quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

2ª chamada - Sociologia da Educação

Isso é insano.

A gente lê e não tem tempo de pensar sobre o que leu: outra leitura me atropela antes que eu pense. Antes que eu bote o nariz pra fora de casa e diga “ei, estranho! Li um livro muito bom esses dias, gostaria de te indicar”. E mesmo nas raras vezes que nos obrigamos a ter esse tempo, dificilmente haverá alguém – estranho ou conhecido – disposto a jogar umas duas horas “fora” numa conversa sem objetivos.

Para isso, é necessário matar aula. Dormir tarde. Fazer cara feia pra ninguém chegar perto. Só aí então temos direito ao silêncio. À solidão saudável. À quietude.

Porque, durante as férias, fins de semana e feriados, tanta coisa nos obriga a sair de casa e sorrir sem os olhos, tantas fotos pedem para ser tiradas, tanta felicidade pede para ser exibida, tantas risadas precisam sair de nós depois de um longo período estudando num sistema maçante, que não temos tempo de ficar sozinhos. Não temos tempo de brincar de sério com o espelho. Nem tempo de rir pro espelho, que é o que torna brincar de sério uma brincadeira.

Só rimos pro espelho pra ver se fica bem na foto; se fica bem pros outros, olhando, acreditarem que estamos felizes.

Não temos tempo nem de saber se estamos felizes!

É insano!                     

Não posso dizer a quem eu amo que não quero vê-los no fim de semana sem magoá-los a menos que diga que vou fazer outra coisa. “Não vou à oficina de teatro porque vou ao piquenique”, ou “não vou ao piquenique porque tenho que estudar”. Aí sim. É necessário que me ocupe. Mas ninguém vai ouvir “não vou ao piquenique nem à oficina, e nem vou estudar porque não consigo. Vou ficar sozinha em casa pensando no que eu quero. Em quem eu sou. No quanto eu posso. Desculpa, mas fica pra próxima”. Não digo isso sem ver caras feias. É inconcebível ficar sozinho fazendo nada por escolha própria.

Porque não estamos acostumados a pessoas que se sentem bem sozinhas, consigo mesmas. Não tivemos tempo para acostumar.

É insano ter que escrever quatro páginas para resumir uma apostila sobre a vida de Durkheim. É insano que eu seja obrigada e não convencida a ler esse tipo de coisa. É insano porque não é isso que meus dedos querem escrever. Sociologia da educação é incrível, mas não é nisso que eu tenho conseguido pensar. O que é insano porque trabalhos têm prazos de entrega.

É insano que passando do prazo isso comprometa minha nota, como se um número medisse o valor do meu saber. É mais insano ainda que sempre tenha sido assim.

Eu quero saber é o que Durkheim tem a dizer sobre isso tudo.

E isso tudo não tem nada a ver com facebook nem twitter nem qualquer rede social esquizofrenizante que ainda venham a inventar. Essas plataformas só pioram o estrago. O vírus ta no seio dessa sociedade maluca, corrida, que exige que a gente esteja em atividade o tempo inteiro e permite uma média de seis horas de sono por noite para nos prepararmos para um mercado de trabalho que muito se assemelha ao inferno.

O problema não ta nem na correria... O problema ta em como lidamos com ela e em como não lidamos com nós mesmos nem com os outros.

Quando paramos de nos conhecer? Será que algum dia já nos conhecemos?

Não sei de muitas coisas.

Só sei que esse texto que eu acabei de cuspir na cara de quem estiver lendo agora é bem mais sincero do que o meu trabalho de sociologia.

E eu devo passar com louvor em sociologia.

Mas não devia. Não tenho coragem de mergulhar na loucura que é essa sociedade. Tampouco tenho coragem de me isolar dela.

E "tudo o que importa" é que eu terminei a prova a tempo.
(Pff).

Um comentário:

  1. Esse é o tipo de texto que a gente levanta da cadeira, aplaude de pé, volta a sentar e diz: "Concordo com cada letrinha dele. Não consigo dizer mais do que isso, por isso deixo aqui o trecho que mais me impactou.".
    É meu caso.
    Eis o trecho:
    É insano ter que escrever quatro páginas para resumir uma apostila sobre a vida de Durkheim. É insano que eu seja obrigada e não convencida a ler esse tipo de coisa. É insano porque não é isso que meus dedos querem escrever. Sociologia da educação é incrível, mas não é nisso que eu tenho conseguido pensar. O que é insano porque trabalhos têm prazos de entrega.

    É insano que passando do prazo isso comprometa minha nota, como se um número medisse o valor do meu saber. É mais insano ainda que sempre tenha sido assim.


    Um abraço, Luísa! ♥

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Obrigada pelo comentário! Vou ler, e depois publico e respondo, ta?