domingo, 9 de fevereiro de 2014

À caminho da felicidade escandalosa

O lado ruim de já ter sido plenamente feliz é não conseguir me conformar à meia felicidade. O lado ruim de terminar um namoro é ficar me questionando se esta foi mesmo a decisão mais acertada. O lado bom do sábado à noite é que tudo pode acontecer.

Confesso que saí de casa mal intencionada. Comprometida apenas com a ideia de me divertir terrivelmente. A fim de fazer tudo o que não me interessa(va) nem um pouco desde quando tinha lá meus 15 anos ou menos: ficar levemente embriagada, dançar sem qualquer pudor, beijar com afã desesperado alguém que nunca tivesse visto na vida.

E foi o que fiz. Passei meu batom vermelho e me dirigi ao paraíso: um lugar onde só toca mpb. Mas antes, lembrei que o rastro que meu Alvedrio deixou em mim é como um perfume francês: forte demais. Invadiu meus poros e agora faz parte do meu sangue. Mas dessa vez, lembrei do lado mais positivo desse rastro: minha vida segue parecendo um filme.

Por isso mesmo foi que conheci um moço que faz cinema. Um sujeito estranho na barba, nos olhos, no gosto de sal, e mais, embora não tenha tocado Oswaldo Montenegro - uma pena, aliás. Primeiro, conheci seus olhos. Assim, à distância. Fitei seu olhar fitando a mim. E então, houve um joguinho irresistível de desviar de olhares falsamente tímidos.  Sempre à distância. Um diálogo mudo e sempre à distância. Coisa de cinema. Sempre na levada da música que embalasse cada instante. Sempre parecendo que a vida era um eterno dançar e flertar. 

O flerte é uma prática indispensável à felicidade escandalosa. E aqui resgato Baudelaire: o importante é embriagar-nos do que quer que seja. No caso do flerte, não importa com quem ou com o que flertamos. O importante é que haja recíproca. Ontem, flertei com o espelho, com o batom vermelho, com a música brasileira, com dois copinhos de caipirinha, com meu corpo desenhando danças improvisadas pelo espaço, com o próprio flerte e com o moço do cinema. E todos flertaram comigo, de volta. E foi só por isso que a noite passada foi mágica: flertei comigo. E flertei comigo, de volta. Uma recíproca encerrada em si mesma. Protótipo de felicidade-escândalo.

É claro que nada do que aconteceu ontem me assegura a felicidade derradeira (algo assegura?), mas já não importa. Na verdade, nada do que aconteceu me assegura nada. Mas tampouco isso importa. O que importa é que percebi à tempo que nada vai dar certo a quem não se apaixonar perdidamente por si mesmo.


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