terça-feira, 28 de maio de 2013

Hace un mes se ha muerto mi abuela

Que não se pense que não sofro: sofro com a distância. Não me adapto ao tic tac. Dizem que isso faz parte do crescer. Ai, que falta sinto dos recreios! E que saudade imensa da Soninha!... Nossa tia Nastácia particular. Dividir o lanche com a melhor amiga.... Calcular o valor de dois mais dois, fechar o caderno e ir ver desenho até a hora de ir pra escola. Na escola, continuar brincando. Correr, subir em árvore, ser boa aluna sem saber como, porque ou o que isso significa. Ser feliz sem propósito. Todo dia, um depois do outro, cada um mais iluminado que o anterior.

Eu queria mesmo era uma máquina do tempo. Mas para ir e voltar sempre, que brincar de gente grande tem também seu lado bom (meu lindo amor, você entra aqui). Queria vovó contando história pra desanuviar minha cabeça. Queria ela por perto mesmo sabendo que não ia lhe contar nenhuma de minhas aflições.

Queria de vez em quando mergulhar na autêntica infância. Sei que esse ranço que trago dela nunca vai me largar, e isso é que me faz ter a parte de mim da qual me orgulho. Mas queria mergulhar porque, da infância, não havia olhar nostálgico sobre o passado. Não havia essa frustração incorrigível sobre minha incapacidade de acertar sempre, que me atormenta dia e noite. Nenhum "sinto muito" vai corrigir nada. Não enquanto eu não aprender a desculpar a mim.

ps. sorte ainda ter a poesia pra me servir de ladrão.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

3 segundos.



Saí do trabalho. Fugi pra casa. Li a minha, sua, a nossa música, e imaginei você comendo macarrão e compondo essa música, me desenhando em cada palavra. Resolvi ir de ônibus a aula. Queria ver gente, um pouquinho do céu. De propósito peguei o ônibus que mais dava volta. sentei bem na janela. Aquele vento. Não liguei se estava atrasada, ou que meu cabelo ia bagunçar. A paralisia tomou conta de mim quando descendo um viaduto vi o por do sol. Como se Deus quisesse me presentear. Em 3 segundos o mundo parou, e eu me lembrei de você sorrindo e me recebendo com um cafuné. Lembrei da sua testa franzida me dizendo para não fazer cócegas, me lembrei de como tenho a certeza de uma vida inteira com você. Durante esses 3 segundos, lembrei de você. Sei, é incomparvável. Mas assim como aquele por do sol no onibus, Deus me presenteou você. Assim que pisquei os olhos, e o céu continuou a girar só tive tempo de fotografar uma memória: você.






P.s.: Eu confundi o chão com mar. Essa imagem é como uma lembrança.
O que ela é pra mim, é outra coisa pra você. Do que é feita a nuvem? De lembranças.


sábado, 11 de maio de 2013

Um único tom de laranja

Neon. Assim é a capa de Toda Poesia, a compilação "definitiva" da obra de Paulo Leminski. A capa obviamente nos chama atenção, mas o tesouro que ela guarda é mais discreto e singelo: trata-se da mais fina poesia. 

Leminski é daqueles poetas que habitam o inconsciente cultural brasileiro. Não há filho deste solo que nunca tenha lido ou ouvido "A vida é bela, basta apenas olhar pela janela". Leminski faz parte da nossa bagagem tal como o fazem: versos do hino nacional, citações populares de Clarice, trechos de canções de Tim. Mas a obra de Leminski vai infinitamente além do que os clichês alcançam. É de uma sensibilidade e simplicidade que causam frisson. Não é à toa que tal antologia tenha sido capaz de superar as vendas de 50 tons de cinza, trilogia que fez um sucesso estrondoso por aqui. Paulo, em seus versos, faz poesia sobre amor, sobre metafísicas, sobre questionamentos humanos tão inevitáveis como a própria existência.

Publicado neste ano de 2013, o livro está nas vitrines de diversas livrarias custando em torno de R$30. Belíssimamente editado pela Companhia das Letras, torna quase palpável a tão concreta poesia de Leminski. São mais de 390 páginas de poesia colhida madura do pé, além de uma apresentação de Alice Ruiz, poetisa e esposa de Paulo; um apêndice com comentários sobre Paulo escritos por figuras como Caetano Veloso, a própria Alice Ruiz e o próprio Paulo Leminski; e um índice de primeiros versos (muito útil, já que rara vez os poemas de Leminski acompanham títulos). Destaque para o comentário tecido por Leyla Perrone-Moisés, entitulado "Leminski, o samurai malandro", do qual não posso evitar transcrever pelo menos esse trecho: "Leminski já foi e já voltou, e quem não percebe a inteireza de suas meias palavras ainda nem saiu de casa". 

Leminski é, sem dúvidas, um ourives da linguagem, como o tentavam ser os poetas paransianos, mas sem a pretensão de sê-lo, o que, em minha humilde opinião, o torna muito mais poeta do que muitos dos ditos poetas aclamados por aí. O cara brinca de fazer poesia, mas brinca sabendo que brincar é coisa séria, e nos deixa de herança viagens pelos mundos do amor, da incoerência, do concreto e do zen.

