domingo, 9 de dezembro de 2012

sem título #8

meu mundo fica
bem mais colorido
quando porto
fones de ouvido

sábado, 24 de novembro de 2012

Ode à UERJ


Lugar de gente repleta de sonhos
Que aprende pr’um dia realizar.
Felizes mesmo em dias enfadonhos,
Já que, ao atravessar a rua, há o bar.

É certo que ouvimos notícias tristes
Que tratam de dizer em alto e bom som
Que desse mundo cão há quem desiste
E opta por não ver mais luz do sol.

Mas ‘inda assim, tornamo-nos daltônicos
Desde que começamos a adentrar
No universo de curiosos crônicos,

No recanto de aprendizes infinito.
E o que afirmam ser cinza, corrigimos sem pensar:
- A UERJ porta cores. Tenho dito!

sábado, 10 de novembro de 2012

Fênix




   Enquanto punha o vestido, lembrava-se da última vez que o havia usado. Não havia sido numa noite ilustrada por dança, nem por bebida. Havia sido numa noite ilustrada por um beijo. Um beijo que, por sua vez, foi ilustração de um relacionamento conturbado, que lhe havia regalado muita dor e muita luz.  Abriu o zíper do vestido. Lembrou da primeira vez que haviam se beijado. Fora um beijo lento, macio e terno. Um dos melhores que conheceria. Cerca de dois anos haviam se passado desde aquele então. Quanta coisa havia mudado! Colocou as pernas para dentro do vestido e lembrou-se do pedido de namoro. Que loucura havia sido pedir alguém em namoro! Logo ela, que sempre havia defendido a liberdade do amor, acreditando que seu amor só poderia ser livre caso ela atasse sua vida à de outrem – mas não qualquer um: alguém em especial. Suspendeu o vestido. Lembrou de quanta coisa aquele “alguém em especial” a havia ensinado. Lembrou de quanta coisa aquele alguém dizia ter aprendido com ela. Lembrou de quanta dor aquele alguém havia provocado nela. Lembrou de quanta dor havia provocado naquele alguém. Passou o braço direito pela alça do vestido. Lembrou de quanto tempo sofreu calada em função das confusões de seu coração. Passou o braço esquerdo pela alça do vestido. Lembrou do término. Lembrou de idas e vindas, lembrou que tentaram de tudo para fazer durar para sempre... Em vão.  Fechou o zíper do vestido e olhou-se no espelho. Deu-se conta de que não haviam passado dois anos desde que vestira aquela roupa: na verdade, nunca a havia vestido. Ela nunca havia existido antes. Nascera há poucos minutos. Naquela noite, usando um vestido que parecia portar cerca de dois anos de lembranças de um romance já findado, ela se deu conta de que havia morrido sem perceber. Conseguia até enxergar o atestado de óbito – causa mortis: saudade. Fazia poucos meses. O corpo nem havia começado a se decompor, apesar de já não dar mais sinais vitais. É óbvio que, estando morta, não percebeu que estava morta. Só se deu conta de que havia morrido quando se percebeu viva novamente.  
  O espelho mostrava um personagem mórbido e soturno, mas quem o portava era o contrário gritante da morbidez. As unhas com glitter, o salto alto, o cabelo vermelho e os olhos brilhantes não deixavam dúvidas: ela estava viva. Ela estava viva e era nova. Recém-nascida! Pronta para construir sua personalidade do zero. Pronta para ser quem bem entendesse. Pronta para dançar a noite inteira, absolutamente livre de qualquer pesar que lhe pudesse ter ocorrido em outras encarnações. 


sábado, 27 de outubro de 2012

Lei de Newton


música ambiente sugerida:



pode deixar
que eu falo
(baixinho)

ninguém vai ouvir nada dessa vez



e se, hein?

e se eu quiser
o escuro do teu quarto
de novo
e de novo
e de novo?



deixar meu corpo
do lado do teu
me diverte

a reação do teu corpo
do lado do meu
me diverte

dá vontade
de te provocar
até você perder o controle
e ter vontade
de me provocar
até eu perder o controle

e aí a gente perderia o controle junto
como quem não quer mais achar



também não quero perder você
e já ouvi isso de gente a quem perdi
perdi pro amor
perdi pro tempo
perdi pra vida

dito assim, estar vivo não parece bom
mas a verdade é que
se perdi, é porque
tive amor
tive tempo
tive vida

então sou grata
mas esse não é o ponto

aliás,
o ponto não é
o ponto somos

nós

você funciona como um perfeito antídoto para a minha tristeza crônica
e essa é a única tristeza que precisa de antídoto
convivo bem com a tristeza carta
também sei lidar com a tristeza poesia
e sou igualmente diplomática com a tristeza conto
mas a tristeza crônica é ácida demais pro meu paladar

e você neutraliza toda essa acidez
com seus
dente
língua
beijo
mordida
toque
olhar
sussurro
lábia
lábio
braço
mão
perna
pé e...
afins

porque quando eu saio de perto de você
o seu rastro fica pairando na minha vida por um tempo
e durante esse tempo
eu nem me lembro da tristeza crônica
que se autobiografa em mim

pudera!

a dose de você que você me dá
é na exata medida da minha vontade

a vontade, essa doença
que, caso seja degenerativa,
precisará de doses maiores
(ainda que haja, com isso,
um certo risco de overdose)

mas isso é assunto pra depois...
sei que, agora,
se me perguntarem o que eu quero
direi com sinceridade que quero meu antídoto

desse jeito, assim,
sem nome, sem expectativa,
sem passado nem futuro,
sem nada de diferente do que é nesse exato momento
nada de paixão, essa filha da putrefação
de amor, só o amor híbrido do Chico César - a tal amozade
no mais, só essa vontade insana
que eu tenho de você,
que você tem de mim
e que a gente tem da gente
há bem mais tempo do que saberíamos admitir



no futuro do pretérito
eu paralisaria meu pensamento,
fecharia as janelas da alma,
e abriria as portas do corpo
pra vida entrar

no presente do indicativo
um suspiro gera um toque
e um toque gera outro
que gera outro
que não se preocupa nem um pouco
com o destino dessa reação em cadeia

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Talvez

  A correria do penúltimo fim de semana perdurou no último e ainda alcançará o próximo. Mas depois disso, a calmaria volta. Fim de temporada, recesso na faculdade e paz de espírito. Cheguei muito cansada ontem, e como sabia que tinha um restinho do feriadão hoje, aproveitei pra protelar meu post de domingo pra segunda. Pois bem, vou deixar aqui a letra de uma música que eu fiz há uns 6 meses, e encontrei hoje, enquanto arrumava meus guardados. Infelizmente não to conseguindo postar o áudio... De todo modo, espero que les guste

Talvez

Vou chorar nas aulas de teatro
E sorrir nas aulas de latim
Vou fugir com as botas do gato
Vou recomeçar antes do fim

Vou te odiar te dando amor
Porque sem amor não dá pra ser
Vou me abanar com o cobertor
Vou me esquecer de te esquecer

Talvez, você falou:
Talvez daqui a algum tempo
A gente consiga se entender de vez
Talvez, eu retruquei:
Talvez eu não morra de saudade até lá

Vou comer lasanha no café
E só vou andar de marcha ré
Vou levar a vida entre o não e sim
Até você voltar pra mim


Talvez, você falou:
Talvez daqui a algum tempo
A gente consiga se entender de vez
Talvez, eu retruquei:
Talvez eu não morra de saudade até lá



Um beijo em cada bochecha,
Luísa Zanni




domingo, 7 de outubro de 2012

E ainda tenho tempo pra cantar!

 Ando meio completamente atribulada. Tanto que, domingo passado, ao invés de atualizar o blog, fui dormir assim que cheguei em casa. Tanto que celebrei a primavera com uns três dias de atraso; a lua já está quase minguante e eu ainda não tive tempo de celebrar a cheia. Eu sei, eu sei: esse post tem muita cara de diário. Mas tem um poeminha curto uma rima simpática lá embaixo, e até domingo que vem eu vou me esforçar pra postar um texto decente.
  Explico: com o fim da greve, todos os professores marcaram suas provas e seus trabalhos nas mesmas poucas semanas que temos antes do final do período. Além disso: por conta do estágio, minha hora de acordar é quase a mesma do sol por duas vezes na semana (e minha hora de dormir não quer se adiantar de jeito nenhum). Além disso: tô brincando de atriz aos fins de semana - e digo "brincando de" porque ser atriz me parece muito mais profundo do que o que eu já alcancei. É como um estado de espírito evoluído que eu ainda tenho como objetivo (e hei de alcançá-lo!). Mas, gente, como é cansativo fazer espetáculo infantil! Divertido, mas cansativo. Além disso: um certo alguém decidiu restabelecer contato comigo, o que deixou meu coração apertado, sem saber se isso é bom ou ruim. Além disso: o curso de teatro que eu faço perigou acabar, e isso me fez dar uma surtadinha básica. Além disso: aniversário da amiguinha aqui, showzinho de mpb acolá, afinal, ninguém é de ferro, né? Tenho bebido alegria, cansaço, confusão e cuba libre direto da fonte. Baudelaire se orgulharia de mim!
  É claro que tanta movimentação nas últimas semanas têm causado mil oscilações de stress a felicidade dentro de mim. É tudo muito desgastante, mas confesso, sem pudor algum, que não troco essa correria por ócio nenhum nesse mundo. E nunca mais vou acreditar quando alguém botar a culpa de qualquer frustração pessoal numa suposta falta de tempo. Dá tempo sim. Dá tempo de fazer tudo. E ai de quem me disser que não: vou fazer questão de provar que consigo, seja o que for, só pelo prazer de provar.
 Falando francamente, ainda não cheguei onde quero, tampouco me tornei quem tenho vontade de ser. Mas sinto (sabe quando a gente sente?) que eu tô no caminho certo. Vou mandar notícias do País da Realização, fique ele onde for. Aguardem!


