gata brincou de modelo pra me ajudar. Deixo aqui, além das fotos, um convite, pra quem não conhecia o projeto entrar na dança. Asas à imaginação, gente! Não é caro se divertir, mesmo que se trate de uma diversão preciosa dessas.



                            Modernidade líquida
    


    Constatação
 



                                        Desejo
 



No teu colo




                                     Amor


  Quando você acha que terminou de ler um livro, vem um projeto desses e te mostra que existem muitas possibilidades de leitura além do que julgava sua vã filosofia, né? 

Boas releituras,
Luísa Zanni