É possível enxergar as figuras que o autor cria quando se propõe a ser concreto, cimento, palpável.

"aqui

nessa pedra
alguém sentou
olhando o mar

o mar 
não parou 
pra ser olhado

foi mar 
pra tudo quanto é lado"
 

(Não sei quanto aos demais, mas a mim chega até o cheiro da maresia depois de devorar os versos acima).

Além de tudo, o curitibano possui uma humildade que só o torna ainda mais admirável. Leminski deixa claro que para se fazer poesia, bem como para a felicidade, não se necessita muito. 

"inverno
primavera
poeta é quem
se considera"

-

"(...) nada tão duro
que não possa dizer
           posso"

O poeta é como criança, parece brincar o tempo inteiro. Mas escolheu a linguagem para brincar.

"(...) ali
bem ali
dentro da alice
só alice
com alice
ali se parece"

-

 "sol-te"

-

"se 
nem
for 
terra

se
trans
for 
mar"

Transparece, apesar da grandeza de seu talento, uma certa insegurança que, há quem diga, é inerente ao bom artista.

"eu queria tanto
ser um poeta maldito
a massa sofrendo
enquanto eu profundo medito

eu queria tanto
ser um poeta social
rosto queimado
pelo hálito das multidões

em vez
olha eu aqui
pondo sal
nesta sopa rala
que mal vai dar para dois"

-

"(...) vai vir o dia
quando tudo que eu diga
seja poesia"

Para não se dizer que ele só faz poemas curtos, "a lua no cinema":

"A lua foi ao cinema,
passava um filme engraçado,
a história de uma estrela
que não tinha namorado.

Não tinha porque era apenas
uma estrela bem pequena,
dessas, que, quando apagam,
ninguém ia dizer, que pena"

Era uma estrela sozinha,
ninguém olhava pra ela,
e toda luz que ela tinha
cabia numa janela.

A lua ficou tão triste
com aquela história de amor
que até hoje a lua insiste:
- Amanheça, por favor!"

E pra finalizar, um poema que foi musicado apresentado pela Zélia Duncan no Música de Bolso, misturando em um vídeo só três paixonites minhas:


(Também vale a pena conferir UTI e Oração de um suicida).

Faixa preta no judô, o poeta-crítico-professor ocupa um lugar de honra na literatura. Como não fosse o bastante, Paulo escreveu diversos ensaios. Dentre eles, um sobre Poe (disponível aqui), o que, por si só, já seria o bastante para me fazer simpatizar com ele. Ao mesmo tempo tempo, Poe ser merecedor de um ensaio de Leminski também me dá mais gana de ler Poe. Aproveitando o ensejo, registro aqui que foi com muito gosto que escrevi a presente humilde resenha sobre a obra de Leminski, e que devo postar um trabalho que fiz há algum tempo sobre o maldito poeta d'O Corvo. Ai, deuses da poesia. Lerescrever é bom demais da conta!

incenso fosse música
"isso de querer
ser exatamente o que a gente é
ainda vai nos levar além"

Depois de tanta poesia, nem precisa de beijo, né?
Luísa Zanni

sexta-feira, 10 de maio de 2013

dez de maio

Acordei com a sensação de que estava esquecendo alguma data importante. Já não é a primeira vez que um dez de maio me faz sentir assim.Mas hoje eu entendi. Hoje, finalmente, eu entendi. Parece que tudo o que eu vivi se justificou hoje, e que hoje justifica tudo o que eu ainda vou viver. Hoje, terminou de ser preenchido aquele espaço vazio que eu trazia dentro de mim. E eu não tenho mais medo de nada. Não tenho medo de quebrar a cara, não tenho medo de acreditar na eternidade. Não ouso duvidar da eternidade. Soa absurda a simples hipótese de não estar ao seu lado. De uma maneira que nunca senti. De uma maneira que não me pesa. De uma maneira que me sorri. E é de dentro do teu sorriso que eu quero fazer brotar as mais belas canções que ainda vou escrever, e é do teu lado que eu quero te ensinar a não ter medo do escuro ou da chuva. Não é absurdo nem não ser absurdo o não ser absurda a rapidez com a qual tudo tem acontecido. Acho até injusto chamar de rápido o nosso tempo. É nosso. Nenhuma palavra já criada pode se meter no que há de nosso. Só nós e as nossas palavras. Nossa linguagem. Chego a duvidar, até, que alguém no mundo já tenha sentido isso que eu sinto hoje. Não sei nem mais se alguém no mundo já soube o que é amor. Sei que sei, desde o dia em que eu olhei pra você pela primeira vez. Sei que aprendi que sei hoje. Pra nunca mais esquecer.

sobre aquela página que eu já virei

meu coração está em paz.
como minha melhor amiga me disse há pouco, apaixonado a gente fica assim.
as músicas cafonas ficam mais bonitas.
o céu fica mais azul.
a tristeza tem que fazer mais força pra tirar a gente do eixo e penetrar na nossa paz.
e por isso é bom estar apaixonado - principalmente quando o amor vem de volta pra gente desse jeito bom.