Quero minha vida sempre assim:
muito palco e coxia e camarim.

Sem beijo: hoje aceno de longe, porque tô na correria,
Luísa

domingo, 23 de setembro de 2012

Clarice Falcão


Uma canção sobre o amor. Ah, o amor...


 Essa foi a primeira música que eu ouvi da fofa da Clarice Falcão. Depois dessa, fiquei viciada em A gente voltou. É claro que ela tem várias outras músicas super legais, mas essas duas não saem da minha cabeça.
 Esses dias vi o clipe de Monomania, e me apaixonei perdidamente. Como meus últimos dias têm sido batalhas ferrenhas contra o tempo, não to podendo escrever nada muito meu pra trazer pra cá, então resolvi falar da Clarice, já que gosto tanto do trabalho dela, e não conheço nada parecido com o que ela faz aqui no Brasil. Acho muito interessante mesmo. Vou deixar o clipe de Monomania aí embaixo. Vale muito a pena assistir!


Um beijo no nariz,
Luísa Zanni.

domingo, 16 de setembro de 2012

O Virumdum

   Esses dias me bateu saudade de uma amiga que não vejo há tempos. A tal da mineirinha me disse uma vez que, quando criança, cantava o hino nacional assim: "o virumdum Ipiranga as margens plácidas...". A partir daí, seguiu-se uma conversa recheada de crises de riso sobre essas confusões musicais que - confessa, vai - todo mundo já cometeu. Eis (algumas das) minhas:

#1 Noite do Prazer - Claudio Zoli
Na madrugada, vitrola rolando um blues, trocando de biquíni sem parar ♫

o clipe é tão tosco que vale a pena, ok

 Óbvio que ri de mim mesma quando descobri que era "tocando BB King sem parar". Não fazia sentido nenhum geral trocando de biquíni de madrugada ao som de um blues. Mas, sei lá, né? De todo modo, me senti bem mais aliviada quando soube que mais gente cantava igual a mim.


#2 Atirei o pau no gato
Mas o gato-to não morreu-reu-reu, dona xícara dimirô cê cê duberrô duberrô que o gato deu

Não faz nenhum sentido, eu sei. E nem precisava fazer, né? Tudo bem não fazer sentido quando você tem 5 anos.


#3 Como nossos pais - Belchior
Você pode até dizer que eu to por fora, ou então que eu to inventando, mas é você que é mal passado e que não vê ♫

Qual não foi minha surpresa quando, um belo dia, minha mãe me corrigiu e disse "é você que ama o passado e que não vê". A música ganhou um sentido totalmente novo desde então.


  Naquele dia, que conversei com a minha amiga mineira sobre o virumdum e seus derivados, fiz uma espécie de pesquisa de campo sobre o assunto. Acabei descobrindo duas pérolas de outras amigas:

Lembra daquela música que tocava no Astro?
  • Bijuterias - João Bosco
    Minha pedra é ametista... Meu cocô, amarelo

Nem Legião escapa!
  • Monte Castelo - Renato Russo 
    É um saci preso por vontade
    , é servir a quem vence, o vencedor

É... Acho que ta na hora de dar mais atenção ao Vagalume.

Um abraço de urso,
Luísa Zanni.


domingo, 9 de setembro de 2012

Lia

 Sala vazia, e ela estava sentada na cadeira do professor. Concentradíssima em sua leitura, fazia hora para a aula começar. Gostava de ler em voz alta quando não havia ninguém por perto. Sentia que cada palavra ganhava vida ao ser proferida em alto e bom som. As palavras eram tocadas por seus olhos, decifradas por seu cérebro e, uma vez trazidas ao mundo pela sua voz, reverberavam pelo chão, abalando de forma quase sísmica a energia do lugar.
  Ele passou direto por aquela sala. Estava com pressa, mesmo tendo tempo de sobra. Foi quando ouviu uma voz recitando poesias. Engoliu sua pressa e deu três passos para trás. Permaneceu parado por alguns instantes e, instintivamente, entrou na sala.
- Com licença - disse, como um despertador, acordando a menina de seu sonho.
- Toda - respondeu-lhe, fechando o livro e repousando-o sobre a mesa.
- Bilac? - observou o menino, esticando os olhos sobre o livro. 
- É... - confirmou, num sorriso sem graça e recíproco.
- Cê sabe que Via Láctea é a única coisa boa dele, né?
- Não é verdade! Essa antologia é muito boa. As pessoas são muito preconceituosas com parnasianismo - disse, desolada.
- Parnasianismo é chato - provocou.
- Chato é quem não gosta de parnasianismo - retrucou, sapeca.
  Ambos sorriram. Presentearam-se, naquele instante, pela primeira vez. Cada um deu de presente ao outro seu sorriso rasgado mais bonito e mais espontâneo. Ele apoiou a mochila numa das carteiras e sentou na mesa do professor, ficando cara a cara com a menina. Falaram de literatura até não poder mais. Falaram de música até poder pra sempre. Trocaram diversos sorrisos bobos. Num dado momento, um cílio caiu de um dos olhos do menino e pousou em sua bochecha.
- Com licença - disse-lhe a menina, como um despertador, acordando o menino de seu sonho. Quanto tempo eles teriam ficado conversando? 
- Toda - respondeu, observando-a equilibrar o cílio cuidadosamente sobre seu dedo.
- Faz um pedido - o menino uniu seu dedo ao dela, e, ao afastá-lo, levou consigo seu próprio cílio - Seu pedido vai ser realizar - disse a menina, desviando seu olhar para o chão.
- Vai? - perguntou-lhe, enquanto puxava o rosto da menina para o seu campo de visão.
- Vai - disse-lhe, sorrindo. E portava no olhar uma malícia da qual não se sabia dona. Beijaram-se longamente.
- Com licença - disse uma voz vinda da porta da sala. Um grupo de alunos também havia chegado mais cedo para a aula.
- Toda - disseram em uníssono, com um sorriso bobo em cada rosto, antes de pegarem suas coisas e saírem, de mãos dadas, pelo corredor.

domingo, 2 de setembro de 2012

Dia de irmã mais velha

  Sou filha única. Mas, por sorte ou destino, encontrei algumas pessoas especiais pelo caminho, a quem chamo, sem medo de errar, de irmãs. Por fazer aniversário em agosto, essas poucas e boas irmãs sempre foram mais velhas do que eu, ainda que por poucos meses. E eu costumava ser a menininha frágil que pedia colo, conselho, ombro pra chorar. Até que, um belo dia, apareceu a Carol na minha vida. Eu tinha 16 anos e ela, 13. Foi irmandade à primeira vista. Foi pra ela que eu fiz a minha primeira música "sob encomenda" (até postei aqui na época), e foi pra ela que eu dediquei algum tempo pra ouvir e falar de amores confusos, de anéis, de esmalte, de sapatos, de teatro e de música, claro. Foi a minha chance de ser irmã mais velha, e, confesso: gostei da brincadeira. A gente criou uma paródia de uma música da Taylor Swift (ídola-mor da Carol) pra uma promoção aí que ta tendo, e ficou bem legal, modéstia a parte. Quando ela fizer o vídeo eu posto aqui, com a letra. A música original é essa:




  Sexta foi dia de lua azul e esse fato, por si só, já tornava o dia especial. "Lua azul" é como se chama a segunda lua cheia dentro de um mesmo mês. Isso acontece, mais ou menos, de dois em dois anos. Uma lunação dura 29 dias e meio, e como a primeira lua cheia de agosto foi bem no comecinho do mês (no dia 2, se não me engano), deu tempo de ter uma segunda lua cheia em agosto. Um ano que tem 13 luas cheias é raro, e por isso, especial. A próxima vai ser só em 2015! Eu encaro como uma espécie de réveillon e aproveito pra refletir sobre perdas e ganhos. Reza a lenda que a noite de lua azul é carregada de energia que propicia a prática de rituais. Como passei a tarde toda compondo e fazendo chocolate com a Carol, o segundo esbat de agosto foi comemorado muito singelamente, em pouquíssimo tempo - só o que o meu sono permitiu. Montei meu altarzinho, acendi um incenso pra lua, uma vela azul, e agradeci, simplesmente, por esse mês ter sido tão precioso. 

Essa música, pra mim, é a trilha sonora perfeita de sexta.

