domingo, 26 de janeiro de 2014

Cíclica

Era final de período quando nos conhecemos. Antes mesmo de lo nuestro virar namoro, vivemos aquele amasso memorável no sofá da casa do teu amigo. Lembro que antes de ele ir dormir, estávamos naquele mesmo sofá, comportadíssimas, assistindo A Invenção de Hugo Cabret. Não terminamos de ver o filme, e eu jamais havia ouvido falar nele desde então. E hoje, cá estou eu num sofá, novamente fitando A Invenção de Hugo Cabret e, novamente, não há a menor pretensão de terminar de ver esse filme. No momento, aguardo apenas minha amiga encontrar a primeira temporada de New Girl para assistirmos.

É final de período agora também, mas, apesar do sofá e da sexta feira, não haverá qualquer amasso nesta noite. Nada de amasso, nada de Hugo Cabret. Só duas amigas assistindo uma série leve e divertidíssima entre pizza, Hershey's heteronormativos, uma york shire chamada Lucy e comentários sobre aquele cara que nem beijava tão bem assim. 

Talvez só eu no mundo percebesse as coincidências tão sutis dessa situação. Mas o que me chama atenção mesmo é o quanto a vida é cíclica. Esse jeito da minha história se escrever sempre sem dar ponto sem nó nunca para de me fascinar.

Isso me remete àquela noite mágica da formatura da Guta. Dancei a noite inteira, cheia de champanhe e amor por aquele lugar que outrora havia sido cenário de uma noite tão tristonha. Hoje, como naquela noite, me sinto feliz por não ser mais a menininha frágil que tanto se deixou abater por aquela ressaca amorosa tantas vezes mencionada em bebedeiras e madrugadas sob a nobre companhia de Álvaro de Campos... Não sou Jess Day chorando copiosamente por lembrar do babaca do Spencer enquanto assiste Dirty Dancing. Se é pra ser Jess Day, sou Jess Day imitando um pato na pista de dança de uma festa de casamento, absolutamente imune ao destrutivo medo do ridículo.

Decerto chorei e sofri pela nossa despedida, meu bem. Você sabe... Sofreu e chorou também. Eu vi. E compreendo. Era um filme tão bonito que dava vontade de ser para sempre elenco dele, e nunca mais fazer nada além de cantar para você e beijar sua boca. Mas uma atriz precisa saber se desapegar de um papel. E o filme acabou.

Na maior parte do tempo eu tenho lidado bem com essa informação. Mas sinto sua falta na hora de dormir sem cafuné, na hora de ficar bestando na Letras ao invés de ir te visitar no estágio, na hora de acordar sem sms de bom dia, abrir uma garrafa de rosca ou de esperar o 711 sozinha no ponto depois da aula. Mas aprendi tanto contigo que seria traiçoeiro deixar a tristeza me impedir de fazer jus aos aprendizados. Não vou mais sofrer por trás do batom vermelho. Eu mereço mais sorrisos gritados. E você também.

Lembrei de algumas coisas que aconteceram no futuro.

Amanhã, vou errar o lado da General Roca que me levaria mais rápido até a minha casa. Vou ter que parar quase no Batista Shepard para me dar conta de que estou no caminho errado. E então vou concluir, pela milésima vez em 20 anos, no meu melhor jeito clichê de ser, que preciso me perder no geográfico para me encontrar no existencial. Preciso me perder no mundo para me encontrar num (outro) grande amor. 

Um comentário:

  1. Nunca entendo a complexidade/necessidade que temos em relação a amores. Amores, no plural. Talvez uma coleção inteira para se encarar um único, no final de tudo.

    Gosto da descrição.

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Obrigada pelo comentário! Vou ler, e depois publico e respondo, ta?