e eu sei que é só por isso que eu não to triste agora.
porque, de alguma forma, eu ainda me importo profundamente com a felicidade de quem já disse que não me importava. de quem já achei que não me importasse, de tanto querer não me importar.
fazer o que? disse que ia me importar pra sempre, e vou mesmo.
não que eu vá mover qualquer palito, não que eu vá fazer qualquer contato, não que eu vá agir no mundo extra-luísico.
não que a sua tristeza me deixe triste, como já foi um dia. não, não hoje, porque eu tenho estado feliz demais.
mas mesmo a minha felicidade, grande e com gosto de para sempre que ela tem, parou pra te abraçar mentalmente. e eu só queria que você soubesse disso, mesmo que você não tenha obviamente (ou provavelmente) qualquer interesse ou preocupação com a minha vida. mesmo que você não passe por aqui ou qualquer outro lugar por qual eu passe. mesmo que provavelmente nós não tenhamos mais qualquer tipo de capacidade telepática. isso se perde com o tempo, como uma flor que murcha se não é regada. isso se ganha no cotidiano, coisa que nós possivelmente nunca mais saibamos o que é. de todo modo, caso você passe por aqui, saiba que tem uma bateria de energia positiva separada pra você, e que teu nome está presente em minha reza.

boa vida
e lembre
que a vida segue

aprenda
que o amor sempre volta
como eu aprendi
depois que a gente disse nunca mais
e hoje eu sei
que foi melhor assim

do fundo do meu coração,
paz

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Kleinsorgen (ou "Pequenas preocupações")

 Direitos autorais na internet são uma questão complicada. Sabendo disso, confesso meu medo de postar aqui uma música minha. Não que eu seja uma brilhante compositora, mas eu tenho um certo afeto por essa canção - que vem depois de uma breve apresentação - e ficaria muito, mas muito triste MESMO se me roubassem ela. Já postei várias letras de músicas minhas aqui no blog, e, se não me engano, já cheguei inclusive a postar alguns áudios das respectivas canciones. Afinal, não é muita gente que lê isso aqui, de todo modo... Enfim: dessa vez me deu na telha postar o vídeo, e eis-me aqui.
   Essa música nasceu da seguinte situação: minha queridíssima amiga Thayrine é uma pessoa com muito lirismo, o que é relativamente natural vindo de alguém que curse Letras. Volta e meia, Thay dizia alguma coisa que me fazia retrucar: "ei, isso dá samba!". Sempre me pegava dizendo que alguma frase ou ideia dela daria uma boa cena ou uma boa música, mas nunca botava no papel as ideias que ela me dava sem querer. Um dia, ela disse que tinha feito um trabalho que merecia 10 só pela frase "a rígida métrica das horas" (KLEINSORGEN, Thayrine). E eu, pela milésima vez, disse: "uau, bonito isso! Dá música!". E ela? PLOFT: jogou na minha cara que eu nunca criava o que podia criar a partir das palavras dela. O que eu poderia fazer com um tapa na cara desses? Bom, fui fazer música.
   Composta, enviei a letra à minha amiga que disse gostar do que leu (espero que tenha gostado mesmo, porque ela é permeada de carinho. ♥). Só faltava uma coisa - o título. Eu disse: "Thay, fiz a música que prometi que ia fazer. Agora cabe a você encontrar o nome dela". Thayrine me enrolou, me enrolou, me enrolou até não poder mais. Deixei a música sem título até um insight recente. Perguntei qual era mesmo o significado do sobrenome dela, Kleinsorgen, e ela me lembrou: pequenas preocupações. Daí pensei: perfeito! Achei o nome da música! Agora só faltava cantar a música pra ela. Como quero que mais gente conheça essa canção, resolvi postar o vídeo que fiz hoje cinco minutos antes de sair pra aula (cheguei atrasada em Psicologia da Educação, vale dizer) então, a quem assistir, peço perdão pelas notas fujonas e pela letra que eu resolvi esquecer no meio do caminho. No mais, espero que gostem. Principalmente a Thay. (:

 Vídeo aqui.

Kleinsorgen
Me chamo Menina-Passarinho
Lanço aos quatro ventos os  meus ais
Mãe Terra construiu meu ninho
Feito só de notas musicais

Há quem diga que sou condoreira
Voei alto de longe daqui
Só que ninguém sabe uma besteira:
Pássaros tem medo de cair

Enquanto houver canção
Eu não sou só
Enquanto houver canção
Posso viver

Enquanto houver canção
E amanhecer
Canto pra mim
Encantos pra você

Acho que me perdi do meu bando
Vento dia desses sussurrou
"Presta atenção no meu comando:
Voa, passarinho desertor!"

A rígida métrica das horas
Faz o tempo me desesperar
Deixo, antes de ir embora
Promessa de volta, Sabiá

Enquanto houver canção
Desato os nós
Enquanto houver canção
Sou mais que ser

Enquanto houver canção
Estamos sós
O sonho, o tempo, o vento
E minha voz







Beijos passareiros,
Lu