   As composições só vou postar aqui depois, mas a receita do chocolate quente, especialmente feita para comemorar, tirei do Livro Mágico da Lua, da D. J. Conway, que comprei num dia catártico, e vou deixar aqui pra quem quiser se aventurar:
Chocolate quente mexicano

  • 250g de chocolate meio amargo picado
  • 1L de leite
  • um punhado de cravos
  • 1 colher (chá) de canela em pó
  • um pouco de extrato de amêndoa
  • açúcar a gosto

  Usei o meio amargo da Hershey's (♥). Não botei açúcar nem cravo, e troquei a essência de amêndoa por essência de baunilha, como a própria autora sugere no livro. É só derreter tudo numa panela, e bater no liquidificador até formar aquela espuminha em cima. É super simples de fazer e fica delicioso. Mesmo. Gostei de compor em parceria, de me aventurar na cozinha e de perceber que ganhei minha irmã mais nova há dois anos e ela ainda é presença assídua na minha vida, mesmo que a gente não faça mais teatro juntas. Sei que é dia e que a lua já começou a minguar, mas... Obrigada, deusa. E que setembro seja igualmente doce.

Servidos?


Um beijo com bigode de leite,
Luísa Zanni




domingo, 26 de agosto de 2012

Abra o Bico

  Embora eu tenha ficado cada vez menos tempo de bobeira na internet #todoscomemora ainda me perco um bocado nesse mundinho, e, confesso: dessa forma, jogo muito tempo fora. Mas, por outro lado, acabo descobrindo links muito interessantes. Um deles é o Abra o Bico, um blog que eu descobri há algum tempo, mas só agora resolvi deixar de ser ciumenta e compartilhar. Vou deixar aqui os três posts que eu mais gosto pra ver se estimulo alguém a dar uma passada lá. Pra ampliar a imagem, é só clicar em cima.

 
                       (post original aqui)





Quebra-cabeça
Ser meio errado
Faz parte da trama
Talvez se engana 
Quem pensa que amor é só flor.
Por mais que por fora
Essa bela viola encante,
Não existe amor que se sustente
Sendo todo lindo e inocente


 Foi bem difícil escolher os três favoritos. O menino da lua e Boceje também são IN-CRÍ-VEIS, vale muito a pena dar uma olhada. Só não postei aqui porque são mais longos. Mas são maravilhosos, pode acreditar. Vale a pena ler cada linha. Espero que se deleite tanto quanto eu. Boa semana! 


Un bacio, 
Luísa Zanni


domingo, 19 de agosto de 2012

sem título #7

- Vida, quem é o seu consorte?
- A morte.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

sem título #6

Dezessete de agosto
Dezessete de agosto
Dezessete de agosto

(Nunca se escreveu
 poesia mais bonita)

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Irresistível

Olha só o que eu achei pelos meus rascunhos... :)
 Sempre achei morango uma fruta bonita. Mas toda vez que me ofereciam, eu torcia o nariz e dizia "não gosto". "Você já provou?", era o que sempre escutava. E "Não. E nem quero provar" era a minha réplica clássica, sempre na ponta da língua. Um dia, resolvi provar. Devo confessar: de cara, me decepcionei um pouco. Era mais azedo do que parecia ser. Achei que o morango deveria ser doce, insuportavelmente doce, pra combinar com a sua aparência. Mas, na segunda mordida, cheguei à conclusão de que o morango tem o gosto exato que aparenta ter - eu é que não tinha olhado direito. O morango é uma fruta encantadora. Tem algo de misterioso, algo de pueril, algo de feérico... Pode parecer ridículo, mas o morango tem algo sem o qual eu não posso mais viver sem. Talvez porque ele simbolize minha descoberta de que dar uma chance ao desconhecido só por ser atraente pode culminar numa experiência fantástica.

sábado, 11 de agosto de 2012

No mundo do espelho

Para ouvir antes de ler: Dublê de corpo - tinha que ser Leoni 

 Há uma lenda bem conhecida, da mitologia grega, sobre a origem da flor narciso: um homem extremamente vaidoso (homônimo da bela flor), certo dia, debruçou-se sobre um rio, e, tanto tempo ficou contemplando sua beleza refletida na água, que criou raiz na margem do rio, transformando-se em flor. O que nem todo mundo sabe, é que, escondida atrás de uma árvore, estava a ninfa Eco, observando Narciso, apaixonada. Eco havia sido amante de Zeus, e Hera, para vingar-se, lançou sobre a ninfa uma maldição: Eco estava condenada a poder dizer, apenas, as últimas palavras que alguém tivesse dito perto dela. Sua voz seria, a partir de então, um mero eco da voz de terceiros. Pois bem: estava Eco admirando Narciso, escondida, e, quando uma imagem chamou a atenção de Narciso, na calmaria do rio, o semideus, sem saber que se tratava do próprio reflexo, começou a declarar-se para a bela imagem que via nas águas. "Quanta beleza!", exclamava Narciso. E Eco, querendo declarar-se, pode apenas repetir: "Quanta beleza!". Narciso, feliz com a reciprocidade, disse, então: "eu te amo!". E Eco, querendo dizê-lo, repetiu as palavras do amado: "eu te amo!". E ambos ficaram lá, até Narciso virar flor. 
 Hoje me percebi meio Narciso e meio Eco. Passei tanto tempo enraizada em mim, que me esqueci de ampliar meu campo de visão para tanto amor ao meu redor. Passei tanto tempo querendo dizer o que penso, mas minha voz só pode dizer o que era de bom tom... Achei que todos fossemos personagens, e achei que conhecia bem o meu roteiro. Mas me percebi gente. E, como gente, sou muito mais complexa do que um personagem. "Você não é mais a mesma". "Não estou te reconhecendo". "O que aconteceu com você?". Tudo isso e mais tenho dito ao espelho, como Narciso, mas meu reflexo se limita a repetir o que eu disser, como Eco. Minhas afrontas perdem-se no vácuo. Minhas perguntas ficam sem resposta.
 Quando eu achava que era personagem, me sentia parte. Quando percebi que sou gente, busquei me despir dos rótulos que me compunham, e achei que assim alcançaria a plenitude. Mas não alcancei. Estou perdida, estou sozinha, e não me conheço. Costumava me conhecer, e quase sempre gostava de quem eu era. Costumava ser leal, passional, confiar. Precisei ser cuidada e deixei que me cuidassem. Mas, e agora, sem rótulos, quem eu sou? Do que eu preciso? Meu coração bate acelerado sem nenhuma paixão que o estimule a tal. Queria dizer, a quem sinto falta, de quem sinto falta. Quer dizer: saudade disfarçada de falta, por orgulho. Mas não digo, porque o receio me detém. 
 Tudo estaria bem se eu estivesse comigo. Mas não me conheço, e, me desconhecendo, é arriscado confiar em mim. Não saber quem eu sou deveria ser uma aventura instigante, mas não é. Não há intensidade, e eu não estou desesperada. Estou monótona. Entediada. O sol brilha lá fora num céu límpido, e eu não tenho motivos para não estar alegre. Tanto não tenho motivos, que não estou triste. Não estou de forma alguma. Não estou, simplesmente.
 Fui Narciso apaixonado por alguém que não existe. Receio tornar-me Eco de vozes com as quais sequer concordo. Receio, mas não me apavoro. Não sou frágil como já fui um dia, nem forte como espero vir a ser. Não sou frio, nem calor. Nem grito, nem silêncio. Não estou. Não sou. Não sei.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A feira


Um homem entra pela porta de trás num ônibus que só tem três passageiros, mas fica de pé, em frente à roleta:

- Bom dia. Desculpa estar atrapalhando a sua viagem. Mas eu to desempregado. Minha mulher ta doente. E eu vim aqui pra pedir ajuda de vocês. Qualquer trocadinho serve. Eu podia estar matando, eu podia estar roubando, mas eu vim aqui só...
- Ta maluco, meu filho? – o passageiro na fila da roleta fala, exaltado – Que “podia estar matando”, o quê? Que mané “podia estar roubando”? Podia não! Isso é crime! Previsto no código penal! Eu acordo todo dia cinco horas da manhã, ralo feito um desgraçado, passo meu dia inteiro sentado numa sala gelada, almoço correndo, tenho que chacoalhar num ônibus que cobra um absurdo pela passagem, tenho que usar essa roupa apertada no calor do inferno que ta o Rio de Janeiro, e ainda tenho que ouvir malandro me dizer que podia estar matando? Vai se catar, meu filho! Toma tenência!
- Desculpa, senhor. Eu não quis ofedender.

O pedinte, atônito, desce do ônibus.

