terça-feira, 12 de junho de 2012

Marchando em corda bamba


   Um carro bateu num poste aqui, em frente a minha casa, do outro lado da rua. Fez um estrondo. A gata se assustou e ficou me olhando feito criança. Minha mãe disse que eu não olhasse pela janela pra não me impressionar: a mulher que estava no volante ficou com a boca toda ensanguentada. Parecia sério. Dali a pouco, tinha uma meia dúzia de pessoas em volta da mulher a ajudando a se acalmar, a lembrar de ligar pra alguém que pudesse socorrer, e dali a mais um pouco, minha mãe estava lá embaixo, também, levando um saquinho com gelo e uma toalhinha. "Não aconteceu nada com os dentes, só sangrou o lábio, mesmo", disse-me a doutora, ao voltar pra casa.
   Depois, nego vem me dizer que brasileiro é isso e aquilo, e não entende porque eu fecho a cara. Depois, nego vem dizer que a gente é ingrato e gosta de viver trancafiado, se solitarizando. Mas não foi desamparada que aquela mulher ficou, depois do incidente. Não eram amigos de infância, sequer conhecidos, nenhum daqueles que foram socorrer àquela mulher, provavelmente atordoada com o acontecido. Então, falemos de flores! Agradeçamos a nós mesmos pela chance que incidentes como estes nos dão de provarmos que sermos humanos é motivo de orgulho.
   Ultimamente, tenho prestado muita atenção no que dizem aqueles que se auto intitulam ativistas, seja seu ativismo relacionado ao vegetarianismo, ao feminismo, ao aborto, à maconha, à religiões, ou qualquer outra bandeira que dê pano pra manga suficiente pra horas de conversa, sem que ninguém chegue a nenhuma conclusão brilhante o suficiente capaz de mudar alguma coisa, de fato. Mas, bem, já cheguei à conclusão que essas discussões, por mais infrutíferas que sejam na maioria das vezes, são extremamente necessárias pra que a nossa opinião não envelheça bitolada, fazendo tricô numa cadeira de balanço, ignorando o caos que cresce em volta. Enfim, presto muita atenção às mil opiniões que me cercam sem saber bem qual é a minha. Continuo procurando... E, embora - por não saber qual - não carregue bandeira nenhuma, já me arrisco a chegar perto de algumas. Começo a dialogar com certas ideologias que há pouco me pareciam ridiculamente exageradas.  Lendo o Feminerds eu concretizei minha ideia de que é só prestar um pouquinho de atenção nestes ativistas que a gente critica, pra ver que eles nunca estão totalmente errados (atenção: não me refiro a sociopatas, fanáticos, afiliados ou simpatizantes da Ku Klux Klan nem nada do tipo. Falo de gente que luta pela morte de preconceitos que só fariam bem à nossa sociedade tão mediocrizada e tão passiva perante essa mediocrização). Talvez, esses ativistas sejam mais incisivos do que a sociedade gostaria que fossem, mas não sem motivo pra tal. Afinal, cê já se deu conta de como está o mundo que a gente vive, né? Retiro tudo que eu já disse contra a marcha das vadias, por exemplo, profundamente envergonhada. Não me considero feminista - nem ativista, de modo geral -, mas entendo perfeitamente quem bate no peito pra dizer que é. Pensando nisso, gostaria de remeter esse singelo presente à sociedade:

Caro Patriarcalismo,

Se eu vou saber cuidar de casa,
Lavar louça, cozinhar, pregar botão,

Se eu vou querer me apertar em roupa,
Me maquiar, passar perfume, fazer nail art,

Se eu acreditar que posso
(E posso)
Mudar o que vejo de errado sendo ensinado na cara de pau em plenas salas de aula,
Mudar o conceito bitolado de arte que paira na mente da maior parte das pessoas que conheço,

Se eu for desafiar tua moral hipócrita,
Beijar homem, beijar mulher,
Não beijar homem, não beijar mulher,
Dizer sim, dizer não, não dizer,
Preferir água ou álcool,
Ter filho, não ter filho,
Falar palavrão, não falar palavrão,

Vai ser porque eu acho certo ou porque eu acho errado.
Não porque tuas tradições preconceituosas mandaram
Nem porque eu to a fim de te fazer cosquinha por falta de melhor coisa pra fazer.


Pegando a haste pra levantar bandeira,

Mulher.
Mulher que se livrou do teu arquétipo,
Mas não abre mão de salto alto e um bom batom
E não entra em briga se não for pra ganhar ou sair derrotada com orgulho de ter tentado até o fim
E ainda assim,
Deixando uma semente plantada na cabeça dos que sobreviverem pra seguir lutando.

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