- Já vai tarde! – esbraveja o engravatado. Na sua vez de pagar a passagem, percebe que falta dinheiro – Ih, gente. Ta faltando vinte centavos. Alguém inteira pra mim?

domingo, 5 de agosto de 2012

Por um fio


- Boa tarde. Meu nome é Juliana. Eu gostaria de estar oferecendo...
- Oi, Ju! Que bom que cê ligou! Eu to tão sozinha nessa casa! Achei que esse telefone não ia tocar nunca.
- Senhora, eu...
- Mas me conta, que que cê tem feito de bom?
- Senhora, eu estou no meu horário de trabalho, e eu gostaria de...
- Nossa, mas isso é um inferno, né? A gente nunca tem tempo pra gente! É só trabalho, trabalho, trabalho... E quando não é trabalho, e aporrinhação em casa. É por isso que você não sai desse lugar, menina? Porque vai ter aporrinhação em casa?
- Senhora, eu preciso trabalhar, por favor, me escuta: eu gostaria de...
- Mas que ideia fixa com trabalho! Escuta o que eu to te dizendo: separa mais tempo pra você. Você merece! Eu tava tendo aporrinhação em casa e no trabalho, né. Aí pedi demissão do trabalho e mandei todo mundo pra fora de casa. E tô ótima, em casa, sem ninguém pra me atazanar as ideias. Só que eu já limpei a casa toda três vezes, né.
- Senhora, por favor!
- Daí me bateu uma solidão, menina! Por isso que foi bom cê ter ligado. Tava precisando mesmo conversar com alguém. Cê não é de falar muito, né? Mas tudo bem, a gente tem que aceitar os amigos como eles são. E se você não tiver nada pra falar, eu tenho é assunto de sobra!
- CALA A BOCA, CACETE! ME DEIXA TERMINAR!
- Nossa, gente. Quanta deselegância. Eu aqui tentando ajudar, cheia de boa vontade, e sou tratada assim? Sou cachorro não, minha filha, pra ser tratada assim! Eu, hein. Escuta aqui: você não ta merecendo que eu use meu tempo contigo, não. Se não tem o que fazer, tem tempo livre pra aporrinhar os outros, vai procurar um emprego decente que te ocupe, viu? Que meu ouvido não é pinico, não. Passar bem.

A dona de casa, enfurecida, desliga o telefone.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Valente

 Agosto chegou. E com a sua chegada, a contagem regressiva pro meu aniversário se torna inevitável. Estava precisando de um renascimento e, hoje, o ganhei. A catarse de hoje foi um presente adiantado do universo pra mim. Vale dizer: hoje é dia de Imbolc. Na Wicca, comemora-se o crescimento do Deus e prepara-se para receber a primavera. Aproveitei pra comprar dois livros lindos numa linda feira perto da minha casa que anda vendendo livros a preço de banana.

Bu. Vou te assustar de noite.


 Fui assistir (ao lado de duas das pessoas a quem mais amo na vida) Valente: o filme da Disney cuja protagonista tem o cabelo incendiado (e bagunçado) e - surpresa das surpresas - não fica com o príncipe-encantado-no-cavalo-branco ao final da história. A protagonista de um filme da Disney (essa maravilhosa máquina de estimular submissão cor-de-rosa), caros leitores escassos e invisíveis, fica sol-tei-ra no final da história. Por escolha própria! Pela tradição, ela deveria se casar, mas acaba fazendo a mãe entender que prefere esperar para se casar quando ela quiser se ela quiser, ao invés de obedecer, cegamente, uma tradição. Merida é uma princesa que não se porta como princesa: se porta como crê que deve se portar e não se torna menos princesa por causa disso. Por isso ela é "Valente". Isso mexeu comigo a ponto de emoção transbordar de mim em forma de lágrima. E isso não acontecia há tempos.

  É fato que eu me identifiquei em mil coisas com ela - da cor do cabelo ao relacionamento conturbado com a mãe, passando pela crença em magia e pela vontade de transgredir tabus - mas, sério: acho que qualquer um que tenha sangue correndo nas veias vai se encantar com a trama. O desenrolar do filme é tão encantador ao tocar em temas como família, respeito, união,  que a parte "casal" da história é totalmente dispensável. Na minha opinião, foi um grande passo para a Disney. Depois da Tiana, uma princesa negra super independente, veio essa linda da Merida, que fica solteira, no final das contas, e ta tudo muito certo sendo assim. Mas como epifania quando vem, vem à tona, não bastava ter trailer do próximo filme da Tinkerbell, o La Luna (que é um curta lindo da Pixar que eu, infelizmente, não to conseguindo achar inteiro no youtube), nem ser absolutamente maravilhoso e catártico: tinha que ter essa musiquinha pra ficar na minha cabeça até o fim dos tempos, né?


vou correr, vou voar e o céu eu vou tocar


Bem, que venha agosto. 
E, já diria Caio, que seja doce.
Ciao!



sábado, 28 de julho de 2012

O bichinho da descrença

  Deus é brasileiro, diz-se por aí. É um país com tantos encantos, o Brasil, que até João Paulo II disse que o papa é carioca. Pois bem: um belo dia, Jesus Cristo enjoou da pasmaceira celeste. Aqueles corais de anjos e orquestras de liras o irritavam profundamente. Jesus era um ativista, afinal. Na santa paz do céu, não havia nada que precisasse ser consertado. Entediado, resolveu descer à Terra, para ver se ajudava alguém, e assim, dava uma animada nos seus dias. Veio parar no Rio de Janeiro. Falou de suas ideias com um grupo de pessoas que encontrou na rua, distribuindo panfletos. Foi considerado de esquerda, aclamado por uns revolucionários ingênuos que entoavam frases de efeito em coro. De pronto, foi indicado, pelo partido que o acolhera, a candidato à prefeito daquela cidade maravilhosa. O partido acreditava ter encontrado uma galinha dos ovos de ouro, afinal, aquele cara tinha um lábia impressionante.
   Jesus perdeu de lavada nas eleições. Ainda por cima, virou motivo de chacota. Afinal, quem ele pensou que ia enganar com aquela carinha de bom moço? Brasileiro não é bobo, não. Tá pensando o que?

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Ilusión


  Os bibelôs estão quietinhos na estante. Quase todos os papéis dentro de suas gavetas. A bagunça no meu quarto é até pequena, se for parar pra pensar. Na minha cabeça, também. Os pensamentos tem vida própria, mas tem sono. Quem tem insônia sou eu, mas, ainda assim, minhas noites parecem tranquilas. Parece que ta tudo bem. Eu como, trabalho e durmo bem. A vida mostra que pode ser muito, mas eu não tenho conseguido senti-la em cada poro, e, amante da intensidade que sou, não gosto nada disso. Não sei bem porque isso se dá. Não sinto frio, mas sinto falta de calor. Será que você me ouve chamar? Vem cá, precisa de medo, não. Confia em mim. Eu quero que você chegue mais perto. E então, que saiba me arrepiar. Eu quero a sensação de saber de tudo, de poder tudo, me dá? Eu quero o teu corpo colado no meu, e quero a nossa respiração em comunhão, entrando e saindo de nós na mesma levada de qualquer blues. Quero o seu lábio percorrendo o meu pescoço, e o seu cabelo morando em minhas mãos. Quero nunca mais ter pesadelos. Quero nunca mais acordar do nosso sonho. Quero o cheiro bom da tua pele. Quero o teu jeito lindo de olhar pra mim como se eu tivesse qualquer coisa de diferente do resto do mundo. Que você venha com qualquer humor, mas venha. Que venha até com raiva, mas venha. Não me deixa sozinha. Quero o teu peso sobre mim. Não é que eu esteja com frio, mas a vida me parece pouco sem  companhia. Fica comigo, amor. Tranca a porta e faz um pacto de esquecer o mundo, comigo. Um pacto de nunca mais levantar da cama, de nunca mais afastar teu corpo do meu, de nunca mais precisar comer, dormir, trabalhar, nem nada disso. O mundo lá fora é tão ruim... E eu gosto tanto de estar aqui com você! Vamos não precisar de mais nada? Vamos fazer um pacto de só precisar de amor. De só precisar de mim precisando de você e de você precisando de mim. E de se doar ao outro a cada instante. Dorme aqui do meu lado, ta? Vou me embriagar no teu beijo e nunca mais acordar. Canta pra mim. Me ouve cantar. Canta comigo.


sábado, 21 de julho de 2012

Pink

 Levantou e foi até o armário, decidida. Calçou as empoeiradas sapatilhas de ponta. Ficou no alto até sentir cãibra nos pés. Depois, tirou a sapatilha de repente, feliz, por reviver aquela sensação maravilhosa de se despir da camisa de força.


sexta-feira, 20 de julho de 2012

Playlist atualizada

 Desde antes de ver um vídeo da Mallu Magalhães no Altas Horas, eu já não ia com a cara dela. Achava ela sem sal, as músicas chatas, e o jeito de cantar, então, nem se fala. Mas aí eu assisti o clipe de Velha e louca e fiquei totalmente encantada com cada segundo do vídeo. Sério: dos 1218775 views que o vídeo conta até agora, uns 200 devem ser meus. Achei a mensagem intensa; a música, super bem feita; as palavras, ditas por quem sabe do que ta falando. Só o jeito dela cantar que continuou me irritando... Aí eu resolvi fazer do meu jeito. Quer dizer, nós resolvemos: eu e Ana Clara passamos um dia ótimo fazendo e comendo pastel, fofocando e cantando. Tem coisa melhor?


 E foi assim, sem maquiagem, sem edição e sem pretensão que a gente fez nossa versãozinha caseira de Velha e louca - que, particularmente, me agrada mais do que a original. Mas eu sou suspeita, né? Bom, o fato é que eu tô superando a minha implicância com a Mallu. Bem lentamente, mas tô. Ela fez uma gracinha de música pro Camelo, e, confesso, vem ganhando meu respeito.
 O que tem de querido diário nesse post? Ah, falta menos de um mês pra eu fazer 19. E eu não me sinto nem com 18. E eu não ligo, agora eu sigo o meu nariz. Sabe, essa história toda de rótulos parou de me irritar. Eu simplesmente não preciso de mais nenhum deles (devo estar no estágio da aceitação). Eu realmente to ficando velha e louca. "Em cada canto eu vejo um lado bom".

ps. Ah, amigos! De tempo passado, presente ou futuro: feliz dia!





quarta-feira, 18 de julho de 2012

Caixinha de lembranças


Escrevi esse poema bobinho (e sincero) em 2008.

Pega tuas fotos de criança,
Repara teu olho risonho
Criança não precisa de razões
Isso não quer dizer que não haja sonhos

Só analise bem as fotos
E repare no sorriso
Como você era tão feliz?
Não existiam compromissos

Pode soar como bobagem,
Mas acredite, pois é um fato:
Nada reflete mais você mesmo
Que tua infância num retrato

Algo freqüente nos meus álbuns
É a presença das minhas amigas
Com elas pude entender
O que mais importa na vida

Criança brinca com o que pode
Seja mentira ou verdade
Quanto mais o vento sopra
Maior se faz a liberdade

Há paixões que se definem
Desde a mais tenra idade
Obsessões inexplicáveis,
Pessoas que deixam saudade

O choro de ontem não vale a pena
Ou teria sido registrado
As alegrias de outrora
São retratos bem guardados

domingo, 15 de julho de 2012

Só um desabafo

 Tensãozinha leve logo de manhã. E eu não sei se é pelo que eu fiz ontem ou pelo que eu vou fazer hoje. Reler meus diários antigos, concordar tanto com Freud e ter tempo de sobra pra pensar, nessa greve, são coisas que estão mexendo com a minha cabeça, com o meu corpo, espírito e coração.

Agir sem pensar, agir sem pensar, agir sem pensar... Parece que Zappa grita pra mim, num sussurro, enquanto alguém dança uma dança estranha, à meia luz, dentro da minha cabeça. Porque é que a gente se reprime tanto, é isso que eu quero saber. Qual o problema de fazer o que dá na telha se ninguém sair prejudicado? Nenhum, respondo a mim mesma. Então, pra que se preocupar?

Eu não faço ideia do que eu to fazendo, só sei que às vezes me sinto detentora de um poder grandioso, e isso mexe com o meu ego. É como se eu tivesse descoberto a existência de um lugar cheio de mistério, e meu corpo fosse atraído pra esse lugar. É o lugar do sim aos nãos. É onde nasce tudo que deveria nos libertar, mas se torna tabu com o tempo. E não consigo entender onde está o erro na minha nova (?) forma de raciocinar. Quer dizer, eu ando apenas questionando tudo que tomei como verdade nos últimos tempos (refiro-me à essa encarnação).  

Sinto que o que eu esperei por anos está a espreita. Tenho um certo receio, confesso. Mas, de todo modo, é melhor enlouquecer aos 18 (quase 19!) do que aos 40.

E, de qualquer forma, uma vitória se constrói feliz dentro de mim: é bem vindo qualquer pensamento que me impeça de ficar triste por quem fez questão de sair da minha vida. Cansei de assumir a culpa do que não fiz.

Baco, embriagado, canta. Só pra mim. Enquanto eu, em sua honra, maquiada de uma forma estranha, grito "evoé!" em cima de um palco, alvo de olhares admirados.

"Não faz mal se pra nós a vida não é doce porque nós vivemos como se ela fosse".


sexta-feira, 13 de julho de 2012

Equilibrando ovos

 O diário começou em sexta-feira 13. Sabe-se lá quantos aniversários da minha mãe caíram em sextas feiras. A presença de um certo alguém importante em algumas sextas 13, também. Show do Christian? Sexta 13. E outras prováveis mil sextas 13 incríveis que foram esquecidas pela minha memória de peixinho dourado. Enfim: hoje, que trago, na televisão, só Woody Allen e no computador, só Bauman, rechaço, passando por debaixo de uma escada com um gato preto à tiracolo, essa bobeira que alguém ousou inventar sobre azar.
 Talvez o teu toque na ônix tenha sido uma alerta. Talvez eu não precise mais andar com um amuleto. Talvez já tenha voltado a ser suficiente saber que existe bem para estar protegida. De qualquer modo, vou correr um risco. Aposento a pedra preta e elejo algum outro pingente. Se alguém tentar puxar, eu posso até deixar fluir, só pra dar um pouquinho de estatística à tanta teoria.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Do contrário

"En somme, si j'ai compris,
Sans amour dans la vie,
Sans ses joies, ses chagrins,
On a vécu pour rien?"


Eu já senti cada coisa tão forte
Já me senti tão perto da morte
Que nem sei como cheguei inteira aqui

Eu já descobri o que é o amor
Já sei que pode ser bom
Pode me fazer sofrer
Pode não ser pra sempre

Eu sempre achei que o amor fosse grande
Mas contigo eu aprendi que não necessariamente

O meu amor por você é pequenininho
O meu amor por você é sussurrado
O meu amor por você não me enlouquece
O meu amor por você te quer por perto  (às vezes)

Um brinde
Aos amores pequenos
Às canções sem rima
E à imprevisibilidade

terça-feira, 10 de julho de 2012

Desejo (ou "A última carta")


   Onde quer que você chegue, não esqueça do caminho que traçou. Quem quer que você se torne, não perca o caráter. O que quer que você coma, que coma sem culpa. Com quem quer que você esteja, que você se deixe fazer feliz como já me deixou te fazer um dia. Onde quer que você esteja, que você admita pro espelho que sabe que eu nunca faria nada na intenção de te machucar, e que o meu amor sempre foi sadio. Que o lugar onde você guarda a tua tristeza seja na consciência de que há mais motivos pra ser feliz. Quantos anos passem, que a lembrança de certas datas te seja sempre doce (como este dez-de-julho é pra mim). Por maior que seja nosso afastamento, que não te impeça de me sentir grata por ter aprendido contigo, entre outras coisas, que uma maçã é só uma maçã, e não uma filosofia de vida.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

sem título #5

O pior e o melhor da vida
É que você é seu próprio problema
E sua própria saída

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Tudo espalhado

   Eu: tenho facilidade de conversar com pessoas desconhecidas. Gosto do novo (às vezes). Sou muito ética e sempre me orgulhei profundamente disso, mas ando observando que já vacilei muito na vida. Já machuquei muita gente. Já machuquei muita gente querida, e isso é grave. É certo que já fui bastante machucada, mas um erro não justifica o outro. Já machuquei, também, gente a quem sou indiferente. Inclusive, acho que foi por ser indiferente a algumas pessoas que as machuquei. E conheço bem essa dor. Não sei se astrologia funciona como eu acredito que funcione, mas, como leonina que sou, poucas coisas na vida me doem tanto quanto alguém ser indiferente à mim. Tenho uma necessidade infantil de ter atenção. Não em tempo integral - o teatro me ensinou que todo mundo tem sua hora de brilhar -, mas com uma certa frequência. O reconhecimento é um dos meus principais motivos (senão o principal) para viver. "Não suporto a ideia de passar em branco", vou dizer domingo. Gosto de ser bem aceita, mas gosto de provocar. Não gosto de me sentir uniformizada.
    Gosto de plateia, acho que deixei bem claro. Mas gosto (mais: preciso!) de gente ao meu lado, também. Acho que o mundo devia se unir muito mais. Não gosto que me aclamem o tempo inteiro. Soa falso. Já corri de situações onde meu ego viveria feliz e inflado porque elas não me desafiavam. Eram situações onde as pessoas me adoravam de tal forma que agiam como se eu não precisasse mudar nada, e eu preciso do que me desafie. Creio que todos precisamos de desafios que nos façam ter vontade de sair da nossa zona de conforto. Até porque, o reconhecimento depois que saímos da nossa zona de conforto tem gosto de fondue de chocolate no inverno de São José dos Campos. Ser reconhecido sempre pela mesma coisa é chato. Me sinto meio "ta bom, gente, já sei que eu sei fazer isso. Que bom que vocês gostam. Agora eu vou tentar saber fazer outra coisa, ok?". Acho que foi por isso que eu titubeei tanto antes de entrar pra aula de canto. E foi por isso que cismei tanto com ballet, naquela época, e hoje em dia, cismo com o teatro e com a escrita. Não queria que me admirassem pelo que soasse óbvio. Queria e quero que reconheçam que eu sei fazer mais. Acho que eu mesma botei na minha cabeça que a única coisa que eu sei fazer é cantar, e talvez por isso eu fique tão mal quando alguma apresentação relacionada à música dá errado. Freud explica...? Deve ser, mais uma vez, essa minha necessidade de ser reconhecida. Não só pelo que "todo mundo sabe que eu sei fazer", por mais idiota, soberba e fútil que essa preocupação soe. Quer dizer, ter como certeza que eu sei cantar... Esse é um ponto que me cheira à falsa modéstia (coisa que eu tenho verdadeiro asco) e a um outro ponto: eu não tenho certeza que eu sei cantar, haha. Nunca tive. Nunca vou ter. Às vezes enjoo muito seriamente da minha voz. Acho insuportavelmente bonitinha. Com tanta voz insuportavelmente bonitinha por aí, acho que eu queria mesmo era ser Bidu Sayão. Ou Cássia Eller. Um desses extremos, um desses ícones. Talvez eu queira ser um ícone. Mas aí, quando eu me sentir - como já me senti - um personagem, não vou mais querer. Porque personagem cabe no papel, gente não. Gente é mais livre porque é mutável. Só que as pessoas prestam mais atenção nos personagens do que nas pessoas. Acho que, talvez por isso, nós nos preocupemos mais em parecermos personagens do que pessoas. Vestimos a máscara da felicidade, a máscara da despreocupação, da normalidade... Eu, particularmente, me sinto pressionada a agir com base no estereótipo da normalidade para que seja reconhecido por quem está ao meu redor que eu sou feliz. Pra ser normal, você deve gostar do que todo mundo gosta, e não gostar do que ninguém gosta. Só que nem tudo que a maioria das pessoas gosta me apetece. E nem tudo que a maioria rechaça eu considero desprezível. Por outro lado, achei, no rótulo "do contra" uma forma de chamar atenção por ser diferente. Às vezes gosto de me sentir diferente, quando acho que "igual" é sinônimo de medíocre. Às vezes gosto de me sentir igual, quando acho que "diferente" é sinônimo de marginalizado. No fundo, é tudo uma grande preocupação em ser bem aceita. Uma preocupação boba, que me assola desde que eu me entendo por gente. Necessidade de me sentir adequada. Mas aí vem o problema: adequada sob o olhar de quem?
   Eu uso a desculpa da não aceitação do outro sobre mim em n características minhas pra, depois de muito pensar, descobrir que tô culpando é a mim mesma pela minha não aceitação sobre a minha personalidade. Se eu concordasse totalmente com o meu jeito de levar a vida, não tava aqui escrevendo nada disso. Sou contra muitas coisas que faço. Sou a favor de tantas outras que não sei fazer.
   Isso tudo devia estar no outro blog. Aquele que ninguém conhece. Não sei porque quis postar aqui. Eu não leria um post desse tamanho se caísse de para quedas no blog de alguém. Acho que não leria mesmo que alguém que eu conheço me mandasse o link. Mas dane-se. Aqui eu posso escrever o que eu quiser quando eu quiser, e é disso que eu tô precisando: reafirmar o espaço que eu posso ocupar dentro de mim. E acho que, talvez, se trate de uma vontade imensa de gritar no deserto, esperando que alguém escute, desejando que não tenha ninguém por perto.
   Eu, que já pensei tanta coisa diferente sobre o amor, hoje não sei mais o que penso. Sei que to querendo achar um jeito de me bastar, mas não sei se acredito que isso seja possível. Sei que acredito que devia ser. Se fosse pra gente depender da presença de qualquer pessoa ao nosso lado pra sermos felizes, talvez poucos de nós fossemos felizes (ah, talvez poucos de nós sejamos felizes...!). Também acho que tem tanta coisa mais urgente no mundo pra eu me preocupar, mas, o que que pode ser mais urgente do que aquilo que faz meu coração acelerar?
   Tem um abismo gigante entre o que eu sou e o que eu pretendo me tornar. Quero ser quem não tem vergonha de perguntar o que não sabe e não tem nada a esconder quando perguntada. Quero não corar. Quero dreads no cabelo! Quero uma casa no campo onde eu possa ficar do tamanho da paz. Quero que se refiram à mim como alguém que não tem tempo ruim. Quero mil audições! Preciso de um estágio. Remunerado! Quero concentração pra conseguir meditar na próxima lua cheia porque a última foi superficial demais. Quero chegar à uma conclusão sobre o que eu acho do amor. Acho tanta coisa... Outra coisa que tenho pensado ultimamente é que, na vida, existem duas árvores genealógicas que nos influenciam: a linhagem do medo e a linhagem do amor. Todas as nossas virtudes (a compaixão, o altruísmo, o carinho, a disposição, a lealdade, a disciplina, etc) são filhas do amor. Nossas imperfeições (a arrogância, a prepotência, a agressividade, o preconceito, etc), são filhas do medo. O ciúme - que tem um pé no amor e um pé no medo de perder - nasceu do casamento proibido dos dois (acho que isso daria um bom conto!).
   Talvez uma boa metáfora pra definir meu estado de espírito nos últimos tempos seja: quebra cabeça de 2000 peças, todas espalhadas pelo chão. Será que alguém se habilita a montar? Acho que é uma tarefa pessoal e intransferível.
    O mais estranho de tudo que eu não tô feliz, nem triste, nem poeta. Acho que tô quase chegando lá, no vaso vazio do lindo do Stanislavski. Quando chegar, mando notícias.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Metrô



Hoje eu tracei
qualquer caminho pela rua
procurando me encontrar
Nossos destinos,
enquanto enchia a lua,
resolveram se cruzar

Cê falou: "se ta de bobeira,
vem pra praia,
vem comigo ver o mar
Vamo correndo
antes que o sol se esvaia
vem cantando, vem voar"

Vem mostrar pro pé o mar
e pros problemas, gana
Conta quando estiver triste
e pra ser feliz, me chama

Vem mostrar pro pé o mar
e pros problemas, gana
Conta quando estiver triste
e pra ser feliz, me chama

sábado, 23 de junho de 2012

Zip zap

E agora, pra rimar,
Eu vou falar qualquer besteira
Porque só me importa mesmo
É que chegue quarta feira

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Quando a caixinha de música fala

   Descobrir que o título original de "Canção de ninar gente pequena" era "Canção de ninar irmã pequena" não tem preço. Será que você ainda passa por aqui? Eu não ando mais por aí. Acho que cansei de por minha resistência à prova. Foi preciso um bocado de coragem pra admitir minhas covardias, mas eu to legal assim.  É incrível como assumir fraquezas me torna forte. O fato é que a telepatia raramente se esbarra nesse 2012 louco e legal. Mas certas coisas nunca mudam. Eu, por exemplo, continuo com essa mania de escrever o que se adeque à minha vida ou tornar adequado à minha vida coisas já escritas... Se for pra corrigir, que seja Oswaldo Montenegro, porque pouca pretensão é melhor nem ter. :P

canção de acordar o que há de grande
segue, segue, menininha
eu sigo aqui
vai realizar
que já é tempo, menininha
vai, vai crescer
sonha que o sonho faz bem
mas lembra do mundo real
ganha o mundo
acordada, menininha
e reza pra espantar o mal
olha, vê bem, reparte sim
os teus sonhos de menina
levanta, segue
cresce e aprende, menininha
pra um dia ensinar

Espero que, onde estiver, você esteja sorrindo neste exato segundo. E nesse também. E nesse também. Até até. 
Agora acabaram minhas desculpas. Daqui a pouco a greve acaba e nem minha intro ta pronta! :(

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Infâmia

A bagunça do meu quarto é minha zona de conforto.




ps. Bem vindo, Inverno! *-* 
Feliz Yule pra todo mundo, e que a gente tenha consciência de que o frio já, já passa, e que a primavera tá quase aí.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Sinestesia

   Curioso: senti o gosto do teu beijo no café servido por outrem. Achei que fosse só impressão, mas beberiquei novamente a xícara, e tive a mesma sensação: o duro amargo do café sem açúcar reinventado por uma borda de doce de leite.
   Será que encontro a paz do teu colo em algum outro edredom? E a raiva por você, nas mazelas do mundo? E os deuses do teu olhar, mirando o céu de outro país? Há diferença entre o céu que eu via ao teu lado e o céu que posso ver com outro amor ao meu redor? Ah, todo amor é igual... É sempre a mesma receita. O sabor varia de acordo com a quantidade de cada ingrediente que se coloca na mistura. Vou ver se, da próxima vez, ponho menos açúcar do que pus no café que você me serviu. O suficiente pra beber um amor quente e doce, mas de modo que eu não enjoe da xícara antes de tomar todo o café. Ah, e quando acabar de beber tudo, vou imediatamente lavar as xícaras e colocá-las para secar. Não quero moscas na pia, nem teias de aranha na alma.

sábado, 16 de junho de 2012

Nem tanto, nem tão pouco


 Foi num dia bem comum que tudo aconteceu.  Os dois estavam com suas dores mais ou menos atenuadas, e tinham um interesse discreto um pelo outro. Tanto fora sufocado que por pouco ainda havia aquele "algo". Ela, querendo saber o que pensava. Ele, pensando sabe-se lá o que. A libido ocupava seu devido lugar. Recíproca sabida, mas quase nenhum frisson. Quase nenhum afã, ainda mais se comparando às expectativas.
   Prenderam-se em olhares que dariam, a quem passasse, a impressão de que havia amor ali. Mas não havia. Parecia amor, mas não era. Era quase. Prenderam-se num beijo bom, mas que não era nada além de simplesmente bom. E se separaram, como se nada tivesse acontecido. Talvez por não quererem encarar a importância daquele beijo, ou talvez por não acharem que era importante. Talvez não achassem importante nem deixassem de achar. Com toda a certeza, talvez não fosse bem assim. Muito pelo contrário.
   Ela pensava se teria valido a pena. Ele não se preocupava, mas não deixava de se preocupar. Ela, querendo motivo pra querer se envolver. Ele, querendo motivo pra dar motivo. Sentiam aquilo que se sente quando não se sabe o que se passa. Quase eram. Mas ainda tratava-se de cada um por si. Ele, nostalgicamente eufórico. Ela, euforicamente nostálgica. Tão previsível que ninguém jamais poderia supor.

Borrão

- Vamos apostar corrida? Se eu ganhar, você me dá um beijo. Se você ganhar, eu te dou um beijo.
- Vamos. Mas se eu ganhar, pode ficar com o seu beijo pra você.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

As mentiras sociais e suas fés inabaláveis


   Não tem muita diferença da vida pro palco: todo mundo atua o tempo todo. E isso não é o mesmo que dizer que todo mundo mente o tempo todo. Ator é diferente de mentiroso, que fique bem claro. "Ator é aquele que atua, que age. E não aquele que interpreta", sabiamente me disse um mestre.
   O fato é: pouco ou nada importa se você fala a verdade ou não. Importa se o que você diz parece ser verdadeiro. Não importa muito se eu me sinto forte ou não. Importa que o mundo acredite que eu me sinto forte. Não importa muito que eu me sinta capaz de realizar o que eu sonho em cada víscera do meu corpo, ou não. Importa que eu acredite que eu sou (não porque o fato de acreditar, por si só, seja de extrema importância, mas, para que o espelho pense que eu acredito em mim - e aí, em seguida, eu vou poder acreditar em mim, de verdade), e mais: que mostre pro mundo que acredito.
   Isso tudo faz parte de uma relação meio (?) esquizofrênica que nós estabelecemos com os paradigmas da sociedade. Chegamos no mundo cheio de regras pré-estabelecidas. Certo. E tentamos conciliar as regras com o nosso pensamento. Gritamos que não estamos de acordo com mil hipocrisias. Por vezes - por necessidade e correria - tentamos conciliar nosso pensamento com as regras implícitas. E aí nos tornamos contraditórios, hipócritas e criticáveis.
   Onde está o limite entre o que você pensa e o que o sistema quer que você pense? Que parte da tua personalidade é tua, e que parte é mera cópia do que se vê? Será que os ideais que você mais preza, e bate no peito pra dizer que vão contra a corrente, não são absolutamente manipulados? E quem será que manipula? Alguma inteligência superior? A simples força do sistema? Olha que insanidade: você mesmo detém todo o controle sobre as tuas próprias mediocridades. E ainda tem coragem de culpar o mundo! Mas tudo bem, você precisa acreditar que esses ideais são reais. Precisa acreditar que são teus. Se não, o chão debaixo do teu pé desaparece. E aí fica impossível viver. É importante até, que eu acredite nessa insanidade toda, pra achar que detenho uma parcela ainda que ínfima da verdade, quando, na verdade, eu não sei mesmo é de nada. Que nem você. E qualquer outra pessoa, também.
   É importante acreditar. Não mais importante que tudo, mas é importante. A questão é: no que eu acredito? Enquanto não descubro, vou cantar, que é pra ninguém - nem eu, principalmente eu! -perceber que pairam interrogações ao meu redor. Ou meditar, que nada mais é que cantar em silêncio. Nesse canto em silêncio residam, talvez, minhas maiores verdades. Já que eu não tenho que dizer que sou isso ou aquilo pra ninguém. Eu simplesmente exerço meu dever e meu direito de ser, e isso basta.

"I gotta have my bite, sir"

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Penseira

saussure, durkein, freud, damatta
intertextual, semiótica , prazo de entrega
ramatis
rfn, greve docente
DCE, politicagem escrota, manipulação

medo

assembleia, confusão, greve estudantil
eu num lindo esquife familiar

comodismo

ativismo
feminismo
vegetarianismo
ismos
bandeiras
obsessão
religião
amor
família
amigos
saudade

Marani
paz

Branca de Neve
Ariel, Feiosa
standing, elenco principal
dá o texto. DÁ O TEXTO!
é melhor desafio ou conforto?
é melhor estar vivo
do que se fingir de morto
texto pra decifrar
texto pra decorar
tempo hábil há de haver
se eu souber aproveitar

"Tô com saudade do beijo e do mel..."
Será?
Tantos "serás?"...
Será que serão?

E o futuro, José?
E o presente, me presenteará?
Como será o amanhã?
E hoje, como será?

Chega, por hoje! Não quero!
Não quero, não devo, não posso pensar.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Marchando em corda bamba


   Um carro bateu num poste aqui, em frente a minha casa, do outro lado da rua. Fez um estrondo. A gata se assustou e ficou me olhando feito criança. Minha mãe disse que eu não olhasse pela janela pra não me impressionar: a mulher que estava no volante ficou com a boca toda ensanguentada. Parecia sério. Dali a pouco, tinha uma meia dúzia de pessoas em volta da mulher a ajudando a se acalmar, a lembrar de ligar pra alguém que pudesse socorrer, e dali a mais um pouco, minha mãe estava lá embaixo, também, levando um saquinho com gelo e uma toalhinha. "Não aconteceu nada com os dentes, só sangrou o lábio, mesmo", disse-me a doutora, ao voltar pra casa.
   Depois, nego vem me dizer que brasileiro é isso e aquilo, e não entende porque eu fecho a cara. Depois, nego vem dizer que a gente é ingrato e gosta de viver trancafiado, se solitarizando. Mas não foi desamparada que aquela mulher ficou, depois do incidente. Não eram amigos de infância, sequer conhecidos, nenhum daqueles que foram socorrer àquela mulher, provavelmente atordoada com o acontecido. Então, falemos de flores! Agradeçamos a nós mesmos pela chance que incidentes como estes nos dão de provarmos que sermos humanos é motivo de orgulho.
   Ultimamente, tenho prestado muita atenção no que dizem aqueles que se auto intitulam ativistas, seja seu ativismo relacionado ao vegetarianismo, ao feminismo, ao aborto, à maconha, à religiões, ou qualquer outra bandeira que dê pano pra manga suficiente pra horas de conversa, sem que ninguém chegue a nenhuma conclusão brilhante o suficiente capaz de mudar alguma coisa, de fato. Mas, bem, já cheguei à conclusão que essas discussões, por mais infrutíferas que sejam na maioria das vezes, são extremamente necessárias pra que a nossa opinião não envelheça bitolada, fazendo tricô numa cadeira de balanço, ignorando o caos que cresce em volta. Enfim, presto muita atenção às mil opiniões que me cercam sem saber bem qual é a minha. Continuo procurando... E, embora - por não saber qual - não carregue bandeira nenhuma, já me arrisco a chegar perto de algumas. Começo a dialogar com certas ideologias que há pouco me pareciam ridiculamente exageradas.  Lendo o Feminerds eu concretizei minha ideia de que é só prestar um pouquinho de atenção nestes ativistas que a gente critica, pra ver que eles nunca estão totalmente errados (atenção: não me refiro a sociopatas, fanáticos, afiliados ou simpatizantes da Ku Klux Klan nem nada do tipo. Falo de gente que luta pela morte de preconceitos que só fariam bem à nossa sociedade tão mediocrizada e tão passiva perante essa mediocrização). Talvez, esses ativistas sejam mais incisivos do que a sociedade gostaria que fossem, mas não sem motivo pra tal. Afinal, cê já se deu conta de como está o mundo que a gente vive, né? Retiro tudo que eu já disse contra a marcha das vadias, por exemplo, profundamente envergonhada. Não me considero feminista - nem ativista, de modo geral -, mas entendo perfeitamente quem bate no peito pra dizer que é. Pensando nisso, gostaria de remeter esse singelo presente à sociedade:

Caro Patriarcalismo,

Se eu vou saber cuidar de casa,
Lavar louça, cozinhar, pregar botão,

Se eu vou querer me apertar em roupa,
Me maquiar, passar perfume, fazer nail art,

Se eu acreditar que posso
(E posso)
Mudar o que vejo de errado sendo ensinado na cara de pau em plenas salas de aula,
Mudar o conceito bitolado de arte que paira na mente da maior parte das pessoas que conheço,

Se eu for desafiar tua moral hipócrita,
Beijar homem, beijar mulher,
Não beijar homem, não beijar mulher,
Dizer sim, dizer não, não dizer,
Preferir água ou álcool,
Ter filho, não ter filho,
Falar palavrão, não falar palavrão,

Vai ser porque eu acho certo ou porque eu acho errado.
Não porque tuas tradições preconceituosas mandaram
Nem porque eu to a fim de te fazer cosquinha por falta de melhor coisa pra fazer.


Pegando a haste pra levantar bandeira,

Mulher.
Mulher que se livrou do teu arquétipo,
Mas não abre mão de salto alto e um bom batom
E não entra em briga se não for pra ganhar ou sair derrotada com orgulho de ter tentado até o fim
E ainda assim,
Deixando uma semente plantada na cabeça dos que sobreviverem pra seguir lutando.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Rima pobre em linha reta

   Quem muito sente, quase sempre é reticente. E geralmente, dá a entender que é indiferente. Mas quem se sente desprezado internamente, deve tratar de externar logo o quanto sente. Pra finalmente, tal qual um sol reluzente, olhar pra frente: nunca atrás!
   Não se lamente. Diga ao espelho que quer ser bem diferente. E vá à luta. Corra atrás. Não se apoquente... Tome as rédeas desse momento presente, e não coloque culpas suas noutra gente. Faça poesia, ria, dance, cante, invente. Não espere que o pra sempre venha de repente. Não queira a lua mascarada em sol poente. Vê que as respostas moram bem na tua frente. E nunca titubeie em ser um tanto quente. Temperatura alta é boa a corpo e mente.

Quem muito sente quase sempre é reticente

(...)

- Então você ta sozinha me esperando?
- Tipo isso...

(...)

   Mas aquela réplica não acabava ali. Devia ter continuado: "'tipo isso' não quer dizer "exatamente isso", ta bom?" Esqueci de mencionar algumas coisas que tem relevância (além da parte relevante que você já sabe: o esforço cada vez menos monstruoso que eu ainda faço pra virar minhas páginas, exatamente do jeito que todo mundo disse que ia acontecer, se eu desse tempo ao tempo). Me esqueci de falar de mini-sentimentos por alguém que você não conhece. Sentimentos tão mínimos que sequer me lembrei da existência deles, enquanto meu raciocínio se atordoava com a tua lábia mais uma vez... Mini sentimentos dedicados involuntariamente a alguém que sequer sabe da existência desses mini-sentimentos. A alguém que talvez, no fundo, seja só um plano B, uma rota de fuga pro meu ego caso aconteça o que você deixou claro que pode acontecer. Ah, e que eu sempre soube que podia acontecer, mesmo sem você deixar claro. Mas é justo que você fale sobre isso, mesmo que nós, agora, pairemos no espaço (ao menos, aparentemente) sem fim das expectativas que tem receio de se tornarem (mais) frustrações. Coração calejado corre até da sombra do amor.
   Outra observação importante é: eu não to te esperando. Quem espera é protagonista submissa de filme antigo. Ta certo que você conhece meu lado mais fraco, mas fica alerta. Existem adagas e armaduras aqui dentro, e você não vai querer testar minha habilidade ao usá-las. Tenho uma facilidade inata pra me importar menos em machucar quem usa calças do que quem usa saias. Não se esqueça disso. E se for pra falar de filme antigo, sabe a Scarlett? Sou mais essa aí que qualquer Branca de Neve desenxabida. Só aquele diretor, mesmo, pra achar que eu presto pra Branca de Neve. 
   Tss. Esse blog ta virando diário, e meu diário ta colecionando teias de aranha. Mas dane-se. Meu coração quer falar, e a caneta ta mais longe que o teclado. Meu coração quer te falar muitas palavras, mas sabe que todas as palavras que são filhas da força se resumem numa sentença: não me subestime.

(Pelo amor de deus - se alguém leu esse post - ignore. Isso devia ter menos metáforas, mais nomes e estar escrito no meu diário. Mas eu to com uma preguiça sincera de ir até a cama, levantar o travesseiro e pegar o caderno. E já que escrevi, só me resta postar).

sábado, 9 de junho de 2012

À Amanda

À mando dos deuses,
Nasceu como a vês:
Exige do espelho
Resposta aos porquês

Não vê diferença
Entre o dia e a noite,
Entre o amor e a poesia,
Entre a sorte e o açoite

Requer dicionário,
Manual de instrução
E um pouco de sorte
Pra compreensão

Em cima do palco
É que desata os nós
Mais bem amarrados
Pelo seu algoz

Algoz, o espelho.
Qual outro, afinal?
Gêmeo obrigatório
Do bem e do mal

A mão dos poetas
Lhe inspira, talvez,
A ser a tal musa
Que inspira esses reis

Mas caso a mandam
A cabeça baixar,
Decerto, em seguida,
Um brado virá

E a que antes inspirou
Um poeta a escrever
Rouba-lhe tinta e pena
Pra sair a viver,

A criar suas linhas,
A fugir do pesar,
A querer ser rainha
Do poetizar

E o mundo, a mando
De sua mão - Será?
Se irmanará em arte
Se amandará

quinta-feira, 7 de junho de 2012

O tempo



Há em sua alma
O amor triste-feliz
Há na sua calma
Euforia por um triz

Mora nos seus olhos
Um pedacinho do céu
Moça vira as costas
E o rapaz tira o chapéu

Vem com a vontade
De tudo fazer canção
Vem da tempestade
Tantas lágrimas em vão
Vem de observar
Cada ser (humano ou não)
Vem, veio e virá
Sem motivo e com razão

É chegado o tempo, enfim
É chegado o tempo,
Pelo menos para mim

A poesia tá gritando
Pra sair do papel
E eu grito a poesia
Porque eu sou menestrel

Chegou o arlequim
Tirando a maquiagem
O medo que havia em mim
Morreu pela coragem

Cantando, o arlequim
Desafina a gravidade
E já que a mentira é ruim
Bons ventos trarão a verdade

Menina, há calma
Nos olhos do tempo
Menina, acalma
Os olhos no tempo

Menina, vem, com a vontade
De tudo fazer canção
A calma vem da tempestade,
Tantas lágrimas em vão...
Os olhos vem de observar
Cada ser (humano ou não)
O tempo vem, veio e virá
Sem motivo e com razão

O tempo vem com a vontade
De tudo fazer canção
Os olhos vem da tempestade,
Tantas lágrimas em vão...
A calma vem de observar
Cada ser (humano ou não)
Menina vem, veio e virá
Sem motivo com razão


(Um ps sussurrado, mas enérgico: Feliz aniversário, Thaís. Tudo de melhor pra você hoje e sempre, de todo o coração.)

terça-feira, 5 de junho de 2012

Om mani padme hum

Eu vou
Sem esperar que sim
Nem acreditar que não

domingo, 3 de junho de 2012

Lá vai fumaça

   Ele imitava com a boca os primeiros acordes da música enquanto segurava tortamente o violão, brincando de saber tocar e cantar. "Não chore não, vou cantar pra você", e sorriu um sorriso lindo. Porque ela haveria de chorar? Aquela falta total de talento pra música não o impedia de cantar, e isso a fazia sorrir com a alma. Aquela presença total de talento para um beijo morno e firme a fazia sorrir com o corpo. Ela voltou pra casa pensando em como não era "a mais bonita, a joia perfeita", mas feliz por ter ouvido aquele tanto.
   Com o tempo, de "anjo do céu" a menina virou "bonita", enquanto o menino previa, com bastante poesia, que aquilo ali teria um fim proximamente. Não era difícil de prever, afinal, a menina tinha "esse ar distante assim". Mas é claro que alguém que não tem medo de cantar mesmo sem saber cantar, não tem medo de se declarar mesmo sem saber reciprocidade. "Eu não acredito". Foi exatamente assim que ela respondeu àquele precoce "eu amo você". Não quis com isso dizer que não acreditava no amor dele por ela, e sim que não acreditava no amor por si só. Pode parecer cruel, mas sua resposta foi sincera, e não teve intenção de ser pedra. Mas o fato é que foi, mesmo, uma pedra que lançada na cara do menino, e ele não saberia responder de outra forma que não com poesia. E foi aí que a menina ouviu os versos que a atormentariam pelo resto da vida: "verdes sem esperança, que davam amor sem amar". Como podia alguém dar amor sem amar? Como podia alguém ser entregue sem se entregar? Como ela podia existir, como? Como, se a sua existência e a sua personalidade desafiavam as leis da lógica? Como podia aquela maldição em forma de poesia se encaixar tanto àquela situação? Como podia aquele dia ainda estar tão preso à memória daquela menina tanto tempo depois? Como podia a cabeça da menina ter mudado tanto? "O pior disso tudo", disse o menino, "é que você não fere ninguém de propósito. É natural. Talvez até seja essa a sua missão nesse mundo". Ela o fitou naquele momento. "Fazer os outros crescerem através da dor", completou. "Eu não quero ver você nunca mais", cuspiu palavras a menina. "Você não vai. Pode ter certeza", retrucaram os olhos tristes do menino. E, de fato, os dois nunca mais se viram.
    Porque pensar nisso tanto tempo depois? Ah, a ida fase ultrarromântica daquela menina parecia ter voltado com tudo, fazendo passar um furacão na sua vida. Ela sentou em sua janela, como de costume, e olhou o céu, esperando o condor.